Ilan Goldfajn vai para o BC, que pode ganhar autonomia técnica
BRASÍLIA — O economista Ilan Goldfajn foi confirmado, nesta
terça-feira, como o novo presidente do Banco Central, uma das cadeiras
mais importantes da cúpula econômica do governo. O anúncio oficial foi
feito nesta manhã pelo novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em
coletiva à imprensa. O ministro anunciou ainda que a autoridade monetária pode ganhar autonomia técnica no novo governo.
Meirelles explicou que na Proposta da Emenda Constitucional (PEC) que
será enviada ao Congresso Nacional, além de estabelecer a autonomia do
Banco Central, estenderá o foro privilegiado para toda a diretoria da
autarquia. E que Ilan não terá status de ministro.
Segundo
o ministro, enquanto o nome de Ilan não é aprovado pelo Senado Federal,
Alexandre Tombini continua à frente da autoridade monetária. Ele
informou que o futuro presidente do BC está a caminho de Brasília e deve
participar de discussões econômica e debates sobre nomes para a
diretoria do Banco Central.
Ele afirmou que conta com Tombini em outro cargo no governo. Não detalhou, entretanto, qual seria.
— Contamos com Tombini integrando a alta a administração federal, mas em outra função.
Questionado
sobre a mudança prática de estabelecer a autonomia formal do BC, ele
disse que, agora, essa autonomia não estava garantida pela Constituição.
ILAN JÁ FOI DO BC
Meirelles
antecipou a coletiva porque preferiu anunciar sua equipe antes da
abertura do mercado. Aos 50 anos, o economista com mestrado na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e doutorado
pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) Ilan já ocupou uma
cadeira no BC: foi diretor de Política Econômica entre 2000 e 2003, na
gestão de Arminio Fraga. Desde 2009, é economista-chefe e sócio do
Itaú-Unibanco.
No BC, Ilan chegou a trabalhar alguns meses com
Henrique Meirelles, que assumiu a presidência da autoridade monetária no
primeiro governo Lula. Com o ex-chefe, fundou o Instituto de Ensino e
Pesquisa em Economia da Casa das Garças e abriu a Gávea Investimentos. O
economista era o sucessor de Sergio Werlang, responsável pela
implantação do sistema de metas da inflação.
NOVOS INTEGRANTES
Meirelles anunciou ainda que Mansueto Almeida Júnior será o secretário de Acompanhamento Econômico e que o ex-diretor do Banco Central Carlos Hamilton Araújo será o secretário de Política Econômica da Fazenda.
A
nova Secretaria de Acompanhamento Econômico será responsável pelo
estudo da situação das contas públicas, como explicou Meirelles. Segundo
o ministro, Mansueto Almeida vai fazer um diagnóstico das finanças
públicas de modo que o governo possa tomar ações que não tenham que ser
revertidas mais à frente:
— A ideia é que o Mansueto foque sua
atividade principalmente na qualidade e eficiência das despesas
públicas. Ele vai fazer uma análise detalhada das contas públicas, (...)
com medidas que sejam não só eficazes como efetivas. Mansueto vai fazer
uma análise profunda das despesas públicas.
Para a nova secretaria de Previdência Social, que será submetida ao Ministério da Fazenda, Meirelles nomeou Marcelo Caetano,
economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) há quase
20 anos. Foi professor da PUC-Rio e da UFF e coordenador de atuária,
contabilidade e estudos técnicos do Ministério da Previdência Social
entre 1998 e 2005. Em 2012, Caetano assumiu o cargo de coordenador de
Previdência. Segundo Meirelles, uma proposta de reforma da Previdência
será apresentada no prazo de 30 dias.
Já Carlos Hamilton, comentou Meirelles, vai ser o formulador da política que vai fundamentar as ações do governo federal:
—
O Carlos Hamilton vai ser o formulador das políticas macroeconômicas
que vão fundamentar as ações do governo federal. A Secretaria de
Acompanhamento Econômico vai nos dar a base para essa ação.
