Breaking News

Ilan Goldfajn vai para o BC, que pode ganhar autonomia técnica

Ilan Goldfajn era o favorito para a presidência do Banco Central
Ilan Goldfajn era o favorito para a presidência do Banco Central Foto: Simone Marinho/24-03-2008 / Agência O Globo
Martha Beck,Gabriela Valente - O Globo

BRASÍLIA — O economista Ilan Goldfajn foi confirmado, nesta terça-feira, como o novo presidente do Banco Central, uma das cadeiras mais importantes da cúpula econômica do governo. O anúncio oficial foi feito nesta manhã pelo novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em coletiva à imprensa. O ministro anunciou ainda que a autoridade monetária pode ganhar autonomia técnica no novo governo. Meirelles explicou que na Proposta da Emenda Constitucional (PEC) que será enviada ao Congresso Nacional, além de estabelecer a autonomia do Banco Central, estenderá o foro privilegiado para toda a diretoria da autarquia. E que Ilan não terá status de ministro.
Segundo o ministro, enquanto o nome de Ilan não é aprovado pelo Senado Federal, Alexandre Tombini continua à frente da autoridade monetária. Ele informou que o futuro presidente do BC está a caminho de Brasília e deve participar de discussões econômica e debates sobre nomes para a diretoria do Banco Central.
Ele afirmou que conta com Tombini em outro cargo no governo. Não detalhou, entretanto, qual seria.
— Contamos com Tombini integrando a alta a administração federal, mas em outra função.
Questionado sobre a mudança prática de estabelecer a autonomia formal do BC, ele disse que, agora, essa autonomia não estava garantida pela Constituição.
ILAN JÁ FOI DO BC
Meirelles antecipou a coletiva porque preferiu anunciar sua equipe antes da abertura do mercado. Aos 50 anos, o economista com mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) Ilan já ocupou uma cadeira no BC: foi diretor de Política Econômica entre 2000 e 2003, na gestão de Arminio Fraga. Desde 2009, é economista-chefe e sócio do Itaú-Unibanco.
No BC, Ilan chegou a trabalhar alguns meses com Henrique Meirelles, que assumiu a presidência da autoridade monetária no primeiro governo Lula. Com o ex-chefe, fundou o Instituto de Ensino e Pesquisa em Economia da Casa das Garças e abriu a Gávea Investimentos. O economista era o sucessor de Sergio Werlang, responsável pela implantação do sistema de metas da inflação.
NOVOS INTEGRANTES
Meirelles anunciou ainda que Mansueto Almeida Júnior será o secretário de Acompanhamento Econômico e que o ex-diretor do Banco Central Carlos Hamilton Araújo será o secretário de Política Econômica da Fazenda.
A nova Secretaria de Acompanhamento Econômico será responsável pelo estudo da situação das contas públicas, como explicou Meirelles. Segundo o ministro, Mansueto Almeida vai fazer um diagnóstico das finanças públicas de modo que o governo possa tomar ações que não tenham que ser revertidas mais à frente:
— A ideia é que o Mansueto foque sua atividade principalmente na qualidade e eficiência das despesas públicas. Ele vai fazer uma análise detalhada das contas públicas, (...) com medidas que sejam não só eficazes como efetivas. Mansueto vai fazer uma análise profunda das despesas públicas.
Para a nova secretaria de Previdência Social, que será submetida ao Ministério da Fazenda, Meirelles nomeou Marcelo Caetano, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) há quase 20 anos. Foi professor da PUC-Rio e da UFF e coordenador de atuária, contabilidade e estudos técnicos do Ministério da Previdência Social entre 1998 e 2005. Em 2012, Caetano assumiu o cargo de coordenador de Previdência. Segundo Meirelles, uma proposta de reforma da Previdência será apresentada no prazo de 30 dias.
Já Carlos Hamilton, comentou Meirelles, vai ser o formulador da política que vai fundamentar as ações do governo federal:
