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Coluna A Tarde: Pessoa, o homem bomba por Samuel Celestino


Coluna A Tarde: Pessoa, o homem bomba
O empresário baiano Ricardo Pessoa, dono da UTC, empresa que atravessa no momento sérias dificuldades financeiras, posto que já dispensou 15 mil dos 30 mil empregados, era e é considerado uma espécie de espectro da Operação Lava Jato. Pessoa comandava o cartel das empreiteiras. Ao cartel competia decidir qual delas seria a ganhadora das licitações, dos contratos superfaturadas da dilapidada Petrobras. Ou seja, determinava qual faria a corrupção que iria favorecer o próprio cartel, os funcionários da estatal, doleiros e, principalmente, os políticos. O empresário, ora em prisão domiciliar, é no momento considerado um homem bomba.

Somente na última quarta-feira, depois de várias tentativas do próprio Pessoa, temeroso de ser condenado a muitos anos na prisão, conseguiu, a partir da Procuradoria Geral da República, estabelecer um acordo de delação premiada. Certamente um alívio para ele e um terror para muitos políticos poderosos que estão, ou estariam, na sua caderneta particular como beneficiários da corrupção. Como tinha em suas mãos o controle do cartel, passou a ser o homem chave, não somente em relação ao escândalo que quase derruba a petroleira, como certamente dispõe dos nomes dos muitos envolvidos na roubalheira.

Era previsível que ele obtivesse a delação premiada, embora a decisão final caiba ao Supremo Tribunal Federal (STF) especialmente ao ministro Teori Zavascki. Com a concessão da vantagem em troca das denúncias, estabeleceu-se um temor em inúmeros políticos. Por enquanto, alguns, ou muitos, não se sabe ainda, estão distanciados da Operação Lava Jato por só haver indícios envolvendo-os, sem nenhuma outra comprovação de participação na corrupção. Daí alguns nomes só aparecerem episodicamente de passagens nas delações feitas pelos envolvidos no esquema.
      
Não são somente nomes de possíveis corruptos são esperados do novo delator, mas também outras denúncias, entre as quais a suposição de que a roubalheira não acontecia apenas na estatal do petróleo, mas em diversas empresas públicas, dentre elas, que vez por outra é citada, Furnas. Se houver, de fato, segredos que estariam guardados como trunfo por Ricardo Pessoa, o escândalo irá se alastrar alcançando diversos segmentos empresariais que ficarão em maus lençóis. Desse modo não seriam apenas os políticos que estão a tremer com a delação do empresário baiano, mas muita gente que ora ainda passa ao largo do escândalo.
    
O novo delator não começou a falar, mas não demorará a fazê-lo. Na semana passada, quando fora interrogado pelo juiz Sérgio Moro, ele preferiu, por orientação da sua defesa, manter-se em silêncio porque se falasse teria colocado por terra o que ele ansiosamente aguardava: a delação premiada. Mesmo assim, citou alguns nomes que já apareceram no noticiário da mídia, como o secretário de Comunicação de Dilma Rousseff, Edinho Silva, que teria pedido, e obtido, R$ 7,5 milhões para a campanha da presidente nas eleições passadas. Edinho alega que houve a doação, mas de forma legal.
    
Aliás, este argumento passou a ser uma forma de o PT tirar o corpo fora em relação às campanhas políticas, como também acontece nas respostas do ex-tesoureiro João Vaccari Neto nos interrogatórios a que foi submetido. Partiu exatamente daí a decisão do diretório nacional do PT, sob o comando do presidente Rui Falcão, estabelecer como norma que o partido não receberá mais doações privadas.
    
Doação privada, na verdade, significa o famoso jargão dos anos 80 expresso no “é dando que se recebe”. Os empresários doavam às campanhas dos políticos para receber triplicado depois que fossem eleitos. Enfim, é  semelhante ao doar para lucrar. Agora, espera-se o que Ricardo Pessoa irá delatar. Muita gente vai perder o sono.

* Coluna originalmente publicada na edição deste domingo (17) do jornal A Tarde

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