Condenado na Lava Jato negociou com Wagner apoio financeiro a Pelegrino em 2012
por Daniel Carvalho e Beatriz Bulla | Estadão Conteúdo
Foto: Correio
Um conjunto de mensagens telefônicas de texto recolhidas pela Lava
Jato revela a proximidade do empreiteiro Léo Pinheiro, da construtora
OAS, com importantes nomes ligados direta ou indiretamente ao PT e ao
governo da presidente Dilma Rousseff: Jaques Wagner, ministro da Casa
Civil, Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, e Aldemir Bendine,
presidente da Petrobras. Os três não são alvos da operação. O conteúdo
das mensagens mostra que o executivo, condenado a 16 anos de prisão,
atuou por interesses dos petistas em episódios distintos. No caso de
Wagner, há negociação de apoio financeiro ao candidato petista à
prefeitura de Salvador em 2012, Nelson Pelegrino, como também pedidos de
intermediação do então governador da Bahia com o governo federal a
favor de empreiteiros. Haddad é citado em uma conversa de Pinheiro com o
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em 2013. Pinheiro cita Haddad para
pedir a Cunha, então relator do projeto da rolagem da dívida de Estados e
de municípios com a União, que aprove a medida. No caso de Bendine, a
Procuradoria-Geral da República vê indícios de que ele tenha participado
de suposto esquema ilícito de compra de debêntures (títulos da dívida)
da OAS quando comandava o Banco do Brasil, em 2011 e 2014. Pinheiro é
conhecido por ter mantido relação de proximidade com o ex-presidente
Lula, a quem se referia como "Brahma". Investigadores colocam sob
suspeita trechos cifrados de conversas que utilizam códigos, apelidos e
supostos endereços que, na verdade, indicam valores pagos, de acordo com
as apurações. Jaques Wagner é identificado como "JW". Os responsáveis
pela investigação acreditam que ele também é o "Compositor", uma
referência ao maestro e compositor alemão Richard Wagner. Nelson
Pellegrino é citado como "NP" ou "Andarilho", em alusão a "peregrino",
trocadilho com seu sobrenome. No 1º turno daquela eleição, ele disputou o
comando da capital baiana com ACM Neto (DEM) e com Mário Kertész (então
PMDB), identificados nas conversas como "Grampinho" e "MK",
respectivamente. No 2º turno, Kertész decide deixar o partido, que
aderiu à campanha de ACM Neto, e apoiar Pelegrino. As conversas
interceptadas revelam negociações envolvendo apoio político de Kertész
ao candidato petista no 2º turno e o pagamento das campanhas. Wagner
aparece como intermediador das conversas. Quando Kertész marcou coletiva
para anunciar sua saída do PMDB, Pinheiro enviou mensagem a Wagner.
"Assunto MK, preciso lhe falar." Um pouco mais cedo, Pinheiro havia
enviado mensagem a Manuel Ribeiro Filho. Investigadores suspeitam se
tratar de possível código para efetuar um pagamento. No texto, o
executivo escreveu: "O endereço que filho me forneceu foi M.K. Street
3.600". A suspeita dos investigadores é de que o número se refira a um
valor pago e a sigla "MK" ao destinatário do dinheiro. Depois, os
executivos da OAS comentam: "O valor é muito alto", em referência ao
número 3.600. Troca de mensagens entre Léo Pinheiro e Cesar Mata Pires
Filho, executivo da empreiteira, mostra que "JW" estaria ciente do apoio
a ser intermediado ao candidato petista. O ministro Jaques Wagner não
respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem até a conclusão
desta edição. O advogado Edward Carvalho, um dos responsáveis pela
defesa de executivos da OAS na Operação Lava Jato, disse que não iria
comentar as informações. Já Mário Kertész afirmou que é amigo de Léo
Pinheiro, mas que não participou de arrecadação para campanha de Nelson
Pelegrino no segundo turno da disputa municipal em Salvador, tendo
oferecido apenas apoio político. Pelegrino foi procurado por meio de sua
assessoria, mas não se pronunciou.
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