Governo quer substituir 4 mil cubanos por brasileiros no Mais Médicos
BRASÍLIA
— O governo pretende substituir 4 mil cubanos por brasileiros no
programa Mais Médicos nos próximos três anos. Para isso, extinguiu a
regra que impedia a vinda de formados em países com índice inferior a
1,8 médicos por mil habitantes somente no caso de brasileiros. A aposta é
de que os graduados na Bolívia e no Paraguai — antes barrados pela
restrição — ocupem as vagas dos profissionais enviados por Cuba.
A
bolsa-formação paga a todos os profissionais do programa subirá de R$
10.570 para R$ 11.520, um reajuste de 9% a partir de janeiro de 2017. É a
primeira vez, desde o início do Mais Médicos, há três anos, que há
aumento no valor repassado. Ao anunciar as medidas nesta terça-feira, o
ministro da Saúde, Ricardo Barros assegurou que haverá correção anual da
bolsa com base na inflação.
Sobre a nova regra que permite a
brasileiros formados em qualquer país ingressar no Mais Médicos, o
ministro disse ter dialogado previamente com entidades médicas, que
sempre demonstraram preocupação com a vinda de profissionais graduados
em locais como Bolívia e Paraguai, devido à qualidade insuficiente de
muitos cursos. Isso porque o programa não exige que o médico passe pelo
Revalida, exame de validação do diploma obtido no exterior.
Para
se ter ideia da demanda de graduados desses dois países, 86% dos 561
brasileiros inscritos no edital do programa em andamento, que já traz a
nova regra, têm diplomas bolivianos e paraguaios. A permissão foi
estabelecida por portaria, afirmou Barros, explicando que são critérios
presentes na regulamentação da lei do Mais Médicos, e não no corpo da
legislação que passa pelo crivo do Congresso Nacional.
O ministro
minimizou eventuais críticas sobre a qualidade dos médicos que
ingressarão no programa, enfatizando que eles passam por uma capacitação
em termos de proficiência em português, adaptação ao modelo de saúde da
família e avaliações constantes da população e do governo. Questionado
especificamente sobre os graduados na Bolívia e no Paraguai, ele disse:
—
Estamos confiando na formação dos médicos e que produzirão bons
resultados. Até agora, todos os profissionais que estão aqui no Brasil
têm avaliação bastante positiva.
Ao negar que a diminuição gradual
dos profissionais cubanos no Mais Médicos seja uma orientação do novo
governo de afastamento dos parceiros históricos da gestão petista,
Barros enfatizou que o programa foi "concebido para isso", numa
referência à ocupação de brasileiros ao longo do tempo — com a abertura
de cursos de Medicina no país, que é um braço do programa, e a
consolidação da política de atenção básica em áreas mais periféricas ou
remotas. Ele pontuou que a ordem a partir de agora é priorizar os
brasileiros, na medida em que os contratos dos cubanos, válidos por três
anos e prorrogáveis por mais três, forem vencendo.
— Insistiremos em publicar editais para brasileiros, porque essa é a prioridade da nossa gestão — disse Barros.
Com
a meta de 4 mil substituições traçadas pelo governo para os próximos
três anos, a ideia é chegar em 2018 com maioria brasileira no Mais
Médicos pela primeira vez. Os cubanos, que são hoje 11.400 do total de
18.240 profissionais do programa, passariam a ocupar 7.400 vagas. E os
brasileiros, por sua vez, saltariam de pouco mais de 5 mil postos,
atualmente, para cerca de 9 mil no mesmo período.
Antes dessas 4
mil substituições, porém, haverá cerca de 4 mil reposições, ainda em
2016, de médicos cubanos. O governo brasileiro optou pelos profissionais
daquele mesmo país para evitar uma descontinuidade do serviço, em plena
época de eleição, e tendo em vista que muitos dos médicos que estarão
sendo substituídos, por terem sido os primeiros a chegar, e portanto
estarem com o contrato de três anos vencendo, foram alocados nas áreas
mais remotas. Locais em que o encaminhamento de brasileiros poderia não
ser tão ágil.
Joaquin Molina, representante da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil, afirmou que já existem cerca de
mil profissionais preparados em Cuba para virem para o Brasil ainda
este ano e que outros mil começarão a ser recrutados.
Segundo
Molina, o governo cubano abrirá a possibilidade de prorrogação da
permanência por mais três anos — além dos três anos previstos no
contrato — dos médicos que se casaram ou passaram a viver em união
estável no Brasil. Mas ele não soube informar quantos profissionais
estão nessa situação e disse que será uma tratativa entre Cuba e o
profissional. A estimativa é de que cerca de mil cubanos se casaram ou
tiveram filhos no Brasil.
O ministro da Saúde afirmou que, após
esse período de prorrogação do contrato, não haverá programa de
acolhimento ou qualquer ação direcionada aos cubanos. Eles passariam à
condição de estrangeiros com visto concedido pelo fato de terem se
casado, que só podem exercer a medicina no Brasil caso façam a
revalidação do diploma. O exercício da profissão para formados no
exterior sem a revalidação só é permitida no Mais Médicos.
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