Delator diz à CPI da Petrobras que corrupção era ‘generalizada’ na diretoria de serviços
EMPRESÁRIO AUGUSTO MENDONÇA NETO DISSE A PF que pagou entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões em propina ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque e que o dinheiro era destinado ao PT; segundo ele, parte da propina era paga por meio de doações oficiais ao partido
BRASÍLIA - A corrupção dentro da Diretoria de Serviços da Petrobras era "generalizada", com a intenção de aplicação de percentual de propina em todos os contratos, segundo o empresário Augusto Mendonça Neto, presidente da Setal Engenharia e executivo da Toyo Setal Empreendimentos. O executivo presta depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras na Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira, na condição de investigado.
Augusto confessou o pagamento de propinas e é um dos delatores do esquema de desvios da estatal investigado na Operação Lava-Jato. Além da delação premiada, a Setal firmou acordo de leniência junto ao Ministério Público Federal (MPF) no Paraná e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O acordo de leniência é uma forma de colaboração da empresa, em troca de alívio em punições como o impedimento de novos contratos com o poder público.
O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), perguntou ao empresário se o ex-gerente da Diretoria de Serviços Pedro Barusco exagerou ao afirmar que a corrupção era "institucionalizada" na estatal. Augusto respondeu:
— Ele tem razão em um sentido: de fato, dentro da Diretoria de Serviços, era generalizado, porque eles queriam aplicar (o percentual de propina) sobre todos os contratos existentes. De fato era uma questão generalizada. Mas, na companhia como um todo, isso não acontecia.
Barusco também é delator do esquema e já foi ouvido pela CPI. A Justiça Federal já repatriou R$ 182 milhões desviados pelo ex-gerente, referente a dinheiro de propina.
A Diretoria de Serviços era da cota do PT. Segundo as delações e as investigações, os desvios ocorreram durante a gestão de Renato Duque, indicado ao cargo pelo partido, mais especificamente pelo ex-ministro José Dirceu. Duque está preso em Curitiba, sob a suspeita de desvios dos contratos na cota do partido.
— Iniciou-se um processo de corrupção, de cobrança, vindo de duas diretorias, de Abastecimento (ocupada por Paulo Roberto Costa na época) e de Serviços. Essas duas diretorias só conseguiram fazer isso porque atuavam em conjunto — afirmou Augusto.
O empresário também confirmou a existência do "clube de empreiteiras", organizado como cartel para fatiar os contratos da Petrobras, e que esse grupo se organizou na década de 90.
— O clube existiu de fato. Foi uma iniciativa das próprias empresas, durante a crise do setor na década de 90. Talvez a grande maioria das empresas mudou de ramo. As empresas decidiram cooperar entre si. O objetivo era criar uma forma de proteção entre elas — disse o empresário.
A ampliação do clube ocorreu a partir de 2004 e 2005, segundo Augusto:
— Houve a entrada de novas empresas, convidadas pela Petrobras para participar das licitações, ou tentando ser convidadas. Esse clube foi ampliado, e aí, sim, com a participação dos diretores (Duque e Costa).
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