Alta nos preços da commodity pode pausar produção de cacau fino e “quebrar” pequenos empreendedores Bean to Bar do Brasil?
A oferta restrita de cacau continua influenciando as cotações do produto nos terminais de Londres e Nova York. Os preços, que sobem de forma expressiva desde o ano passado, por volta das 11h30 (horário de Brasília) de segunda-feira (26) avançavam mais de 3%. Os problemas na África trazem preocupação ao mercado e acende um novo alerta para a produção brasileira de cacau fino.
Apesar dos intensos investimentos de multinacionais e as atenções do setor voltadas na retomada do Brasil neste mercado, a produção de cacau fino por aqui ainda caminha a passos lentos. A alta nos preços da comoditie, após longo anos de estabilidade é considerada “justa” pelo setor, mas pode trazer novos gargalos para este tipo de produção.
Bruno Lasevicius – presidente da Associação Bean to Bar Brasil, explica que não existe no Brasil a consolidação de um mercado formal para negociação de cacau fino. Nos últimos anos, no entanto, a indústria chocolateira “do grão à barra” têm investido para conseguir matéria-prima de qualidade e garantir que a produção avance. O chocolate “Bean to Bar” é basicamente aquele feito a partir da amêndoa integral do cacau até a barra de chocolate, sem segmentação de processos nem aditivos artificiais de qualquer sorte.
“O mercado de cacau não teve incentivo por pelo menos 20 anos, os preços sempre em um patamar muito baixo e por conta disso, muitos produtores migraram para outras áreas e se mantém o perfil de pequenos produtores no país. O preço era seguro para a grande indústria se manter”, explica.
Durante todos esses anos, essa condição fez com o que produtor se mantivesse na produção do cacau comum, visando sempre as vendas para os grandes nomes do setor, sem pensar em dedicar parte da produção para o cacau fino.
Para conseguir matéria-prima de qualidade, pequenos e médios chocolateiros no Brasil passaram então a agregar valor ao cacau, pagando acima dos preços de Nova York, o que de certa forma impulsionou os negócios no país. Com as altas dos últimos meses, no entanto, o setor agora se vê apreensivo e deve buscar solução junto aos produtores nas próximas semanas.
Um levantamento realizado pela StoneX Brasil mostra, inclusive, que em janeiro enquanto Nova York registrou alta de 60%, na Bahia as cotações avançaram 58,5%.
“Essa valorização é muito justa para o produtor que alguns anos trabalha com preços mínimos, mas é preciso também pensar no futuro, avaliar a “sedução temporária” e não deixar que os avanços dos últimos anos sejam perdidos”, afirma.
Chocolateiros do sistema “Bean to Bar” até o ano passado pagava entre R$ 45 e 50,00 o quilo do cacau fino. O produto tradicional era negociado entre R$ 20,00 e R$ 25,00. Atualmente, os custos avançaram e os pequenos empreendedores podem não conseguir arcar com o custo que está sendo operado entre R$ 60,00 e R$ 70,00, após a valorização em Nova York.
Além da preocupação com essas empresas, existe também o receio da produção de cacau fino sofrer um declínio, já que com o giro de caixa mais rápido e custo mais baixo, o produtor pode passar achar mais atrativo destinar toda área para a produção do cacau tradicional. Os produtos derivados do cacau também registraram alta substancial, a manteiga, antes negociada por R$ 56,00 já é vendida por R$ 100,00, de acordo com Bruno.
“Em um cenário de preços ruins vale mais a pena o produtor receber pelo cacau fino, mas o momento atual pode afastá-lo dessa realidade. Existe uma preocupação muito grande em relação à quebra de empresas bean to bar”, explica.
Além disso, o presidente ressalta a preocupação com o mercado internacional, que vem avançando aos poucos graças as ações de pequenos e médios empreendedores. Focado em buscar soluções, o setor se prepara para uma série de reuniões nas próximas semanas.
Bruno ressalta que é importante que chocolateiros e produtores entrem em acordo para conseguir garantir um cenário positivo para os dois lados, sem deixar com o que produtor aproveite a onda positiva nos preços.
MERCADO DEVE PERMANECER EM VALORIZAÇÃO
De acordo com Leonardo Rossetti, da StoneX Brasil, não há previsão de mudança expressiva para os preços ao menos no médio prazo. Os números de produção comprovam a oferta restrita. No ano passado, Costa do Marfim produziu 36% a menos e Gana registrou uma baixa de 50,6%.
Agravando o cenário, as chuvas nas principais origens produtoras da África continuaram abaixo do necessário no mês de fevereiro, reduzindo ainda mais as expectativas para a safra intermediária de cacau que tem início previsto para o mês de abril na Costa do Marfim, por exemplo.
“O mercado está visualizando o terceiro déficit consecutivo. A Reuters soltou uma pesquisa mostrando que a projeção dos players é de um déficit de 375 mil toneladas na safra atual e alguns já antecipando um quarto déficit na próxima safra”, afirma.
O especialista conta ainda que em Gana – segundo maior produtor depois da Costa do Marfim a safra deve ficar em 40% do que era projetado anteriormente, que era de 820 mil toneladas. “É uma safra bem fraca para os padrões de Gana, mesmo em anos que eles produziram mal”, complementa.
Afirma ainda que o mercado está se posicionando, travando as margens com medo de que os preços continuem aumentando. “Os agentes comerciais estão ampliando posições compradas. A curva futura está invertida, o que mostra essa preocupação com a demanda principalmente no curto prazo e a possibilidade de continuar avançando nos próximos meses. Estavam aguardando, esperando correção nas compras e os comerciais precisaram travar e evitar danos mais críticos ainda”, finaliza.
Fonte:Notícias Agrícolas
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