Luis Ganem: Salve o São João da Bahia!! Salve o São João da Bahia.
Uma proposta feita aos deputados estaduais pelos fomentadores da cultura do forró, a respeito do São João da Bahia, trouxe à tona um problema que já vinha acontecendo a um bom tempo de forma silenciosa, mas que agora tomou corpo e se alastrou.
A carta entregue aos legisladores por representantes do ritmo e lida pelo forrozeiro Zelito Miranda, dizia em síntese que nos dias de hoje, o São João estaria sendo tratado como uma mera festa comercial e não como uma tradição. E que isso tem feito com que cultura do forró e os que dela vivem percam espaço, tornando-a uma festa pura e simples. E solicitava que quando houvesse uso de dinheiro público – estadual ou municipal – um percentual da grade musical do evento fosse de direito dos artistas locais, assim como já acontece no Estado de Pernambuco, no período de junho. Com isso, entende a classe artística do forró, as tradições culturais seriam resguardadas, pois os critérios para o mérito trariam especificamente alguns pré-requisitos essenciais, para que o artista pudesse ser enquadrado.
Somente para lembrar, até o começo da década de noventa, as festas de São João no interior da Bahia ainda eram feitas da forma mais tradicional. A maior parte das cidades do interior, principalmente as de médio e pequeno porte, tinham por regra só aceitar na sua grade de atrações musicais – quando as tinha - artistas que representassem o forró e apenas ele. Existia na época, de forma mais incisiva, uma certa resistência em se colocar um produto que não estivesse condizente com a representação junina. A justificativa para tal imposição, era a necessidade de se manter a tradição e seus elementos, coisa que dificilmente aconteceria se outros ritmos sonoros estivessem inseridos na festa. E a coisa não ficava apenas nisso, as cidades literalmente paravam para se preparar para o grande evento (algumas ainda fazem). A economia se voltava totalmente para receber os visitantes, que vinham em sua maioria de Salvador, mas também em muito de outros estados, interessados em conhecer a mais típica festa da Bahia.
Tudo era motivo para um trocado a mais. Dos festivais de quadrilha junina, às barraquinhas de comida típica com seus bolos, canjicas, quentões ou variados licores, chegando até ao aluguel de residências familiares para visitantes, sempre havia um espaço para um complemento da renda familiar.
A modernidade musical, só veio a acontecer no interior, por influência maior da juventude ávida pelas “novidades”, o que deixou os governantes municipais, mesmo que a contragosto, meio que “contra a parede”, e os mesmos se viram “obrigados” a mudar o perfil da grade de atrações das festas juninas, e a abrir espaço para outros movimentos, como os forrós alternativos e as bandas de forró eletrônico, com alguns munícipes inclusive, deixando de lado totalmente as tradições.
Com isso, o espaço do forrozeiro, do autentico forró pé de serra, ficou limitado a poucas cidades e a poucos artistas tradicionais. E por falta de estrutura, ou por brigas internas, deixaram que as bandas eletrônicas em sua maior parte de fora da Bahia, assumissem o espaço vago. Bandas inclusive que trouxeram na sua bagagem uma moderna formação de palco, quando além dos instrumentos tradicionais (zabumba, triângulo e sanfona) implementaram elementos musicais de outros estilos ao seu som, como o naipe de sopro (trompete, trombone e sax) e novos elementos cênicos ao palco como por exemplo, a introdução de corpo de baile (normalmente com sensuais bailarinas) e uma iluminação programada (computadorizada, e ajustada exclusivamente para o repertório do artista).
É também importante ressaltar, que se esses produtos souberam ocupar o espaço hora vago, foi por puro mérito, pois naquele momento de modernização da música no interior, tinham sua estrutura pronta para atender as necessidades de um mercado em largo passo de crescimento. Lógico, dito isso, é importante também entender que o novo sempre foi e sempre será muito bem-vindo. Mas é importante que a cultura também seja preservada, tanto pelo poder público, quanto pelos empresários especializados em produzir festas e creio seja essa a grande reivindicação da classe forrozeira.
Sei, que dos gestores municipais que acolhem eventos privados em seus municípios no período junino, pensando na cultura, uma boa parte só libera alvará de funcionamento para as festas, até as dez horas da noite, com a justificativa que a festa privada, é apenas uma parte das atrações do município, que tem na sua grades de festejos, outras manifestações, como as quadrilhas juninas, o barracão de forró na praça principal, enfim uma cultura local a ser vista e apreciada, e que está à disposição da comunidade local, e dos visitantes.
Nem sempre, quando políticas públicas mudam seu foco, primando por atender e prestigiar sua gente, acaba agradando a todos. O pleito dos forrozeiros ao que entendi, é manter viva a tradição, a cultura, a festa, oficializando um espaço, a ser dado para os que tentam dela viver com dignidade.
Salve o São João da Bahia!!!! Salve o São João da Bahia.
luisganem@bahianoticias.com.br
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