Janot quer que Gleisi, Paulo Bernardo e empresário devolvam R$ 2 mi
por Gustavo Aguiar | Estadão Conteúdo
Foto: Sul Connection
Em denúncia oferecida ao Supremo Tribunal Federal (STF), o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede que a senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR), seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo
(Planejamento e Comunicações dos governos Lula e Dilma) e o empresário
Ernesto Kugler devolvam R$ 2 milhões aos cofres públicos por
envolvimento no esquema de corrupção revelado pela Operação Lava
Jato. De acordo com Janot, R$ 1 milhão do valor a ser devolvido
refere-se à multa por danos materiais ao erário; a outra metade deve
suprir os danos morais, já que, conforme escreve o procurador-geral da
República, "os prejuízos decorrentes da corrupção são difusos, sendo
dificilmente quantificados". Gleisi, Paulo Bernardo e Kugler são
acusados dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Os termos da
denúncia relacionam o trio a um esquema que desviou R$ 1 milhão do caixa
da Petrobras para financiar a campanha de Gleisi ao Senado em 2010. O
valor foi requisitado por Bernardo ao ex-diretor de abastecimento da
estatal Paulo Roberto Costa e os pagamentos foram feitos com ajuda de
Kugler. Segundo Janot, o valor solicitado por Paulo Bernardo foi uma
barganha para que tanto a senadora quanto o ex-ministro, nomes
importantes nos quadros do PT, apoiassem a manutenção de Paulo Roberto
Costa à frente da diretoria da empresa. O procurador-geral da República
sustenta também que o ex-ministro das Comunicações agia como um
"verdadeiro operador de sua esposa", valendo-se da importância do
ministério que ele ocupava. A abertura do inquérito contra o trio tem
como base a colaboração premiada do próprio Paulo Roberto Costa, o
primeiro delator da Lava Jato. Em seguida, as informações que ele
ofereceu contra Gleisi, o marido e o empresário no acordo com o
Ministério Público Federal foram sustentadas pelo doleiro Alberto
Youssef, que afirmou ter realizado os pagamentos à campanha da
petista. A denúncia de Janot ao Supremo só ganhou forma, no entanto,
após o depoimento prestado em acordo de delação premiada do advogado
Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccin. Embora Gleisi, Paulo
Bernardo e Kugler negassem todas as acusações contra eles, Pieruccin,
que trabalhava como entregador de Youssef, confirmou ter feito repasses
para a campanha da senadora diretamente a Kugler. O advogado afirma que
usava uma caixa lacrada com uma etiqueta onde se lia "P.B./Gleisi". A
quebra do sigilo telefônico dos investigados sustentou o teor das
delações premiadas. Embora negassem contato, Kugler fez 116 ligações
para o PT em um período de quatro meses no período das eleições e outras
29 para o número do responsável pela administração financeira da
campanha de Gleisi. Há também provas de telefonemas feitos diretamente
para a senadora. A análise da denúncia de Janot deverá ser feita pelo
ministro do STF Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte. Se o
ministro considerar haver elementos suficientes contra os acusados, a
senadora, o ex-ministro e o empresário amigo do casal passarão de
investigados a réus. Se condenada, Gleisi perderá seu mandato no
Senado. Responsáveis pelas defesas de Gleisi e Paulo Bernardo, os
advogados Rodrigo Mudrovitsch e Verônica Sterman, rebateram no último
sábado, 7, a denúncia oferecida por Janot ao STF. Em nota, a dupla diz
ter recebido com "inconformismo" a denúncia apresentada pelo Ministério
Público Federal. No caso de Paulo Bernardo, os advogados afirmam que a
acusação criminal se baseia em "declarações contraditórias e
inverossímeis". A defesa de Kugler não foi localizada.
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