Ícone da Lava Jato, ‘japonês da Federal’ vira máscara, boneco de Olinda e dá autógrafo: ‘Sou parte da engrenagem’, diz policial
De
coadjuvante, Newton Hidenori Ishii tornou-se um dos personagens
principais da crônica política no Brasil. Chefe do Núcleo de Operações
da Polícia Federal de Curitiba, o agente foi fotografado escoltando
Marcelo Odebrecht, Nestor Cerveró, entre outros políticos e empresários.
Desbancando delegados, procuradores e até o próprio juiz Sérgio Moro no
quesito popularidade da Operação Lava Jato, o "japonês da Federal"
inspirou marchinhas pelo país, máscaras de carnaval e ainda emprestou o
rosto para o boneco de Olinda. E, às vésperas da folia, admite que deve
passar o carnaval no Rio.
— Não sou eu o responsável pelo
sucesso da operação. Sou parte de uma engrenagem, que tem
superintendente, delegado, escrivães, outros agentes, papiloscopistas,
moças da limpeza e do cafezinho, vigilantes. Eu só estava sempre na
foto, e, por isso, minha imagem pegou — desconversou, ao EXTRA.
Filho
de uma paulista com um japonês de Fukushima, Ishii nasceu em
Carlópolis, cidade com menos de 14 mil habitantes no Norte do Paraná,
onde seu pai chegou em 1934. O casal, dono de um mercado que faliu,
passou por Nova Esperança e, depois de comprar uma lanchonete, fixou
residência em Curitiba.
Foi
lá que, aos 14 anos, conheceu a futura mulher. E o sogro, que, agente
federal, tornou-se a inspiração da carreira. Seis anos depois,
casaram-se no Rio, terra natal da professora primária. Com a aprovação
de Ishii no concurso da PF, em 1976, eles rodaram por Guaíra, Londrina e
também Foz do Iguaçu, com os dois filhos.
Em 2003, responsável
por patrulhar as fronteiras do Brasil com o Paraguai, o policial foi
preso, acusado de facilitar o vai e vem de contrabando na Ponte da
Amizade. Ficou quatro meses num quartel dos Bombeiros até conseguir um
habeas corpus. Ainda recorre no Superior Tribunal de Justiça (STJ) da
condenação de pagamento de cestas básicas.
Autógrafos e pose para fotos
Newton
Ishii se aposentou durante 10 anos e meio, mas, em 2013, a
aposentadoria foi revogada e ele voltou às atividades na PF. Desde
então, com as prisões de figurões na Lava Jato, diariamente é
reconhecido e parado nas ruas. Dá autógrafos, posa para fotos e
cumprimenta crianças. Familiares e amigos chegam a reclamar do assédio
dos novos fãs. Há quem aposte, inclusive, numa candidatura política.
-
Essa popularidade toda foi algo surpreendente, já que boa parte da
população não tem como hábito valorizar policiais, muito pelo contrário.
E é motivo de orgulho, porque a valorização do trabalho do profissional
é também o reconhecimento do esforço de milhares de policiais por todo o
país - contou um agente da equipe do "japonês".
Com a prisão do
senador Delcídio do Amaral, em novembro, os holofotes se voltaram ainda
mais para Ishii: num diálogo gravado, entre o parlamentar, Edson
Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró e Diogo Ferreira é
dito que Ishii, rotulado como “japonês bonzinho”, é o responsável pelo
vazamento da delação premiada do ex-diretor da Petrobras. Durante a
gravação, Bernardo disse, sobre o vazamento das informações: “Eu acho
que é carcereiro. O cara dá 50 mil ai pra você.” Depois, ele
complementa: “Carcereiro, Nilton. Os caras são muito legais.” : A
Polícia Federal abriu uma sindicância para investigar o suposto
vazamento. Ishii informou que só irá se posicionar sobre o assunto
depois da conclusão do inquérito.
Primeira foto
A
primeira prisão cuja foto apareceu no jornal foi a de Cerveró, em maio
do ano passado. Depois, apareceu também com o pecuarista José Carlos
Bumlai e com o ex-deputado Pedro Corrêa.
Odebrecht
Em
novembro, o empresário Marcelo Bahia Odebrecht chegou a brincar:
“Agora, vou ficar famoso aparecendo do lado do Japonês da Federal”
depois de ser surpreendido pelo agente.
15 homens
Aos
60 anos, Ishii chefia um grupo de cerca de 15 agentes, que cumpre
mandados de prisão, transporta presos para o IML e para audiências.
Costuma trabalhar de 7h às 21h. Desde o início da Lava Jato, não malha
nem corre.
Drama familiar
Ele
perdeu o filho mais velho, em 2005, que se suicidou. Quatro anos
depois, sua mulher também morreu, de enfarte. Atualmente, vive com a
filha, de 25 anos, que estuda Direito, em Curitiba.
Churrasco
Nos fins de semana, costuma descansar e ir a churrascos nas casas dos amigos.
Ex-morador do Recreio
Ishii
morou dois anos num apartamento alugado, com a mulher, a filha e a
neta, no Recreio, em 2006. Ainda tem parentes que moram no bairro.
Nenhum comentário