Coordenador da Lava Jato prevê pena próxima a 100 anos de prisão para Odebrecht
por Valmar Hupsel Filho | Estadão Conteúdo
Foto: Agência Brasil
Coordenador da força-tarefa que investiga a Operação Lava Jato, o
procurador Deltan Dallagnol disse na manhã desta sexta-feira (22) que,
se somados os crimes em série atribuídos ao empreiteiro Marcelo
Odebrecht, dono da empreiteira que leva seu sobrenome, a pena atribuída a
ele poderia passar dos 2 mil anos de reclusão. Mas, como no sistema
penal brasileiro crimes semelhantes não acumulam penas, a expectativa da
Procuradoria é que o empresário seja condenado a "menos de 100 anos de
prisão". "Se formos somar as penas de todos os crimes em série, por
incrível que pareça as penas somariam de 2 mil anos de prisão", disse o
procurador em entrevista à rádio Bandnews FM. "Mas quando aplicamos a
regra de crimes continuados, porque a pessoa cometeu uma séria de crimes
em sequência, a pena vai para muito menos que isso. A expectativa é que
uma pena inferior a 100 anos de prisão. Estamos fazendo nossas
alegações finais e avaliando isso", afirmou. Marcelo Odebrecht está
preso preventivamente desde junho do ano passado, acusado de pagamento
de R$ 137 milhões em propinas e de atrapalhar as investigações da Lava
Jato. Na entrevista, o procurador rebateu as críticas feitas pela defesa
de Odebrecht, de que teria havido inconsistência entre o que foi
efetivamente dito pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa no
depoimento em que citou o empresário, e o que consta no termo escrito de
suas declarações. Segundo Dallagnol, o depoimento ao qual a defesa de
Odebrecht se refere foi colhido por um procurador que atua junto à
Procuradoria-Geral da República, que investiga casos relacionados a réus
que possuem prerrogativas de foro (foro privilegiado), no início do
processo, quando Odebrecht ainda não era investigado. "O tema da
depoimento registra aquilo que é de interesse para a investigação, no
sentido do que pode gerar de prova no processo de investigação penal.
Não registramos as informações sobre as centenas de pessoas que não
praticaram crime. O depoimento foi colhido quando Marcelo não era
investigado. Não tínhamos nenhuma prova contra ele", disse. O empresário
só foi considerado suspeito em um momento posterior da investigação,
com o aparecimento de novas provas, informou o procurador. Além disso,
afirmou, os vídeos ficaram disponíveis para consulta após o recebimento
da denúncia e, num momento posterior da investigação. A defesa também
teve, afirmou ele, a oportunidade de questionar Paulo Roberto Costa
durante seu depoimento à Justiça e não o fez. "Os vídeos podiam ser
consultados e, no final, a defesa de forma surpreendente diz que não
consultou", disse. "As provas que valem contra alguém são as provas na
Justiça, não são aquelas colhidas lá trás pela polícia ou pela
Procuradoria, mas as provas da Justiça. Paulo Roberto foi ouvido na
Justiça e todos os advogados, inclusive os de Marcelo Odebrecht, tiveram
oportunidade de fazer perguntas a ele e não fizeram", reforçou. Deltan
Dallagnol também rebateu a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, feita na quarta-feira (20). Em entrevista a blogueiros
simpáticos ao PT, Lula afirmou haver direcionamento nas delações para
que houvesse citação em seu nome. "Delação premiada tem que ter o nome
de Lula, senão não adianta", afirmou o ex-presidente na ocasião. "Não
direcionamos delação", disse o procurador. Segundo ele, no próprio
acordo de delação consta o termo de que se o delator mentir pode perder
todos os direitos e ainda ser processado. "Além disso, ninguém é acusado
apenas pela palavra do delator, e sim por provas independentes da
colaboração que apontam as responsabilidades daquela pessoa sobre os
crimes", explicou. De acordo com Dallagnol, uma pessoa só se torna
investigada quando há provas concretas sobre ela. Questionado sobre como
o ex-presidente é considerado pelos investigadores da Lava Jato, o
procurador disse que "as investigações são dinâmicas, mas até agora Lula
não se tornou alvo de nossa operação."
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