Polícia concluiu que pais de criança abandonada no BRT foram executados em tribunal do tráfico
Dois
meses depois de câmeras de segurança flagrarem uma mulher abandonando
uma criança de 3 anos na estação Alvorada do BRT, na Barra da Tijuca, a
Polícia Civil concluiu que, um dia antes da filmagem, os pais do menino,
Nardyne Nunes Dias e Deonir Lima Sales, foram capturados e mortos por
traficantes na favela do Rola, em Santa Cruz, na Zona Oeste. De acordo
com o inquérito da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), ao qual
o EXTRA teve acesso com exclusividade, “na noite do dia 12 de agosto, o
tribunal do tráfico condenou e executou o casal, sob o fundamento de
eles serem X9 (informantes) da polícia”.
Emiliano Vieira da Silva,
o Ben 10, apontado como chefe do tráfico local, foi identificado como
mandante do crime por testemunhas que prestaram depoimento na
especializada. Segundo duas pessoas que compareceram à delegacia,
“Nardyne e Deonir foram mortos por serem X9” da maior milícia do Rio.
Segundo
o pedido de prisão temporária assinado pela delegada Elen Souto, o que
teria motivado a execução foi uma tentativa de invasão de milicianos à
favela no dia anterior ao crime. Ben 10 já teve a prisão temporária
expedida pela Justiça pelo homicídio e está foragido.
A
investigação também concluiu que a mulher que abandonou a criança após a
execução dos pais “prestou um favor ao tráfico”. Ela contou à polícia
que é moradora da favela e que, na noite do dia 12, “um homem armado
bateu na porta da casa, colocou uma pistola em sua cabeça e disse: ‘Pega
essa criança e some com ela daqui’”. Após a ameaça, ela saiu da favela,
passou a noite na casa de uma irmã e, no dia seguinte, deixou o menino
na estação Alvorada. Depois, fugiu para uma favela da Zona Norte e não
voltou mais ao Rola.
A polícia também descobriu que, após o crime,
o tráfico tomou posse da casa onde a família morava, na Rua Marcolino,
dentro da favela. Em depoimento, um parente do casal — que foi ao local
procurar informações sobre o paradeiro de Nardyne e Deonir — relatou que
o próprio Ben 10 afirmou a parentes que queria alugar o imóvel: “Pode
ir lá tirar as coisas para a gente alugar a casa”, teria dito o bandido.
Segundo a delegada Elen Souto, as investigações continuam para
identificar outros traficantes da favela envolvidos no homicídio.
No
dia 13 de agosto, a polícia encontrou dois corpos esquartejados com
serra elétrica dentro de quatro mochilas na Rua Rocha Lima, próxima à
favela. Segundo a delegada, a tatuagem em formato de rosa encontrada num
dos corpos é a mesma que Nardyne tinha. A polícia, entretanto, ainda
aguarda o resultado do laudo de DNA.
Dois meses após o crime, o
filho do casal ainda está vivendo na casa de uma família acolhedora, por
decisão da Justiça. As duas avós da criança brigam pela guarda do neto.
A família não vive mais na favela.
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