Viúvo se despede de médica morta a tiro no Rio
O corpo da médica Gisele Palhares Gouvêa, de 34 anos, morta a tiro numa tentativa de assalto na Linha Vermelha,
na noite deste sábado, foi sepultado sob uma salva de palmas no
Cemitério Jardim da Saudade de Mesquita, na Baixada Fluminense, na tarde
desta segunda-feira. Antes de o caixão ser fechado para ser colocado no
carro da funerária, o cirurgião plástico Renato Palhares deu um úlltimo
beijo na mulher.
- Cadê os Direitos Humanos agora? Vamos pensar
nisso. Gente, vocês da imprensa têm um papel importante. Vocês têm que
divulgar e a gente tem que parar o Rio de Janeiro. Com essa violência
não dá mais. Hoje foi minha esposa, mas amanhã pode ser algum de vocês.
Minha esposa era um anjo. Acho que Deus a levou porque ela era acima de
boa. Ela conheceu Jesus Cristo. Ela era de Nova Iguaçu e gostava
justamente de atender as pessoas do lugar onde foi criada - desabafou
ele, após o enterro.
Ele ainda falou sobre o que considera prioridade para o Rio:
-
A primeira coisa é segurança. Não adianta fazer Olimpíada se a gente
não consegue passar na Linha Vermelha nem na Linha Amarela. E o segundo é
que a imprensa cobre as autoridades. Espero isso do fundo do coração.
Ela (Gisele) deixou amor, ela gostava de tratar de bondade. Não tenho
palavras para dizer o que ela representava.
No
cemitério, alguns estavam com cartazes atribuídos ao "Movimento Vila
Gisele". "Doutora Gisele, os órfãos que aqui ficaram não descansarão até
que a paz volte a viver entre as pessoas do bem. Sua luta não será
esquecida. Lutaremos pela paz e realização de seus sonhos".
-
Nasce agora o movimento pela paz. Gisele pela paz. Gisele contra a morte
dos policiais no Rio. Não podemos nos abater sob pena de vivermos
encurralados em casa. Não podemos perder nossos amigos e nossos irmãos. A
partir de hoje teremos o site "Gisele pela paz" - disse Ornisson
Fernandes, amigo da vítima.
O
carro da funerária que levou o caixão recebeu escolta da Prefeitura de
Nova Iguaçu, também na Baixada, município onde a vítima trabalhava numa
Clínica da Família.
Mais cedo, o viúvo de Gisele, Renato, fez um desabafo e disse que tem vontade de deixar o Brasil.
—
A única opção vai ser sair do país. O país vai ser dominado pelo
criminosos. Se continuar desse jeito, os nossos filhos, os nossos
irmãos, todas as nossas famílias... acontecerá algo com eles — disse
Renato.
Polícia quer refazer trajeto
A
morte da médica está sendo investigada pela Baixada Fluminense (DHBF). A
especializada vai requisitar imagens de câmeras de segurança que
monitoram a Linha Vermelha e a Rodovia Presidente Dutra. O objetivo é
saber se as imagens flagraram a ação dos bandidos que mataram Gisele na
alça de entrada da Linha Vermelha. O delegado titular da DHBF, Giniton
Lages, afirmou que irá refazer o trajeto que a médica percorreu, de Nova
Iguaçu até a entrada da Linha Vermelha.
— Todas as informações
sobre o deslocamento são importantes. Este deslocamento pode trazer
resultados importantes que nós procuramos. A ideia é, a partir do ponto
em que ela deixou Nova Iguaçu, reconstruir todo esse trajeto e vir
coletando o maior número de informações possíveis, informações essas que
vêm através de câmeras de monitoramento de comércios e residências,
para perceber e descartar se ela estava sendo seguida ou não. A partir
disso vamos nos focar no local do evento, que é a Linha Vermelha, onde
também faremos um esforço para tentar localizar câmeras instaladas na
via — diz o delegado, que acrescenta: — Qualquer linha de investigação
será checada, inclusive tentativa de latrocínio.
A
polícia também vai investigar se a médica estava sendo monitorada por
alguém, ou seja, se era perseguida. Parentes da médica também serão
ouvidos, para que a polícia possa traçar o perfil da vítima.
O que
se sabe até agora é que a médica foi encontrada ferida, por policiais
militares, dentro de seu carro, um Ranger Rover. Ainda não se sabe o
número de homens que participaram do crime.
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