Segundo Meirelles, o trabalho de ambos será feito o mais rapidamente possível:
— Repetindo o mantra: "vamos devagar que eu estou com pressa".
Meirelles
não anunciou como prometeu o nome dos presidentes dos bancos públicos.
Disse que haverá uma próxima rodada de decisões. Até ontem, era dado
como certo dentro governo o nome do presidente da Infraero, Gustavo do Vale, para o comando do Banco do Brasil e de Gilberto Occhi para a Caixa Econômica Federal.
—
Todos aqueles que não têm substituto permanecem nos seus cargos.
Faremos a avaliação constante desses cargos e nada impede que outras
mudanças sejam anunciadas nos próximos dias ou nos próximos meses. Pode
inclusive ser manutenção dos atuais membros dos próprios cargos —
comentou Meirelles.
No momento, o Otávio Ladeira continua como
secretário do Tesouro Nacional, assim como os demais secretários da
Fazenda. Jorge Rachid continua secretário da Receita Federal, ressaltou o
ministro da Fazenda:
— Aliás é um profissional de grande competência e de grande respeito.
REVISÃO DAS POLÍTICAS ATUAIS
Meirelles
afirmou que a equipe econômica já estuda revisões das políticas atuais
em várias áreas. Citou mudanças em subvenções, subsídios, despesas
diretas e dívidas dos estados com a União. Disse que ainda não tomou uma
medida sobre a possível recriação da CPMF porque precisa terminar de
conhecer os reais números das contas públicas:
— Isso é uma das medidas mais importantes. É prematuro anunciar antes de conhecer os números.
Segundo
ele, a prioridade são o equilíbrio das contas públicas, a
sustentabilidade do Estado, a retomada do crescimento e recriação de
emprego "o mais rápido possível":
— Tudo isso fará com que a retomada da confiança se dê. E eu espero que de forma acelerada.
Meirelles
lembrou que o país já viveu um momento parecido. Ele se referiu ao
início do governo Lula, quando a confiança voltou conforme eram
anunciadas medidas de responsabilidade fiscal. Nessa época, ele era
presidente do BC:
— (Retomada da confiança ) é algo geométrico. É algo que começa devagar e, depois, acelera.
CPMF OU CIDE
O
ministro da Fazenda afirmou, ainda, que não há decisão tomada no
governo sobre a recriação da CPMF ou sobre o aumento da Cide para
reforçar os cofres públicos. Perguntado sobre a possibilidade de o
governo optar por um aumento da contribuição sobre combustíveis para
compensar o fato de que o Congresso não deve aprovar a volta da CPMF,
ele indagou:
— A CPMF não vai ser aprovada?
E depois acrescentou:
— Estamos analisando. Não há decisão tomada nem sobre a CPMF nem sobre a Cide.
IMPEACHMENT
Meirelles
disse ainda que, quando o Senado concluir a análise do processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff, será eliminada mais uma fonte
de incerteza que impacta a economia:
— Independentemente de qual
seja a decisão, é fato que o Senado é soberano e vai tomar uma decisão.
Isso vai eliminar uma outra fonte de incerteza.
Meirelles
acrescentou que o anúncio da nova equipe econômica também elimina uma
fonte de incerteza, assim como a fixação de um prazo de 30 dias para a
apresentação da reforma da Previdência.
REPERCUSSÃO
Em
nota divulgada pelo Banco Central, o presidente atual, Alexandre
Tombini, comentou a escolha de Ilan Goldfajn. O texto aponta sua larga
experiência no setor financeiro e ampla visão de economia nacional e
internacional. "O economista Ilan Goldfajn, indicado para a presidência
do Banco Central do Brasil, é profissional reconhecido, com larga
experiência no setor financeiro brasileiro, ampla visão da economia
nacional e internacional, além de já ter passagem pela diretoria
colegiada dessa instituição. Suas qualidades e sua formação o credenciam
a uma bem sucedida gestão frente à autoridade monetária brasileira",
diz a nota.
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