Impeachment é ‘maior das brutalidades’, afirma Dilma
Após
ter sido intimada sobre a abertura de processo de impeachment no
Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff fez um pronunciamento de 14
minutos nesta quinta-feira (12) no Palácio do Planalto no qual
classificou a decisão como "a maior das brutalidades que pode ser
cometida contra um ser humano: puní-lo por um crime que não cometeu".
Ela
voltou a classificar o processo de impeachment de “golpe” e afirmou que
não praticou nenhum crime. Disse que o que “está em jogo” é o “respeito
às urnas” e acrescentou que tentam “tomar à força” o seu mandato, que,
segundo ela, é alvo de “sabotagem”.
A abertura do processo de
impeachment foi aprovada no Senado por 55 votos favoráveis e 22
contrários em uma sessão que durou mais 20 horas e terminou por volta
das 6h40 desta quinta. Antes do pronunciamento, Dilma foi intimada da
decisão que a afasta do cargo por até 180 dias. Se julgada pelo Senado
culpada por crime de responsabilidade, será afastada em definitivo e o
vice Michel Temer, que assume desde já, concluirá o mandato até 2018.
“O
que está em jogo no processo de impeachment não é apenas meu mandato.
Está em jogo o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e
a Constituição. O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13
anos, os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às
crianças, os jovens chegando às universidades e escolas técnicas, a
valorização do salário mínimo, médicos atendendo a população, a casa
própria com o Minha Casa Minha Vida”, afirmou Dilma.
O
pronunciamento de Dilma foi acompanhado pelos ministros da sua equipe e
parlamentares de PT e do PCdoB. Ao chegar ao Salão Leste, Dilma foi
recebida com aplausos e aos gritos de "Dilma, guerreira da Pátria
brasileira".
Dilma afirmou em seu discurso que o seu governo foi
sabotado para que, assim, conseguissem “forjar o meio ambiente propício
ao golpe”.
“Meu governo tem sido alvo de intensa e incessante
sabotagem. O objetivo evidente vem sendo me impedir de governar e,
assim, forjar o meio ambiente propício ao golpe. Quando uma presidente
eleita é cassada sob acusação de um crime que não cometeu. O nome que se
dá a isso no mundo democrático não é impeachment, é golpe”, afirmou.
A
petista disse ser inocente e alvo de um processo "injusto". Ela voltou a
dizer que não cometeu crime de responsabilidade e, por isso, não
haveria razão para o processo de impeachment.
"Não tenho contas no
exterior, nunca recebi propinas, jamais compactuei com a corrupção.
Esse processo é frágil, juridicamente inconsistente, um processo
injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. É a maior
das brutalidades que pode ser cometida contra qualquer ser humano
puni-lo por um crime que não cometeu", ressaltou.
Dilma afirmou
ser vítima de uma injustiça e de uma "farsa jurídica". Sem citar
diretamente o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
responsável por deflagar o processo de impeachment, afirmou que o
processo foi desencadeado por nunca ter aceitado "chantagem de qualquer
natureza".
O governo sempre acusou Cunha de abrir o processo em
represália por não ter conseguido apoio do PT no Conselho de Ética, onde
responde a um processo de cassação por quebra de decoro. "Posso ter
cometido erros, mas não cometi crimes", disse Dilma.
A petista
rebateu as acusações a que responde no processo de impeachment
argumentando que fez "tudo o que a lei me autorizava a fazer".
"Os
atos que pratiquei foram atos legais, corretos, atos necessários, atos
de governo. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me
antecederam. Não era crime na época deles e também não é crime agora",
afirmou.
Direitos
Ao ser intimada sobre o processo, Dilma também foi informada sobre o que terá direito enquanto estiver afastada da Presidência.
No
período, ela irá receber salário de R$ 27,8 mil, poderá usar o Palácio
do Alvorada e terá direito a segurança pessoal, assistência saúde, além
de ter à disposição avião, carro oficial e uma equipe a serviço de seu
gabinete pessoal.
Com a abertura do processo, o
Senado passará a colher provas, realizar perícias, ouvir testemunhas de
acusação e defesa para instruir o processo e embasar a decisão final. O
julgamento será presidido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Ricardo Lewandowski, que também comandará a Comissão Processante
do Senado.
O impedimento definitivo da presidente
depende do voto favorável de 54 (dois terços) dos 81 senadores, em
julgamento que ainda não tem data para ocorrer.
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