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Ícone da Lava Jato, ‘japonês da Federal’ vira máscara, boneco de Olinda e dá autógrafo: ‘Sou parte da engrenagem’, diz policial


O agente, ao prender o empresário Marcelo Odebrecht, em novembro Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo
Paolla Serra

De coadjuvante, Newton Hidenori Ishii tornou-se um dos personagens principais da crônica política no Brasil. Chefe do Núcleo de Operações da Polícia Federal de Curitiba, o agente foi fotografado escoltando Marcelo Odebrecht, Nestor Cerveró, entre outros políticos e empresários. Desbancando delegados, procuradores e até o próprio juiz Sérgio Moro no quesito popularidade da Operação Lava Jato, o "japonês da Federal" inspirou marchinhas pelo país, máscaras de carnaval e ainda emprestou o rosto para o boneco de Olinda. E, às vésperas da folia, admite que deve passar o carnaval no Rio.
— Não sou eu o responsável pelo sucesso da operação. Sou parte de uma engrenagem, que tem superintendente, delegado, escrivães, outros agentes, papiloscopistas, moças da limpeza e do cafezinho, vigilantes. Eu só estava sempre na foto, e, por isso, minha imagem pegou — desconversou, ao EXTRA.
Filho de uma paulista com um japonês de Fukushima, Ishii nasceu em Carlópolis, cidade com menos de 14 mil habitantes no Norte do Paraná, onde seu pai chegou em 1934. O casal, dono de um mercado que faliu, passou por Nova Esperança e, depois de comprar uma lanchonete, fixou residência em Curitiba.
As máscaras de carnaval com o rosto de Ishii
As máscaras de carnaval com o rosto de Ishii Foto: Wilson Mendes/Extra
Foi lá que, aos 14 anos, conheceu a futura mulher. E o sogro, que, agente federal, tornou-se a inspiração da carreira. Seis anos depois, casaram-se no Rio, terra natal da professora primária. Com a aprovação de Ishii no concurso da PF, em 1976, eles rodaram por Guaíra, Londrina e também Foz do Iguaçu, com os dois filhos.
Em 2003, responsável por patrulhar as fronteiras do Brasil com o Paraguai, o policial foi preso, acusado de facilitar o vai e vem de contrabando na Ponte da Amizade. Ficou quatro meses num quartel dos Bombeiros até conseguir um habeas corpus. Ainda recorre no Superior Tribunal de Justiça (STJ) da condenação de pagamento de cestas básicas.
Os bonecos de Olinda, com os rostos do agente e do juiz Sérgio Moro
Os bonecos de Olinda, com os rostos do agente e do juiz Sérgio Moro Foto: Reprodução
Autógrafos e pose para fotos
Newton Ishii se aposentou durante 10 anos e meio, mas, em 2013, a aposentadoria foi revogada e ele voltou às atividades na PF. Desde então, com as prisões de figurões na Lava Jato, diariamente é reconhecido e parado nas ruas. Dá autógrafos, posa para fotos e cumprimenta crianças. Familiares e amigos chegam a reclamar do assédio dos novos fãs. Há quem aposte, inclusive, numa candidatura política.
- Essa popularidade toda foi algo surpreendente, já que boa parte da população não tem como hábito valorizar policiais, muito pelo contrário. E é motivo de orgulho, porque a valorização do trabalho do profissional é também o reconhecimento do esforço de milhares de policiais por todo o país - contou um agente da equipe do "japonês".
Com a prisão do senador Delcídio do Amaral, em novembro, os holofotes se voltaram ainda mais para Ishii: num diálogo gravado, entre o parlamentar, Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró e Diogo Ferreira é dito que Ishii, rotulado como “japonês bonzinho”, é o responsável pelo vazamento da delação premiada do ex-diretor da Petrobras. Durante a gravação, Bernardo disse, sobre o vazamento das informações: “Eu acho que é carcereiro. O cara dá 50 mil ai pra você.” Depois, ele complementa: “Carcereiro, Nilton. Os caras são muito legais.” : A Polícia Federal abriu uma sindicância para investigar o suposto vazamento. Ishii informou que só irá se posicionar sobre o assunto depois da conclusão do inquérito.
O policial também foi o responsável por escoltar o pecuarista José Carlos Bumlai
O policial também foi o responsável por escoltar o pecuarista José Carlos Bumlai Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo
Primeira foto
A primeira prisão cuja foto apareceu no jornal foi a de Cerveró, em maio do ano passado. Depois, apareceu também com o pecuarista José Carlos Bumlai e com o ex-deputado Pedro Corrêa.
Odebrecht
Em novembro, o empresário Marcelo Bahia Odebrecht chegou a brincar: “Agora, vou ficar famoso aparecendo do lado do Japonês da Federal” depois de ser surpreendido pelo agente.
15 homens
Aos 60 anos, Ishii chefia um grupo de cerca de 15 agentes, que cumpre mandados de prisão, transporta presos para o IML e para audiências. Costuma trabalhar de 7h às 21h. Desde o início da Lava Jato, não malha nem corre.
O agente ao levar José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, para exames no IML de Curitiba
O agente ao levar José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, para exames no IML de Curitiba Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo
Drama familiar
Ele perdeu o filho mais velho, em 2005, que se suicidou. Quatro anos depois, sua mulher também morreu, de enfarte. Atualmente, vive com a filha, de 25 anos, que estuda Direito, em Curitiba.
Churrasco
Nos fins de semana, costuma descansar e ir a churrascos nas casas dos amigos.
Ex-morador do Recreio
Ishii morou dois anos num apartamento alugado, com a mulher, a filha e a neta, no Recreio, em 2006. Ainda tem parentes que moram no bairro.

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