Saiba quantos insetos e pelos de roedor são tolerados nos alimentos que você consome
O
anúncio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há alguns
dias, de que caixas de um lote do extrato de tomate Elefante continham
“fragmentos de pelo de roedor” deixou os consumidores assustados. A
surpresa foi não apenas por terem sido detectados vestígios de
contaminação por rato, ratazana ou camundongo, mas por haver um limite
de tolerância, aceito pelo órgão de fiscalização, de uma quantidade
mínima de pelos de bichos em alimentos e bebidas vendidos no país.
Em
março deste ano, entrou em vigor no Brasil uma resolução da agência
reguladora, que determina até que ponto a presença de matérias estranhas
em certos produtos é permitida. Segundo a Anvisa, é considerado um item
estranho qualquer material que não faça parte da composição do alimento
e que possa estar associado a condições inadequadas de produção,
manipulação, armazenamento ou distribuição.
Em molhos, polpas e
extratos de tomate e ketchup, por exemplo, o consumidor pode ingerir,
sem saber, pedacinhos de insetos e de pelos de roedores. Neste caso, o
limite é de até dez fragmentos de insetos ou um fragmento de pelo de
roedor para cada cem gramas.
— Tenho horror a rato, e imaginar que
posso estar comendo um pelo... Fica difícil fazer macarrão sem molho de
tomate... Lá em casa, fazemos massa ao menos uma vez por semana — disse
a dona de casa Elaine Medeiros, de 41 anos.
Para o taxista Pedro
Paulo Viana, de 47 anos, a Anvisa e a indústria deveriam ser muito mais
rigorosas com a fabricação de bebidas e alimentos.
Risco de doenças existe
Apesar
de o padrão de limite de tolerância estar “entre os mais rígidos do
mundo, se compararmos com países que são referência na regulação de
alimentos”, afirma a Anvisa, para Sidnei Ferreira, presidente do
Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), a legislação
sanitária não deveria tolerar nenhum resquício de insetos ou pelos de
roedores:
— É claro que nenhum tipo de contaminação deveria
acontecer, principalmente por pelo de animais. É inadmissível. Não pode
ter tolerância com a falta de higiene na manipulação e na fabricação dos
alimentos.
O médico alerta que essas matérias estranhas, em determinados casos, podem até causar doenças a algumas pessoas.
—
Dependendo do tipo de contaminação, uma série de doenças pode ser
desencadeada, da mais simples à mais complexa. No caso de pelos de
animais, pode ser de uma simples diarreia até uma hepatite — explicou o
médico.
Suspensão de venda não é novidade
O
caso mais recente de suspensão da venda de um produto por presença de
corpos estranhos acima do limite permitido foi o do extrato de tomate
Elefante, da marca Knorr. Um teste constatou fragmentos de pelo de
roedor acima do limite de tolerância. O lote L6 do produto, fabricado
pela empresa Cargill Agrícola, tem validade até 21 de maio de 2015. A
interdição é por 90 dias. Nesses casos, a fabricante tem o direito de
solicitar a realização da análise de contra-prova para a conclusão do
caso.
Em agosto de 2014, a Anvisa determinou a retirada imediata
de todas as lojas e a suspensão de comercialização do lote 2K04, com
vencimento em janeiro de 2014, do Tomato Ketchup, da marca Heinz. A
medida foi adotada após testes identificarem pelo de roedor no produto
acima do permitido. Seis meses antes, a Proteste já havia detectado o
problema e avisado à Anvisa. A agência, porém, afirmou que não poderia
suspender as vendas, porque a análise não tinha sido feita por um
laboratório oficial. Novos testes feitos no Instituto Adolfo Lutz
confirmaram o problema.
Ainda no ano passado, em maio, a
Secretaria estadual de Saúde do Rio suspendeu a venda e o consumo de
lotes da polpa de tomate natural da marca Predilecta, nos quais foram
encontrados pelos de animais. Os produtos retirados dos supermercados
foram a polpa de tomate natural (lote 390M23SA) e o molho de tomate
refogado (lote L134S/RT).
Em 2012, antes da nova resolução, a
Proteste também notificou a Anvisa sobre a presença de pelo de rato em
três amostras de uvas-passas e castanhas-do-pará sem cascas, à venda em
São Paulo.
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