Fila do SUS para cirurgia de mudança de sexo demora até 12 anos no Brasil
por Isabela Palhares e Juliana Diógenes | Estadão Conteúdo
A modelo Lea T fez cirurgia de redesignação sexual na Tailândia |Foto:Divulgação
Há dois meses, nascia Walleria Suri. Ativista sexual, aos 39 anos
ela afirma que só nasceu, de verdade, após fazer a cirurgia de
readequação sexual. "O maior medo que eu tinha era de morrer antes de
fazer a operação. Era como se eu pudesse morrer antes de nascer de
verdade", diz, depois de ter esperado por cinco anos na fila do Sistema
Único de Saúde (SUS) para fazer a cirurgia. A demora para a realização
do "nascimento transexual" é uma queixa comum entre os que estão na fila
de espera pela cirurgia de redesignação sexual que, segundo relatos,
pode levar, em média, de dez a 12 anos. Bem antes de encarar a fila do
SUS, Walleria conta que enfrentou crises de depressão entre a infância e
a vida adulta. Foi somente aos 34 anos que conseguiu fazer a
transformação: comprou roupas femininas e jogou fora todas as masculinas
do armário: "Apesar do medo, da vergonha e da culpa que eu sentia no
começo, estar finalmente vivenciando uma existência feminina foi tão
libertador, tão compatível com meus desejos, sentimentos e instintos,
que não tive mais dúvida sobre minha natureza. Realmente, eu tinha
nascido mulher com corpo de homem". Os procedimentos para adequação do
corpo de quem não se identifica com o sexo biológico passaram a ser
oferecidos pelo SUS em 2008, mas até hoje só são feitos em cinco Estados
e em uma escala muito menor do que a demanda. No ano passado, foram
feitos 3.440 procedimentos de transexualização em todo o País, entre
cirurgias de redesignação sexual, retirada das mamas, plástica mamária
reconstrutiva (incluindo a colocação de próteses de silicone) e
tireoplastia (troca da voz). Para Walleria, a maior angústia das pessoas
que precisam da cirurgia é não saber quantos anos vão esperar, o que
pode agravar os conflitos emocionais gerados pela "vida segregada que a
sociedade as impõe". Além de terem de conviver com uma aparência física
com a qual não se identificam. "O pênis era a parte do meu corpo que
mais me causou repulsa a minha vida toda", conta. A demora na fila de
espera faz com que muitas transexuais optem por caminhos alternativos e
mais rápidos. Algumas viajam à Europa em busca de trabalho para
arrecadar dinheiro e bancar cirurgias em clínicas particulares. Outras
procuram a Tailândia, país que se tornou referência na readequação
sexual. Há ainda casos extremos: mulheres transexuais que, com nojo do
próprio órgão sexual biológico, deixam de lavar o pênis para que ele
apodreça ou até mesmo recorrem a médicos, clandestinamente, para cortar o
órgão. O Ministério da Saúde informou que, "como o processo é
irreversível", é preciso acompanhamento psicológico por pelo menos dois
anos "para que o paciente tenha certeza de suas vontades". Os
procedimentos ambulatoriais incluem acompanhamento multiprofissional,
além de hormonioterapia, e a idade mínima para se submeter a eles é de
18 anos - e de 21 anos para a cirurgia.
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