Mulher defende enteado que atende pelos dois sexos: ‘Há dias em que ela é Lily e há dias que ele é Jack’
Poeta e casada com uma mulher, a americana Kat Maerz se inspirou na história de Caitlyn Jenner, ex-padrasto da socialite Kim Kardashian — que antes atendia por Bruce — para falar sobre a enteada, que nasceu um menino. Em artigo publicado no Elephant Journal, ela questiona sobre ter que fazer a criança escolher o banheiro que usará, entre outras coisas.
“Ao longo das últimas semanas, eu li um monte de artigos sobre Caitlyn Jenner. Eu também li um monte de comentários, incluindo as pessoas que optam por ainda chamá-la pelo nome, Bruce”, começa ela no artigo.
Kat conta que seu filho é um gênero fluido (uma mistura de masculino e feminino). “Eu não posso chamá-la de transgênero porque, neste momento em sua vida, há dias em que ela é Lily e há dias que ele é Jack. Ela veste roupas de menina, tem as orelhas furadas, adora cantar, ama videogame e é uma das pessoas mais engraçadas que eu conheço”, explica.
“Ela não pediu para nascer desta forma e para lidar com a adversidade da sociedade. Ela não entende quando adultos fazem juízo dela. Eu testemunhei como seus companheiros a tratam: eles perguntam seu sexo e ela afirma que nasceu um menino, mas é uma menina. As crianças dizem ‘ok’ e vão embora, ou dizem: “vamos brincar”’.
Nunca há uma criança que diz algo insultante ou maldoso. Acontece, às vezes, de uma criança ficar bem com isso no início, mas depois muda de ideia, e eu me pergunto de onde vem essa aversão repentina. As crianças não nascem odiando e julgando os outros. Isso é algo que ensinam a elas. Assim como nós ensinamos a andar, falar e ver se vem carro antes de atravessar a rua, nós os ensinamos a odiar.
Nós impomos os nossos próprios valores em nossas crianças. Por que o gênero é uma grande preocupação para este mundo?
Ouvi dizer que as pessoas estavam destinadas a procriar. E as famílias que não podem ter filhos? Ou as que optam por não tê-los? Como a sociedade pode empurrar seu ponto de vista sobre o meu filho?
Por que pensar fora da caixa é tão difícil?
Eu conheci pessoas de todas as fés. Alguns não têm um único problema com o modo como criamos nosso filho. Alguns me dizem que discordam, mas deixam por isso mesmo. Alguns gostam de me dizer para colocar o meu filho no futebol, para que ele possa ser menos afeminado.
Será que diriam isso sobre a própria filha?
Eu quero que meu filho cresça em um mundo onde descobrir qual banheiro usar não seja uma preocupação. As pessoas realmente acham que a foto do vestido vai manter um estuprador ou molestador de criança fora?
Eu quero que ela não precise se preocupar com qual vestiário usará para trocar de roupa, algo que teve de lidar recentemente (ela tem 7 anos de idade). Eu quero que ela saiba que ela sempre será a melhor versão de si mesma, que ela se ame sempre. Eu quero que ela permaneça engraçada, sem fingir ser britânica, escocesa, ou texana. Eu quero que ela seja sempre autêntica.
Eu nunca quero que ela tenha vergonha de seu corpo.
Então, da próxima vez que alguém olhar para Caitlyn Jenner e destituir sua bravura ou compará-la a outra pessoa a quem, a seu ver, é um herói, espero que pensem. Ela não apareceu para ser comparada a veteranos de guerra, sobreviventes de câncer, ou qualquer outra pessoa que teve um desafio a enfrentar. Ela se mostrou para sentir o que é ser autêntica.
Imagine esperar até que você tinha a idade dela para fazer isso?
Por que quando discutimos Bruce Jenner, discutimos sobre sua história olímpica, mas quando falamos em Caitlyn Jenner, discutimos sua beleza, tamanho do peito e aparência?
Nós vivemos em uma sociedade onde sexualizamos as mulheres e masculinizamos os homens.
Lily é a pessoa mais corajosa na minha vida. Ela se levanta todos os dias e coloca suas pequenas saias, sua camisa favorita da My Little Pony, sapatilhas cor de rosa e um bonito grampo de cabelo. Ela salta para fora da porta sem preocupação com o mundo. Ela tem um lugar seguro para viver como ela mesma. Ela pode ser verdadeira com o que sente por dentro e mostrar ao mundo quem ela é.
Aqueles que perguntarem a ela: “Quando você sabia que era uma menina?”. Eu pergunto a você: “Quando você soube do seu sexo? Quando você soube que você era heterossexual? Você nasceu desse jeito”.
Sexo não tem nada a ver com a sexualidade.
Precisamos parar de sexualizar tudo. É conflitante para mim que nós vivemos em uma sociedade onde o sexo nos rodeia. Muitas vezes, o sexo é o que vende. Meu filho ainda acha que os meninos têm piolhos. Seu sexo não tem nada a ver com seu interesse sexual.
Pense antes de julgar. Pense sobre a inocência de uma criança e como sua mente funciona. Pense em como suas palavras, seus olhares, seus pensamentos negativos podem afetá-la.
Às vezes, apenas o olhar fala alto.
Meu filho vai me perguntar em voz alta: “Qual o problema deles?”
A próxima vez que você ver que uma criança pode ser um gênero fluido, apenas diga “olá”. Afinal, se você não tem algo bom para dizer, não diga nada.
Sua mãe não te ensinou isso?
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