Última a buscar soluções, Odebrecht agrava crise e diminui chance de acordos na Lava Jato
Foto: Divulgação / Idea
Há um ano, pouca gente acreditava na possibilidade de prisão do
presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, no âmbito da Lava Jato.
Agora, a maior empreiteira do país enfrenta uma crise agravada pela
demora na busca de acordos de leniência e pela falta de medidas que
mostrem um maior controle de riscos e governança na empresa. Matéria
publicada na edição desta semana da revista Exame mostra que, onze meses
após a prisão de Marcelo, a Odebrecht enfrenta as consequências de ser
uma das últimas a tentar acordos de delação com a força-tarefa que
investiga os desvios feitos na Petrobras. Desde o início da operação,
cerca de 50 executivos de outras construtoras já prestaram depoimentos
ao Ministério Público Federal (MPF), acertando pagamento de R$ 3 bilhões
aos cofres públicos e criando departamentos de controle de riscos.
Primeiras a acertarem delações, Toyo Setal, Camargo Corrêa, Carioca
Engenharia e Andrade Gutierrez já sabem qual será o impacto financeiro
das multas e agora atuam para negociar as dívidas. Enquanto isso,
Odebrecht é o único executivo do alto escalão que continua preso e sua
substituição só foi feita seis meses depois dele ser levado para
Curitiba. A situação se agrava por causa do acúmulo de dívidas. Até o
momento, a empreiteira baiana não conseguiu apresentar seu balanço
consolidado, pois a auditoria PwC se recusa a carimba-lo enquanto não
forem incluídas as previsões das prováveis indenizações bilionárias que a
companhia terá que pagar. Caso a análise não seja publicada até junho,
além da dívida de R$ 100 bilhões, agravada pela receita estagnada com a
crise econômica, a empreiteira pode ter que pagar outros R$ 2,7 bilhões
aos credores. O problema é que, no caixa, só há R$ 25 bilhões intactos.
Enquanto empresas como BTG Pactual e Camargo Corrêa já levantaram
bilhões em venda de ativos, a Odebrecht só conseguiu captar R$ 500 mil
ao abrir mão de uma empresa de pedágio e quatro concessões de
saneamento. E agora que os advogados negociam as delações de dez
executivos da empreiteira, o MPF não parece tão interessado. Na fila, há
ao menos seis outras empresas que querem falar, mas nem todas devem
conseguir grandes acordos a não ser que tragam algo exclusivo. “Hoje
avaliamos que talvez mais um acordo baste. Exigimos que a empresa e os
executivos tragam fatos novos, e não complementos”, explicou Carlos
Fernando Lima, procurador da Lava Jato. No momento em que os
investigadores já não estão tão interessados em qualquer nova
informação, as outras empreiteiras têm pressa. “Não só do ponto de vista
criminal e de imagem, mas também nas questões regulatórias e
creditórias, é melhor a empresa assumir um erro e definir um custo por
ele do que se arrastar num litígio”, avaliou Lima.
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