Dois senadores já admitem rever voto pelo impeachment
BRASÍLIA
E RIO — Em meio à crise política que atinge o governo interino de
Michel Temer, que, em 19 dias desde a posse, já teve que afastar dois
ministros flagrados em grampos telefônicos tentando barrar a operação
Lava-Jato, os senadores Romário (PSB-RJ) e Acir Gurgacz (PDT-RO), que
votaram pela abertura do processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff, admitem agora a possibilidade de rever seus votos no
julgamento final, que deve ocorrer até setembro. A virada desses dois
votos, caso se concretize e os demais votos se mantivessem, seria
suficiente para evitar a cassação definitiva da petista. O Senado abriu o
processo de impeachment com o apoio de 55 senadores e, para confirmar
essa decisão no julgamento de mérito, são necessários 54 votos.
Romário
não descarta que os novos acontecimentos políticos provocados pelos
grampos do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, mudem seu voto. O
senador do PSB votou pelo afastamento de Dilma, mas diz que “novos
fatos” podem influenciar seu voto no julgamento definitivo.
— Meu
voto foi pela admissibilidade do impeachment, ou seja, pela continuidade
da investigação para que pudéssemos saber se a presidente cometeu ou
não crime de responsabilidade. Porém, assim como questões políticas
influenciaram muitos votos na primeira votação, todos esses novos fatos
políticos irão influenciar também. Meu voto final estará amparado em
questões técnicas e no que for melhor para o país — disse Romário ao
GLOBO ontem.
No PSB de Romário, no Senado, cresce a tese em defesa
da realização de novas eleições. Esse argumento, de nem Temer nem
Dilma, pode ser usado para reverter votos contra Dilma na Casa. Entre os
líderes dos partidos aliados de Michel Temer, há uma preocupação com os
erros sucessivos e que as crises políticas afetem a votação do
impeachment.
O PT vai usar, na defesa de Dilma na comissão do
impeachment, a conversa de Machado com o senador Romero Jucá (PMDB-RR),
em que o então ministro do Planejamento diz que a aprovação do
impeachment de Dilma poderia “estancar a sangria”. A interpretação é que
o objetivo do impeachment era interromper as investigações da
Lava-Jato, que atinge vários integrantes da cúpula do PMDB.
Já
Acir Gurgacz assegurou a seu partido, segundo o presidente do PDT,
Carlos Lupi, que mudará sua posição e votará contra o impeachment desta
vez. Por conta disso, o Diretório Nacional do PDT adiou ontem decisão
sobre uma punição disciplinar aos senadores do partido. Ainda de acordo
com Lupi, o senador Lasier Martins (PDT-RS) pretende manter seu voto
favorável ao afastamento de Dilma.
— O Acir vai votar contra (o impeachment), ele mandou por escrito — disse Lupi.
Procurado, Gurgacz afirmou que ainda não tem posição fechada:
—
O que eu coloquei é que a admissibilidade (do impeachment) era uma
necessidade, porque a população estava cobrando a discussão. O mérito é
outro momento, estamos avaliando. Entendo que não há crime de
responsabilidade fiscal por causa das pedaladas (fiscais), mas a questão
é mais pela governabilidade, pelo interesse nacional.
O Diretório
Nacional do PDT expulsou ontem o deputado Giovani Cherini (RS) por ter
votado a favor da abertura do processo. Apesar de também terem apoiado o
afastamento de Dilma, outros cinco deputados receberam uma punição
praticamente simbólica, a suspensão por 40 dias.
Parecer da
Comissão de Ética do PDT apontou como agravantes do caso Cherini o fato
de ele ter supostamente feito campanha contra a orientação partidária,
ter tentado virar outros votos no partido, e ter dado declarações a
favor do impeachment.
Foram suspensos os deputados Sérgio Vidigal
(ES), Flávia Morais (GO), Mário Heringer (MG), Subtenente Gonzaga (MG) e
Hissa Abrahão (AM).
— O fechamento de questão é uma coisa, a
decisão sobre quem não cumpriu é outra. É legítima qualquer decisão (do
diretório)— disse Lupi, irritado, ao rebater crítica de um integrante do
partido, que defendia a expulsão dos seis deputados, já que o PDT havia
fechado questão contra o impeachment.
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