PT planeja limitar alianças nas eleições municipais
por Vera Rosa e Luciana Nunes Leal | Estadão Conteúdo
Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula
Depois do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o PT quer
promover uma espécie de "volta às origens" e limitar as alianças nas
disputas municipais a partidos do campo de esquerda ou que sejam
contrários ao governo comandado por Michel Temer. A orientação para que o
PT não se una ao PMDB de Temer nas eleições de outubro deve ser
aprovada nesta terça-feira (17) em reunião do Diretório Nacional
petista, a primeira após a abertura do processo de impeachment de
Dilma. Sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
encontro vai se concentrar na ofensiva contra Temer e deixar de lado a
autocrítica. A restrição a parcerias com partidos chamados pelo PT de
"golpistas" foi tratada na reunião desta segunda-feira (16) da Executiva
petista, mas houve dúvidas sobre a viabilidade da medida, uma vez que a
maioria dos antigos aliados do governo Dilma no Congresso votou a favor
do impeachment. Para que o PT não fique isolado nas próximas eleições, a
tendência é que os pedidos de coligação sejam examinados "caso a caso".
A portas fechadas, dirigentes do PT observaram que o partido também
precisa fazer um "balanço de seus erros", e não apenas bater na tecla do
"golpe", se quiser enfrentar a crise e reconstruir sua imagem. A
sugestão foi rejeitada, sob o argumento de que "não é hora de fazer
isso". Mesmo assim, a resolução política a ser aprovada pelo Diretório
Nacional deve listar como equívocos o fato de o partido ter demorado a
reagir - por não perceber o que classifica como "conspiração" do PMDB - e
também as alianças de conveniência, sem dar prioridade a programas.
Além disso, petistas avaliam que deveriam ter cobrado Dilma para que ela
encaminhasse o projeto de regulamentação da mídia. Abatido, Lula ainda
está consultando aliados sobre o tom da oposição a Temer. Em conversas
reservadas, o ex-presidente tem dito que o PT precisa pôr nomes de mais
peso político em sua direção, como os dos ex-ministros Ricardo Berzoini
(Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da
Presidência). Lula também defende um encontro extraordinário do PT, em
novembro, para definir a nova fisionomia do partido, que, nas palavras
de muitos dirigentes, precisa se "reinventar". A proposta de antecipação
das eleições presidenciais foi descartada nesta segunda pelo comando
petista, pois não há acordo para empunhá-la como bandeira, neste
momento. Dividido, o PT ainda está à procura de um rumo a seguir, além
do grito de guerra "Fora Temer". "Mal começou e o governo usurpador
confirma o que já prevíamos. Em sua primeira entrevista (…), o
presidente interino anuncia a disposição de avançar em privatizações, em
rever políticas sociais e de reforma agrária, bem como de acabar com o
multilateralismo da política externa brasileira, retornando à
dependência dos Estados Unidos", escreveu o presidente do PT, Rui
Falcão, em artigo no site do partido. "Num Ministério sem mulheres e
negros, com vários ministros investigados por corrupção, a revogação de
direitos não se resume à reforma da Previdência." O ex-ministro da
Previdência Social Miguel Rossetto chamou Temer de "impostor" e disse
que o PT vai discutir uma política de alianças para as eleições
municipais centrada na "denúncia do golpe" contra Dilma. Rossetto
afirmou, ainda, que as mobilizações contra o novo governo serão
ampliadas. "Temer é um impostor. Vamos fazer ações com o PC do B, o
PSOL, a Frente Brasil Popular, de claro posicionamento frente ao governo
ilegítimo", disse Rossetto. "Nossa política de alianças, a partir de
agora, refletirá o repúdio ao golpe." Embora até Lula considere remota a
chance de Dilma retornar ao Palácio do Planalto, após um afastamento de
até 180 dias, o PT tentará retomar o protagonismo desconstruindo o
PMDB. Na Câmara, deputados afirmam que vão obstruir a votação de
projetos de lei enviados por Temer, mesmo se eles forem semelhantes a
ideias defendidas pelo PT no passado, como a proposta de recriação da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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