Votos pelo impeachment de Dilma devem superar o necessário
BRASÍLIA
— Na véspera do julgamento que selará o destino da presidente afastada,
Dilma Rousseff, e do presidente interino, Michel Temer, oito senadores
ainda faziam mistério sobre seus votos no impeachment. Mas os
negociadores do governo cravam já terem garantido 59 votos. Dois
indecisos, Fernando Collor (PTC-AL) e Acir Gurgacz (PDT-RO), chegaram a
discursar na tarde de ontem. O ex-presidente indicando o voto a favor do
impeachment, e Gurgacz com um discurso dúbio, com críticas a Dilma e ao
governo interino de Michel Temer. Nenhum dos dois, porém, bateu o
martelo. Já do lado de Dilma, os aliados ainda faziam tentativas
desesperadas de virar votos, mas praticamente jogaram a toalha.
Aliados
da presidente afastada Dilma Rousseff calculam ter certos 21 votos
contra o impeachment. Toda a movimentação e a conversa com aliados é
para chegar a 28 votos e assim evitar que os aliados de Temer consigam
os 54 votos necessários para o impeachment. O maior problema, contam, é
que muitos senadores que estariam até dispostos a votar contra, não
querem correr o risco de apostar e perder. Muitos dependem do apoio
político e da máquina do governo para tentar se eleger ao governo ou
mesmo para voltar ao Senado.
Os três senadores do Maranhão, que
prometem votar unidos, disseram que hoje cedo vão revelar a posição.
João Alberto (PMDB), Edison Lobão (PMDB) e Roberto Rocha (PSB) ficaram
reunidos até tarde, fora do Senado, mas não anunciaram a decisão.
—
Estamos juntos, reunidos, mas ainda não decididos. Amanhã (hoje) cedo
anunciamos nossa decisão conjunta — disse o senador João Alberto.
—
Os três do Maranhão votam fechados com a gente pelo impeachment. Não é
especulação, é informação. Com eles três, mais Hélio José (PMDB-DF) e
Wellington Fagundes (PR-MT), chegamos a 59. E Renan também deve votar,
pela unificação do partido nesse dois anos de governo Temer — afirmou o
líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE).
Na segunda-feira, o
ex-presidente Lula deixou as galerias do Senado, onde assistia a defesa
de Dilma, para buscar votos. Esteve com o senador Edison Lobão, que foi
ministro de Minas e Energia de Dilma, mas a conversa, segundo aliados,
teria sido “péssima”. Segundo relatos, Lobão teria dito que não teria
como se indispor com o ex-presidente José Sarney, um dos principais
caciques do PMDB de Michel Temer.
O capítulo final do impeachment
não é visto com otimismo por aliados de Dilma. Parlamentares contaram
que trabalhavam com onze senadores que poderiam debandar para o lado do
PT, mas, no melhor cenário, contabilizavam a possibilidade de sete deles
votarem contra o impeachment. Com isso, poderiam chegar a 28 votos.
Apesar dos cálculos e dos apelos do ex-presidente Lula, que passou o dia
no Palácio da Alvorada ligando para senadores, assim como Dilma, o
clima era de desalento e de pouca esperança. Entre os que foram
contatados por Lula, aliados confirmaram telefonemas aos senadores Ivo
Cassol (PP-TO), Acir Gurgacz (PDT-RO), Wellington Fagundes (PR-MT),
Vicentinho Alves (PR-TO), Roberto Rocha (PSB-MA) e João Alberto
(PMDB-MA).
O grupo de Dilma ainda tinha a esperança de virar o
voto do senador Cassol. Mas, depois de ouvirem o discurso do senador,
que anunciou o voto pelo impeachment, lamentavam o fato de ele ter
“fechado a janela” do diálogo com o PT.
— Nunca aceitei achaque,
chantagem e acordos inescrupulosos. Era isso que a presidente Dilma
deveria ter feito. Se estava sofrendo achaque do presidente da Câmara ou
outro parlamentar deveria ter gravado como eu fiz — afirmou Cassol,
condenado pelo Supremo Tribunal Federal a quatro anos e oito meses de
prisão por fraude em licitação mas ainda no exercício do mandato.
Pela
manhã, o senador Elmano Ferrer (PTB-PI) disse que já votou duas vezes
contra o impeachment e que essa é sua tendência hoje. O senador disse
que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) pediu que ele votasse a favor do
impeachment, mas ele justificou que a maioria dos eleitores que o
elegeram são contra o impeachment.
— Quem me mandou para cá foi o povo do Piauí. E é esse povo que quer que eu vote contra o impeachment — disse Ferrer.
Nenhum comentário