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Votos pelo impeachment de Dilma devem superar o necessário

Destino de Dilma será decidido hoje
Destino de Dilma será decidido hoje Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS


Maria Lima, Isabel Braga e Letícia Fernandes - O Globo

BRASÍLIA — Na véspera do julgamento que selará o destino da presidente afastada, Dilma Rousseff, e do presidente interino, Michel Temer, oito senadores ainda faziam mistério sobre seus votos no impeachment. Mas os negociadores do governo cravam já terem garantido 59 votos. Dois indecisos, Fernando Collor (PTC-AL) e Acir Gurgacz (PDT-RO), chegaram a discursar na tarde de ontem. O ex-presidente indicando o voto a favor do impeachment, e Gurgacz com um discurso dúbio, com críticas a Dilma e ao governo interino de Michel Temer. Nenhum dos dois, porém, bateu o martelo. Já do lado de Dilma, os aliados ainda faziam tentativas desesperadas de virar votos, mas praticamente jogaram a toalha.
Aliados da presidente afastada Dilma Rousseff calculam ter certos 21 votos contra o impeachment. Toda a movimentação e a conversa com aliados é para chegar a 28 votos e assim evitar que os aliados de Temer consigam os 54 votos necessários para o impeachment. O maior problema, contam, é que muitos senadores que estariam até dispostos a votar contra, não querem correr o risco de apostar e perder. Muitos dependem do apoio político e da máquina do governo para tentar se eleger ao governo ou mesmo para voltar ao Senado.
Os três senadores do Maranhão, que prometem votar unidos, disseram que hoje cedo vão revelar a posição. João Alberto (PMDB), Edison Lobão (PMDB) e Roberto Rocha (PSB) ficaram reunidos até tarde, fora do Senado, mas não anunciaram a decisão.
— Estamos juntos, reunidos, mas ainda não decididos. Amanhã (hoje) cedo anunciamos nossa decisão conjunta — disse o senador João Alberto.
— Os três do Maranhão votam fechados com a gente pelo impeachment. Não é especulação, é informação. Com eles três, mais Hélio José (PMDB-DF) e Wellington Fagundes (PR-MT), chegamos a 59. E Renan também deve votar, pela unificação do partido nesse dois anos de governo Temer — afirmou o líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE).
Na segunda-feira, o ex-presidente Lula deixou as galerias do Senado, onde assistia a defesa de Dilma, para buscar votos. Esteve com o senador Edison Lobão, que foi ministro de Minas e Energia de Dilma, mas a conversa, segundo aliados, teria sido “péssima”. Segundo relatos, Lobão teria dito que não teria como se indispor com o ex-presidente José Sarney, um dos principais caciques do PMDB de Michel Temer.
O capítulo final do impeachment não é visto com otimismo por aliados de Dilma. Parlamentares contaram que trabalhavam com onze senadores que poderiam debandar para o lado do PT, mas, no melhor cenário, contabilizavam a possibilidade de sete deles votarem contra o impeachment. Com isso, poderiam chegar a 28 votos. Apesar dos cálculos e dos apelos do ex-presidente Lula, que passou o dia no Palácio da Alvorada ligando para senadores, assim como Dilma, o clima era de desalento e de pouca esperança. Entre os que foram contatados por Lula, aliados confirmaram telefonemas aos senadores Ivo Cassol (PP-TO), Acir Gurgacz (PDT-RO), Wellington Fagundes (PR-MT), Vicentinho Alves (PR-TO), Roberto Rocha (PSB-MA) e João Alberto (PMDB-MA).
O grupo de Dilma ainda tinha a esperança de virar o voto do senador Cassol. Mas, depois de ouvirem o discurso do senador, que anunciou o voto pelo impeachment, lamentavam o fato de ele ter “fechado a janela” do diálogo com o PT.
— Nunca aceitei achaque, chantagem e acordos inescrupulosos. Era isso que a presidente Dilma deveria ter feito. Se estava sofrendo achaque do presidente da Câmara ou outro parlamentar deveria ter gravado como eu fiz — afirmou Cassol, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a quatro anos e oito meses de prisão por fraude em licitação mas ainda no exercício do mandato.
Pela manhã, o senador Elmano Ferrer (PTB-PI) disse que já votou duas vezes contra o impeachment e que essa é sua tendência hoje. O senador disse que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) pediu que ele votasse a favor do impeachment, mas ele justificou que a maioria dos eleitores que o elegeram são contra o impeachment.
— Quem me mandou para cá foi o povo do Piauí. E é esse povo que quer que eu vote contra o impeachment — disse Ferrer.

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