Lava Jato vê indícios de cartel em agenda de executivo da Odebrecht
Foto: Reprodução/ Blog do Noblat
Em nova denúncia contra a cúpula da Odebrecht, apresentada à Justiça
Federal na sexta-feira, 16, por corrupção, a força-tarefa da Operação
Lava Jato aponta indícios de cartel na agenda do executivo Márcio Faria,
ligado à maior empreiteira do País. Faria foi diretor da Construtora
Norberto Odebrecht e, segundo os procuradores, era o representante do
grupo no "clube vip" de empresas que apossaram de contratos bilionários
da Petrobras entre 2004 e 2014. Um laudo da Polícia Federal destaca
"linguagem cifrada" na agenda do executivo. Os investigadores observam
que a partir da apreensão de agendas pessoais de Márcio Faria foi
possível encontrar referências, "boa parte das quais em linguagem
cifrada", de encontros do "Clube" ou cartel de empreiteiras. Os
procuradores que subscrevem a denúncia contra o alto escalão da
Odebrecht apontam que "a atuação dos administradores da Odebrecht no
cartel restou comprovada pelas diversas conversas de e-mail apreendidas
pela Polícia Federal" durante a primeira busca e apreensão na sede da
empreiteira, em novembro de 2014. "A forma encontrada pelas empreiteiras
do clube de tornar o cartel ainda mais eficiente, foi a corrupção de
diretores e empregados do alto escalão da Petrobras, oferecendo-lhes
vantagens indevidas (propina) para que estes não só se omitissem na
adoção de providências contra o funcionamento do "clube", como também
para que estivessem à disposição sempre que fosse necessário para
garantir que o interesse das cartelizadas fosse atingido", sustenta a
denúncia. Márcio Faria, o presidente da empreiteira, Marcelo Bahia
Odebrecht, os executivos Rogério Araújo e César Rocha, os ex-diretores
da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque
(Serviços) e o ex-gerente executivo da estatal Pedro Barusco foram
denunciados por suposta propina de R$ 137 milhões em oito contratos com a
estatal, entre 2004 e 2011. A Procuradoria denuncia prática de
corrupção nos projetos de terraplenagem no Complexo Petroquímico do Rio
de Janeiro (Comperj) e na Refinaria Abreu de Lima (RNEST); na Unidade de
Processamento de Condensado de Gás Natural (UPCGN II e III) do Terminal
de Cabiunas (Tecab); da Tocha e Gasoduto de Cabiunas; das plataformas
P-59; P-60, na Bahia. Segundo a denúncia, há na agenda de Márcio Faria,
ainda, uma citação ao operador de propinas Mário Góes. Um dos delatores
da Lava Jato, Mário Góes já foi condenado por corrupção e lavagem de
dinheiro. A denúncia destaca também que o ex-presidente da Camargo
Corrêa Dalton Avancini, um dos delatores da Lava Jato, relatou à
força-tarefa que uma das reuniões do clube de empresas cartelizadas foi
feita na sede da Andrade Gutierrez. Segundo o delator, o encontro
ocorreu em 12 de setembro de 2011, "oportunidade em que provavelmente
foi discutida a participação das empresas do cartel na Tubovias do
Comperj". O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor Paulo Roberto Costa,
ambos delatores, "reconheceram expressamente" que, para as obras da
RNEST e do Comperj, receberam e aceitaram propina, oferecida por Marcio
Faria, afirma a Procuradoria. "As defesas do executivo e dos
ex-executivos da Odebrecht ainda não tomaram conhecimento do inteiro
teor da denúncia e se pronunciarão oportunamente", declarou a
empreiteira ao ser questionada sobre o assunto.
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