Neto descobre avô morto no horário de visita em hospital na Zona Oeste
Eram
15h20m de domingo, 25 de outubro, quando liberaram a visita para os
pacientes que estavam na Coordenação de Emergência Regional da Barra da
Tijuca (CER), anexa ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Zona Oeste
do Rio. Acompanhado da mãe, Maria de Lourdes, Bruno Dias foi conferir
como estava Arnaldo de Noronha Dias, de 88 anos, seu avô, que deu
entrada na manhã do dia anterior e ainda aguardava atendimento. Quando
chegaram à sala amarela, o paciente continuava numa maca, do mesmo jeito
como fora deixado na véspera. Com uma diferença: o aposentado estava
com o corpo gelado e levemente rígido.
— Vi na hora que meu avô
estava morto. Ele estava contorcido na maca, com o braço pendurado e
duro, como se fosse um animal. Quando toquei nele percebi que o corpo
estava frio. Eu que chamei a enfermeira para avisá-la — conta o
jornalista Bruno Dias, neto de Arnaldo.
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O
aposentado foi levado para a CER às 14h de sábado, 24 de outubro,
depois de sofrer uma convulsão. Após breve atendimento, uma série de
exames foi solicitada: de urina, sangue, tomografia e raios X. Mas 12
horas depois, nenhum resultado tinha sido apresentado.
— Não tinha
como ver o resultado da tomografia, porque não tinha papel para
imprimir nem disquete para gravar. Eu queria levar meu avô para casa,
até que encontrei uma médica, às 2h de domingo. Ela olhou o exame de
sangue e disse que provavelmente meu avô estava com infecção urinária.
Então, ele foi levado à sala amarela, onde eu o encontrei morto no dia
seguinte — relata Bruno.
Após
manifestações de indignação de Bruno, de sua mãe (filha da vítima) e de
outros pacientes que estavam no local, os médicos ainda levaram o corpo
de Arnaldo para uma sala reservada, onde alegaram uma tentativa de
reanimar o aposentado. O atestado de óbito informa que ele morreu às
15h45m, de pneumonia e infecção generalizada. O horário é contestado
pela família, que encontrou Arnaldo já morto às 15h20m. O médico legista
George Sanguinetti explica que se passam algumas horas até que o corpo
do morto fique rígido.
— O paciente encontrava-se gelado porque a
morte já havia ocorrido há algumas horas. Nas três primeiras horas, o
cadáver perde meio grau de temperatura e, da quarta hora em diante,
perde um grau, até atingir a mesma temperatura do ambiente —
acrescentou.
A CER Barra não deu o prontuário médico nem cópia dos
exames à família. Deixou só um email da Secretaria estadual de Saúde
para que os parentes pedissem a resposta oficial, com prazo de 30 dias.
Funcionários reuniram-se com Bruno para tentar convencê-lo de que seu
avô tinha recebido a atenção adequada.
A
Organização Social (OS) RioSaúde, gestora da Coordenação de Emergência
Regional da Barra da Tijuca (CER Barra), afirmou em nota que Arnaldo de
Noronha Dias recebeu todos os cuidados necessários para seu quadro
clínico. E acrescentou que o paciente “infelizmente não respondeu
satisfatoriamente ao tratamento e faleceu no domingo, dia 25 de outubro,
após uma parada cardiorrespiratória, confirmada durante a visita de
seus familiares”.
Para a RioSaúde, Arnaldo morreu depois que a
família chegou para a visita. Mas os parentes do aposentado alegam que
encontraram o paciente morto.
Sobre a demora para o paciente ter
seus exames avaliados pelos médicos, a RioSaúde disse que Arnaldo chegou
debilitado e abaixo do peso ideal à unidade de saúde na tarde de
sábado, com relato de convulsão. “O paciente passou por exames de
raio-x, hemograma e análise de enzimas cardíacas, todos avaliados no
mesmo dia de sua chegada à unidade, apontando diagnóstico de pneumonia,
sendo iniciado tratamento com antibióticos e hidratação com soro”, diz a
nota da OS.
A organização social informou ainda, na nota, que
lamenta o ocorrido e que permanece à disposição da família do paciente
para outros esclarecimentos sobre o atendimento.
‘É uma falta de respeito e de humanidade’
—
Não dá para classificar o que é mais absurdo. Se é uma pessoa de 88
anos esperar 12 horas para que um médico veja seus exames, deixá-lo em
uma maca de um dia para o outro ou liberarem a família para visitar
quando o paciente está morto. É uma falta de respeito e de humanidade
sem tamanho. Depois fizeram cena, chamaram minha mãe e disseram que
infelizmente não conseguiram reanimar meu avô — disse Bruno Dias
Barbosa, repórter do Extra.
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