Homofobia: Bolsonaros e Felicianos puxam o gatilho
Por: Felipe Pena em
Leia os comentários da foto. Respire. Leia novamente. Vou pular um parágrafo antes de recomeçar.
O
massacre foi em Orlando. Os comentários são de brasileiros. Mas não há
distância quando o assunto é homofobia. Assim como existe uma cultura do
estupro, evidenciada pelos relatos de mulheres que, diariamente, sofrem
violência sexual no Brasil e em várias partes do mundo, também existe
uma cultura da homofobia, cuja evidência não está apenas nos comentários
acima, está na apatia de quem os lê sem indignação, está nos atos
criminosos contra a comunidade LGBT, está na disseminação do ódio feita
por personagens públicos como os deputados Jair Bolsonaro e Marcus
Feliciano.
Se você apoia uma dessas figuras, não se iluda, há
sangue em suas mãos. Na engrenagem da intolerância, o gatilho nunca é
puxado por uma única pessoa. O respaldo social potencializa a raiva,
lustra a arma, coloca a munição.
Mais uma vez, recorro ao
conceito de "narcisismo das pequenas diferenças", explorado por Sigmund
Freud nos textos Psicologia de grupo (1921) e Mal-estar na Civilização
(1930). Para Freud, a civilização, sob o império da lei, é a responsável
pela inibição da agressividade humana, que é uma expressão narcísica do
ego. No entanto, tal narcisismo agressivo rompe a barreira do recalque e
se manifesta publicamente quando incentivado por líderes que se supõem
acima da lei (e, portanto, da civilização) ou quando avalizados por um
grupo que recorre a pequenas diferenças em relação ao outro para
justificar a barbárie.
Os seguidores de Bolsonaro e Feliciano
seguem essa lógica e dão vazão aos recalques narcísicos atacando as
diferenças de grupos que elegem como rivais. Daí a constante referência
agressiva a homossexuais, negros e feministas. Em muitos casos, tal
referência esconde algo ainda mais profundo: um desejo reprimido de ser o
outro. Por isso, considero muito provável a hipótese de que ambos,
Bolsonaro e Feliciano, usem a violência contra grupos LGBT como forma de
reprimir seu próprio desejo homossexual.
No caso do atirador em
Orlando, a polícia já descobriu que ele era frequentador da boate gay e
tinha relações homossexuais frequentes. Tentou-se inventar uma motivação
religiosa para o ataque, mas o fato é que ódio ao próprio desejo foi a
mais provável justificativa para os atos de barbárie que ele cometeu.
Se você concorda com os comentários da foto, só me resta uma pergunta:
Qual é a sua justificativa, (e)leitor?
*
Felipe Pena é jornalista, psicólogo, professor da UFF e autor de 15
livros, entre eles "No jornalismo não há fibrose", e "O verso do cartão
de embarque".
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