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Ter poucos amigos eleva produção de proteína ligada a doenças do coração, diz estudo

Círculos sociais reduzidos demonstraram ter, no corpo, impacto semelhante ao do tabagismo
Círculos sociais reduzidos demonstraram ter, no corpo, impacto semelhante ao do tabagismo Foto: Fernando Quevedo / Agência O Globo
Elisa Clavery

Ter amigos faz bem à saúde. Literalmente. É o que aponta um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que associou o número de amizades de uma pessoa ao nível da proteína fibrinogênio — que tem efeito coagulante e, em excesso, pode aumentar a pressão sanguínea e causar doenças cardiovasculares. Aqueles com menos amigos apresentaram maior quantidade da proteína. E círculos sociais reduzidos demonstraram ter, no corpo, impacto semelhante ao do tabagismo.
— Pessoas com poucos ou nenhum amigo, além de terem tendência à depressão, podem desenvolver hábitos prejudiciais à saúde, como sedentarismo. Também têm um elevado índice de estresse, e tudo isso pode fazer com que haja a produção de substâncias como corticoides, esteroides, adrenalina e noradrenalina, que têm ação direta na produção de fibrinogênio — diz Firmino Haag, cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
O fibrinogênio, que normalmente age no corpo quando a pessoa começa a sangrar, está associado à formação de trombos, que podem levar a oclusões arteriais, explicou o médico. Além de enfartes e derrames, o problema pode causar trombos e aneurismas.
Além de parte física, questão emocional
Para além da questão fisiológica, há uma explicação emocional. A psicóloga Maura de Albanesi diz que, diante do isolamento, o corpo reage ao medo de se sentir vulnerável:
— Relações de amizade, familiares ou amorosas nos dão uma sensação de segurança, de ter alguém que pode cuidar de nós. O isolamento social traz o medo de, eventualmente, passar mal e não ter ninguém ali. A ansiedade e a aflição são grandes e afetam o corpo.
A psicóloga disse que, entre seus pacientes, aqueles com poucos hábitos sociais têm maior tendência a doenças.
— A doença vem chamar atenção para um cuidado, é a tentativa do inconsciente de dizer: “Cuide de mim, preciso de alguém”. Mesmo que esse alguém seja enfermeiro, médico — diz Maura: — Pessoas que se adoentam demais tendem a achar que os médicos são seus amigos, os procuram somente para conversar, às vezes.
Procurar uma atividade pode ser a solução
Uma das conclusões do estudo é que, se de fato existir uma relação entre o isolamento social, o fibrinogênio e, consequentemente, o enfarte e o derrame, então, é possível pensar em promover políticas e intervenções que melhorem as conexões sociais — prevenindo, assim, essas doenças. A psicóloga Maura concorda com os pesquisadores e dá sugestões:
— A dica para as pessoas mais sozinhas é procurar grupos que se reúnam para fazer atividades que lhe agradem. Pode ser desde esportes até trabalhos manuais ou encontros religiosos.
A especialista alerta, contudo, que pessoas idosas têm mais tendência de se isolar:
— O idoso brasileiro não se educou para ter lazer. Ele sempre trabalhou e se sente inútil em sair com os amigos para tomar café. Acha que está perdendo tempo. Por isso, é tão importante pensar numa atividade. Além de mais sociáveis, eles vão sentir que estão com o tempo preenchido — diz Maura, acrescentando: — É preciso saber que o ser humano não nasceu para ser sozinho.

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