Embrapa e Bayer juntam forças contra a principal doença da soja no Brasil
Por Roberto Samora
SÃO
PAULO (Reuters) - A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e a gigante alemã Bayer deram o pontapé inicial para uma
parceria de cinco anos que buscará formas de minimizar perdas provocadas
pelo fungo da ferrugem asiática, a doença mais temida pelos produtores
de soja, a principal cultura do Brasil.
A parceria público-privada
(PPP), que será anunciada formalmente em Londrina (PR), na tarde desta
segunda-feira, visará primeiramente juntar esforços no sequenciamento do
genoma do fungo Phakopsora pachyrhizi, o causador da ferrugem, um
agente mutante que está cada vez mais resistente a fungicidas, elevando
custos de agricultores no país, o maior exportador global de soja.
Num
segundo momento, quando os pesquisadores tiverem todas as informações
sobre a biologia do fungo, eles saberão onde está a resistência do
agente, o que pode permitir a elaboração de fungicidas mais eficazes,
além de dar um norte para o desenvolvimento de sementes mais resistentes
à ferrugem e no futuro, quem sabe, uma soja transgênica com tais
características.
"É uma questão de segurança nacional... A
ferrugem é uma ameaça... E a soja é um dos pilares da nossa economia.
Precisamos preservar isso aí", afirmou à Reuters o fitopatologista da
Embrapa Maurício Meyer.
Os custos gerados pela ferrugem no Brasil
são estimados em 2 bilhões de dólares por ano, considerando despesas com
aplicações de fungicidas e perdas de produtividade. O montante
representa cerca de 7 por cento do valor bruto da produção brasileira de
soja.
E, se nada for feito, a previsão é de que esses custos
aumentem ainda mais, com o fungo cada vez mais resistente a
agroquímicos.
"Seria ótimo continuarmos contando com a eficiência
dos fungicidas, mas, como eles estão perdendo a eficiência, estamos
aumentando as aplicações. Além de aumentar o custo operacional, como não
está eficiente o controle, estamos aumentando as perdas com a doença",
disse Meyer.
"O que antigamente era controlado com duas aplicações
de fungicidas, hoje usamos quatro e não temos a mesma eficiência",
acrescentou ele, lembrando que fungo, se não combatido, pode reduzir a
produtividade de uma lavoura em até 80 por cento.
Com a intensa
aplicação de fungicidas no Brasil, outros fungos também estão ficando
resistentes a agroquímicos pela seleção natural, como o caso do
Corynespora cassiicola, causador da mancha-alvo, que pode reduzir a
produtividade da lavoura de soja em 35 por cento.
A parceria da
Embrapa também prevê pesquisas sobre o fungo da mancha-alvo, com
objetivos semelhantes. "É um outro organismo, mas decidimos colocar no
projeto porque é a segunda doença mais importante, para poder dar uma
solução integrada", comentou o gerente de Desenvolvimento Avançado de
Fungicidas da Bayer, Rogério Bortolan.
"O que almejamos com a
parceria é ir no nível de detalhes, saber por que ocorre a resistência
ao fungicida, por que o fungo perde a sensibilidade a determinados
químicos", disse Bortolan, ressaltando que o sequenciamento do genoma do
fungo permitirá ainda um manejo adequado e "customizado" da lavoura
dependendo da região, com a aplicação do fungicida correto.
GENOMA
O
sequenciamento, importante etapa inicial da pesquisa, envolverá outras
instituições de pesquisa e já começou, quase que simultaneamente à
parceria entre a Embrapa e a Bayer, segundo o fitopatologista da empresa
estatal.
Além da Embrapa e da Bayer, participam do trabalho o
Joint Genome Institute (JGI), do governo dos Estados Unidos, e a Inra,
instituição de pesquisa da França.
A parceria com a Embrapa prevê
que os resultados das pesquisas sejam públicos, permitindo que toda a
comunidade científica desfrute das informações obtidas, mas o gerente da
Bayer acredita que a companhia poderá se beneficiar dos resultados.
"Vamos
sair na frente e vamos manter a nossa missão, vamos ganhar em inovação.
O grande objetivo da Bayer é isso, ir além. Inovar é fazer algo como
uma parceria dessa...", disse ele.
Bortolan acredita ainda que a
empresa poderá eventualmente antecipar uma linha de pesquisa, enquanto
os estudos estão sendo desenvolvidos.
O gerente da Bayer não
revelou os montantes que serão investidos na parceria. Já a Embrapa não
fará aportes financeiros, participando com seus pesquisadores e
estrutura.
A empresa estatal dispõe, por exemplo, de um banco de
dados de fungos desde a safra 2004, quando a ferrugem havia sido
identificada havia poucos anos no Brasil, numa época que o agente da
doença ainda não havia sido exposto aos fungicidas, o que pode auxiliar
nas pesquisas.
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