Em entrevista inédita, Domingos Montagner se declara à mulher e ao irmão
Quis
o destino reeditar a história; tomar, de súbito, o poder de decisão dos
autores de “Velho Chico”. Quiseram as caudalosas águas do Rio São
Francisco abraçar e levar de vez para si aquele que, durante meses,
incorporou a luta pela natureza viva, pela preservação de um povo. Se na
ficção Santo renasceu, não houve milagre que nos trouxesse Domingos Montagner
de volta. Não haverá final feliz aos nossos olhos, embora os índios
reais, que ressuscitaram o personagem da TV, alertem: “Por que estão
querendo trazer a alma dele de volta? Ele nasceu de novo, se tornou um
novo protetor do rio, que estava tão esquecido. Fiquem felizes pela alma
dele, que se tornou um ser de luz. A água não tira a vida, ela dá a
vida”. Ficamos com a saudade do ator excepcional; do homem gentil,
íntegro, admirável. A seguir, uma entrevista que Montagner concedera ao
EXTRA, inédita.
Mergulho profundo
“Sou
paulistano, urbano. Em ‘Cordel encantado’, eu já tinha mergulhado no
universo do cangaço, mas ali era uma fábula. Agora, em ‘Velho Chico’,
estamos representando uma realidade, falando de um rio extremamente
importante para todo o país. São questões geográficas, sociais,
políticas. É um mergulho um pouco mais profundo na vida e nos costumes
dos nordestinos e suas dificuldades. Eu adoro contar histórias, servir à
História. Nada pode ficar à frente disso”.
Personagem de luz
“Santo
é ativo, forte, de luz. Ele toma as rédeas, toca a vida com
propriedade, é ponta de lança. São muitas as relações: com Tereza, com
Luzia, com a mãe, com o irmão, com os filhos; a devoção que ficou pelo
pai. Como esse personagem é capaz de sobreviver a situações tão
impactantes? Esse é um prato cheio para atores ‘esquizofrênicos’, como
eu”.
Muito romântico
“Amor é um sentimento
que não dá pra lutar contra. Quando se estabelece com força, não
adianta. Adoro o romantismo. Minha geração é a das canções com letras
envolventes, delicadas, poéticas. Ter um amor para a vida inteira não é
uma obrigação, mas, quando você o descobre, tem que se entregar. Foi o
que eu fiz, há 15 anos”.
Irmandade
“Tenho
um irmão mais velho, Francisco, tão parceirão quanto Bento é de Santo.
Confio demais nele. Tocamos juntos a nossa história depois da partida
dos nossos pais”.
Orgulho de ser palhaço
“Quando
criança, nunca imaginei que seria ator ou palhaço. Eu queria mesmo era
ser professor, e fui. Também já fui ilustrador, desenho bem desde
moleque. Depois, o teatro e o circo mudaram minha vida. Hoje, digo com
orgulho que sou o Palhaço Agenor. É uma arte muito, muito especial”.
Vilão
“Ia
fazer um vilão em ‘Sagrada família’ (atual ‘A lei do amor’). Só que
houve um remanejamento, e eu achei interessante a proposta, me
entusiasmei com ‘Velho Chico’. Mas ainda quero fazer um malvado, seria
muito bom”.
Assédio
“A princípio eu era
meio arredio, assustado. Mas aprendi que não posso mudar meus hábitos,
me privar de ir a mercado, farmácia, padaria, banco. Prefiro o contato a
me isolar e criar uma atmosfera de deslumbre danosa. Mas sou
resguardado com relação a minha vida particular, não gosto de me colocar
em evidência. As pessoas têm que conhecer o Domingos ator, isso é
suficiente”.
Vaidade
“Eu me cuido bastante
fisicamente. Gosto de me manter ativo, o corpo funcionando, pronto para
correr, pular, andar a cavalo. Cremes, ainda não uso. Já os anéis são
uma mania desde garotinho, tenho uma coisa meio cigana. Por enquanto,
gosto do que vejo no espelho, mas a idade chega pra todo mundo. Quero
fazer sempre papéis que não tenham a ver com beleza. Eu sou um palhaço,
ora! É a antítese do galã”.
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