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Em entrevista inédita, Domingos Montagner se declara à mulher e ao irmão

Montagner: antes palhaço que galã Foto: Roberto Moreyra
Naiara Andrade

Quis o destino reeditar a história; tomar, de súbito, o poder de decisão dos autores de “Velho Chico”. Quiseram as caudalosas águas do Rio São Francisco abraçar e levar de vez para si aquele que, durante meses, incorporou a luta pela natureza viva, pela preservação de um povo. Se na ficção Santo renasceu, não houve milagre que nos trouxesse Domingos Montagner de volta. Não haverá final feliz aos nossos olhos, embora os índios reais, que ressuscitaram o personagem da TV, alertem: “Por que estão querendo trazer a alma dele de volta? Ele nasceu de novo, se tornou um novo protetor do rio, que estava tão esquecido. Fiquem felizes pela alma dele, que se tornou um ser de luz. A água não tira a vida, ela dá a vida”. Ficamos com a saudade do ator excepcional; do homem gentil, íntegro, admirável. A seguir, uma entrevista que Montagner concedera ao EXTRA, inédita.
Mergulho profundo
“Sou paulistano, urbano. Em ‘Cordel encantado’, eu já tinha mergulhado no universo do cangaço, mas ali era uma fábula. Agora, em ‘Velho Chico’, estamos representando uma realidade, falando de um rio extremamente importante para todo o país. São questões geográficas, sociais, políticas. É um mergulho um pouco mais profundo na vida e nos costumes dos nordestinos e suas dificuldades. Eu adoro contar histórias, servir à História. Nada pode ficar à frente disso”.
Personagem de luz
“Santo é ativo, forte, de luz. Ele toma as rédeas, toca a vida com propriedade, é ponta de lança. São muitas as relações: com Tereza, com Luzia, com a mãe, com o irmão, com os filhos; a devoção que ficou pelo pai. Como esse personagem é capaz de sobreviver a situações tão impactantes? Esse é um prato cheio para atores ‘esquizofrênicos’, como eu”.
Muito romântico
“Amor é um sentimento que não dá pra lutar contra. Quando se estabelece com força, não adianta. Adoro o romantismo. Minha geração é a das canções com letras envolventes, delicadas, poéticas. Ter um amor para a vida inteira não é uma obrigação, mas, quando você o descobre, tem que se entregar. Foi o que eu fiz, há 15 anos”.
Irmandade
“Tenho um irmão mais velho, Francisco, tão parceirão quanto Bento é de Santo. Confio demais nele. Tocamos juntos a nossa história depois da partida dos nossos pais”.
Em “Velho Chico”, índios reais salvaram a vida de Santo
Em “Velho Chico”, índios reais salvaram a vida de Santo Foto: Gshow
Orgulho de ser palhaço
“Quando criança, nunca imaginei que seria ator ou palhaço. Eu queria mesmo era ser professor, e fui. Também já fui ilustrador, desenho bem desde moleque. Depois, o teatro e o circo mudaram minha vida. Hoje, digo com orgulho que sou o Palhaço Agenor. É uma arte muito, muito especial”.
Vilão
“Ia fazer um vilão em ‘Sagrada família’ (atual ‘A lei do amor’). Só que houve um remanejamento, e eu achei interessante a proposta, me entusiasmei com ‘Velho Chico’. Mas ainda quero fazer um malvado, seria muito bom”.
Assédio
“A princípio eu era meio arredio, assustado. Mas aprendi que não posso mudar meus hábitos, me privar de ir a mercado, farmácia, padaria, banco. Prefiro o contato a me isolar e criar uma atmosfera de deslumbre danosa. Mas sou resguardado com relação a minha vida particular, não gosto de me colocar em evidência. As pessoas têm que conhecer o Domingos ator, isso é suficiente”.
Vaidade
“Eu me cuido bastante fisicamente. Gosto de me manter ativo, o corpo funcionando, pronto para correr, pular, andar a cavalo. Cremes, ainda não uso. Já os anéis são uma mania desde garotinho, tenho uma coisa meio cigana. Por enquanto, gosto do que vejo no espelho, mas a idade chega pra todo mundo. Quero fazer sempre papéis que não tenham a ver com beleza. Eu sou um palhaço, ora! É a antítese do galã”.

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