Para defesa, Bumlai é isca para fisgar Lula, ‘o molusco cefalópode’
SÃO PAULO — Para os advogados do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo
do ex-presidente Lula, ele tem aparecido nas manchetes sobre o esquema
de corrupção na Petrobras como se fosse “a isca perfeita para fisgar o
peixe”. Ou, “o molusco cefalópode”, como escreveu na peça de defesa o
escritório do advogado Arnaldo Malheiros, fazendo uma referência ao
ex-presidente Lula.
A defesa diz que Bumlai está preso
pelo crime de “ser amigo” de Lula, e a ameaça do pecuarista à ordem
pública é, na verdade, o potencial de “delatar o ex-presidente de alguma
forma”. Lula e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli foram
arrolados como testemunhas de defesa de Bumlai, que foi preso na
Operação Lava-Jato.
O pecuarista admitiu ter feito em seu nome um
empréstimo de R$ 12 milhões para o PT, no Banco Schahin. A dívida não
foi paga e só acabou sendo quitada com propina da Petrobras, depois que o
Grupo Schahin fechou um contrato de US$ 1,6 bilhão com a estatal.
“A
partir de provas de irregularidades na Petrobras, o nome do
peticionário (Bumlai) voltou a aparecer nas manchetes como se fosse ele a
isca perfeita para se conseguir fisgar o peixe (ou melhor, o molusco
cefalópode) que muitos queriam — e ainda querem — na frigideira”,
escreveram os advogados nas alegações finais do processo, acrescentando
que “estão usando a isca errada”.
No documento apresentado ao juiz
Sérgio Moro, os advogados dizem que Bumlai não nega que se “envaidecia
por gozar da companhia e da confiança” de Lula, então presidente da
República e com “índices altíssimos de popularidade”, pois o pecuarista é
“um ser humano, de carne e osso”.
Admitem que que não “foram
poucas as pessoas que se aproximaram dele com terceiras intenções,
pedidos inconvenientes, propostas indecentes”. Dizem que Bumlai jamais
levou os recados para Lula, mas informam que ele não costumava ser
contundente ao negar e que “a dificuldade de dizer não talvez esse tenha
sido seu maior erro”.
Para Bumlai, banco o queria “refém”
Bumlai
alega que aceitou fazer o empréstimo para o PT a pedido de Sandro
Tordin, então presidente do banco Schahin, mas que nunca “soube da
destinação desses recursos”, e não atuou para que o Grupo Schahin fosse
favorecido na Petrobras. Voltou a dizer que tentou quitar o empréstimo,
mas que o banco não aceitou, pois queria mantê-lo na condição de
“refém”, devido à amizade com Lula.
Segundo a defesa, Bumlai nunca
intercedeu junto a Lula ou Gabrielli para ajudar o Schahin. O delator
Fernando Baiano disse que o pecuarista teria se comprometido a falar com
Lula sobre o contrato com a Petrobras. “Ora, se Bumlai podia acionar
diretamente Gabrielli e Lula, porque teria ido pedir ajuda ao Baiano?”,
indagam os advogados.
Bumlai é citado na delação de Salim Schahin,
sócio do banco. Os R$ 12 milhões emprestados foram repassados ao Grupo
Bertin, que informou à Justiça não saber para onde foi o dinheiro. O
pecuarista argumenta que não se beneficiou da amizade com Lula. A defesa
diz que ele era bem-sucedido, dono de mais de 120 mil cabeças de gado,
mas foi à bancarrota porque aplicou seus recursos no setor
sucroalcooleiro e o governo segurou o preço da gasolina, prejudicando a
venda de etanol. “Desde que sua amizade com o ex-presidente (por quem,
diga-se de passagem, nutre admiração, afeto e respeito) se tornou
notória, sua situação financeira só degringolou”.
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