Em
novo depoimento prestado na Delegacia da Criança e Adolescente Vítima
(DCAV), nesta quinta-feira, a professora Tatiana Mara Araújo, de 39
anos, fez revelações sobre o advogado Roberto Malvar Paz, de 63 — os
dois foram presos, na última quarta, por suspeita de participarem de uma
rede de pedofilia. Segundo ela, Roberto já havia relatado, no passado,
ter feito sexo com uma criança que morava na rua, no bairro do Grajaú,
Zona Norte do Rio, o mesmo onde o advogado vivia e foi preso. Tatiana
afirmou que o comparsa disse ter sido abordado pela menina na porta de
casa, pedindo ajuda e dinheiro, e acabou entrando com a vítima, onde
mantiveram relações sexuais.
— Meu foco de trabalho, até agora,
era fazer com que o meu cliente fosse levado para o estabelecimento
prisional correto, tendo em vista que ele é advogado. Além disso, ainda
não li todas as peças de investigação, tive um contato apenas
preliminar. Ainda é cedo para tecer comentários. Sobre a Tatiana, o
Roberto me disse apenas que foi procurado por ela na condição de
advogado, e que ambos mantiveram somente um relacionamento de advogado e
cliente — alegou o advogado Francisco Ortigão, que representa Roberto.
Ainda
de acordo com as declarações de Tatiana à polícia, Roberto costumava
ficar excitado vendo catálogos de lojas de roupas infantis. Os dois se
conheceram há uma década, quando a professora trabalhava como
prostituta, e mantiveram um relacionamento durante um período. Ela
contou aos agentes que, em 2007, ganhou R$ 100 para levar uma criança a
um encontro com o advogado em um motel — a DCAV acredita se tratar de
uma das primeiras vítimas aliciadas pela mulher.
— Aos poucos,
estamos traçando o perfil de quem são esses dois. Ele é uma pessoa
pervertida, e ela se aproveitava disso para ganhar dinheiro — explicou a
delegada Cristiana Bento, titular da especializada.
Nesta
quinta-feira, Roberto teve a prisão em flagrante convertida em
preventiva pela Justiça do Rio. Ao negar o pedido de relaxamento feito
pela defesa do advogado, o juiz José Mattos Couto justificou a
necessidade de se manter o suspeito sob custódia para a garantia da
ordem pública e por conveniência da instrução criminal, já que a
concessão de liberdade poderia constranger as crianças e seus familiares
a depor em juízo.
“É de altíssima gravidade a conduta imputada
ao preso, não se desconhecendo a existência de fotos verdadeiramente
repugnantes nos autos. O fato de o preso ter o status de advogado, ao
contrário do que deve ocorrer em sua vida social, em muito lhe prejudica
neste momento, já que não se pode conceber que justamente um operador
do Direito se envolva em ilícitos penais de tamanha gravidade”, escreveu
o magistrado.
Diligências em outras creches
As
investigações apontam que Tatiana, professora em uma creche na Baixada
Fluminense, enviava fotografias das partes íntimas dos alunos para
Roberto, que assim escolhia suas vítimas. A polícia já identificou
outros dois estabelecimentos de ensino infantil onde a mulher trabalhou e
fará diligências para tentar identificar outras crianças que possam ter
sido alvo da dupla. Já se sabe, por exemplo, que pelo menos duas
vítimas que aparecem em fotografias apreendidas pela polícia no
escritório de Roberto não estudavam na creche em que Tatiana trabalhava
atualmente, o que pode indicar que os dois agiram em outros locais.
Tatiana
deixou a DCAV no início da tarde desta sexta-feira e foi levada para o
Instituto Médico-Legal (IML), para em seguida ser encaminhada ao
Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste da cidade.
Ela e Roberto devem responder pelos crimes de estupro de vulnerável e
por manter e divulgar material pornográfico envolvendo crianças e
adolescentes.
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