Ter poucos amigos eleva produção de proteína ligada a doenças do coração, diz estudo
Ter
amigos faz bem à saúde. Literalmente. É o que aponta um estudo da
Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que associou o número de
amizades de uma pessoa ao nível da proteína fibrinogênio — que tem
efeito coagulante e, em excesso, pode aumentar a pressão sanguínea e
causar doenças cardiovasculares. Aqueles com menos amigos apresentaram
maior quantidade da proteína. E círculos sociais reduzidos demonstraram
ter, no corpo, impacto semelhante ao do tabagismo.
— Pessoas com
poucos ou nenhum amigo, além de terem tendência à depressão, podem
desenvolver hábitos prejudiciais à saúde, como sedentarismo. Também têm
um elevado índice de estresse, e tudo isso pode fazer com que haja a
produção de substâncias como corticoides, esteroides, adrenalina e
noradrenalina, que têm ação direta na produção de fibrinogênio — diz
Firmino Haag, cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo de São
Paulo.
O fibrinogênio, que normalmente age no corpo quando a
pessoa começa a sangrar, está associado à formação de trombos, que podem
levar a oclusões arteriais, explicou o médico. Além de enfartes e
derrames, o problema pode causar trombos e aneurismas.
Além de parte física, questão emocional
Para
além da questão fisiológica, há uma explicação emocional. A psicóloga
Maura de Albanesi diz que, diante do isolamento, o corpo reage ao medo
de se sentir vulnerável:
— Relações de amizade, familiares ou
amorosas nos dão uma sensação de segurança, de ter alguém que pode
cuidar de nós. O isolamento social traz o medo de, eventualmente, passar
mal e não ter ninguém ali. A ansiedade e a aflição são grandes e afetam
o corpo.
A psicóloga disse que, entre seus pacientes, aqueles com poucos hábitos sociais têm maior tendência a doenças.
—
A doença vem chamar atenção para um cuidado, é a tentativa do
inconsciente de dizer: “Cuide de mim, preciso de alguém”. Mesmo que esse
alguém seja enfermeiro, médico — diz Maura: — Pessoas que se adoentam
demais tendem a achar que os médicos são seus amigos, os procuram
somente para conversar, às vezes.
Procurar uma atividade pode ser a solução
Uma
das conclusões do estudo é que, se de fato existir uma relação entre o
isolamento social, o fibrinogênio e, consequentemente, o enfarte e o
derrame, então, é possível pensar em promover políticas e intervenções
que melhorem as conexões sociais — prevenindo, assim, essas doenças. A
psicóloga Maura concorda com os pesquisadores e dá sugestões:
— A
dica para as pessoas mais sozinhas é procurar grupos que se reúnam para
fazer atividades que lhe agradem. Pode ser desde esportes até trabalhos
manuais ou encontros religiosos.
A especialista alerta, contudo, que pessoas idosas têm mais tendência de se isolar:
—
O idoso brasileiro não se educou para ter lazer. Ele sempre trabalhou e
se sente inútil em sair com os amigos para tomar café. Acha que está
perdendo tempo. Por isso, é tão importante pensar numa atividade. Além
de mais sociáveis, eles vão sentir que estão com o tempo preenchido —
diz Maura, acrescentando: — É preciso saber que o ser humano não nasceu
para ser sozinho.
Nenhum comentário