— O Carlos Hamilton vai ser o formulador das políticas macroeconômicas que vão fundamentar as ações do governo federal. A Secretaria de Acompanhamento Econômico vai nos dar a base para essa ação.
Segundo Meirelles, o trabalho de ambos será feito o mais rapidamente possível:
— Repetindo o mantra: "vamos devagar que eu estou com pressa".
Meirelles não anunciou como prometeu o nome dos presidentes dos bancos públicos. Disse que haverá uma próxima rodada de decisões. Até ontem, era dado como certo dentro governo o nome do presidente da Infraero, Gustavo do Vale, para o comando do Banco do Brasil e de Gilberto Occhi para a Caixa Econômica Federal.
— Todos aqueles que não têm substituto permanecem nos seus cargos. Faremos a avaliação constante desses cargos e nada impede que outras mudanças sejam anunciadas nos próximos dias ou nos próximos meses. Pode inclusive ser manutenção dos atuais membros dos próprios cargos — comentou Meirelles.
No momento, o Otávio Ladeira continua como secretário do Tesouro Nacional, assim como os demais secretários da Fazenda. Jorge Rachid continua secretário da Receita Federal, ressaltou o ministro da Fazenda:
— Aliás é um profissional de grande competência e de grande respeito.
REVISÃO DAS POLÍTICAS ATUAIS
Meirelles afirmou que a equipe econômica já estuda revisões das políticas atuais em várias áreas. Citou mudanças em subvenções, subsídios, despesas diretas e dívidas dos estados com a União. Disse que ainda não tomou uma medida sobre a possível recriação da CPMF porque precisa terminar de conhecer os reais números das contas públicas:
— Isso é uma das medidas mais importantes. É prematuro anunciar antes de conhecer os números.
Segundo ele, a prioridade são o equilíbrio das contas públicas, a sustentabilidade do Estado, a retomada do crescimento e recriação de emprego "o mais rápido possível":
— Tudo isso fará com que a retomada da confiança se dê. E eu espero que de forma acelerada.
Meirelles lembrou que o país já viveu um momento parecido. Ele se referiu ao início do governo Lula, quando a confiança voltou conforme eram anunciadas medidas de responsabilidade fiscal. Nessa época, ele era presidente do BC:
— (Retomada da confiança ) é algo geométrico. É algo que começa devagar e, depois, acelera.
CPMF OU CIDE
O ministro da Fazenda afirmou, ainda, que não há decisão tomada no governo sobre a recriação da CPMF ou sobre o aumento da Cide para reforçar os cofres públicos. Perguntado sobre a possibilidade de o governo optar por um aumento da contribuição sobre combustíveis para compensar o fato de que o Congresso não deve aprovar a volta da CPMF, ele indagou:
— A CPMF não vai ser aprovada?
E depois acrescentou:
— Estamos analisando. Não há decisão tomada nem sobre a CPMF nem sobre a Cide.
IMPEACHMENT
Meirelles disse ainda que, quando o Senado concluir a análise do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, será eliminada mais uma fonte de incerteza que impacta a economia:
— Independentemente de qual seja a decisão, é fato que o Senado é soberano e vai tomar uma decisão. Isso vai eliminar uma outra fonte de incerteza.
Meirelles acrescentou que o anúncio da nova equipe econômica também elimina uma fonte de incerteza, assim como a fixação de um prazo de 30 dias para a apresentação da reforma da Previdência.
REPERCUSSÃO
Em nota divulgada pelo Banco Central, o presidente atual, Alexandre Tombini, comentou a escolha de Ilan Goldfajn. O texto aponta sua larga experiência no setor financeiro e ampla visão de economia nacional e internacional. "​O economista Ilan Goldfajn, indicado para a presidência do Banco Central do Brasil, é profissional reconhecido, com larga experiência no setor financeiro brasileiro, ampla visão da economia nacional e internacional, além de já ter passagem pela diretoria colegiada dessa instituição. Suas qualidades e sua formação o credenciam a uma bem sucedida gestão frente à autoridade monetária brasileira", diz a nota.

Nenhum comentário