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Baía de Guanabara recebe todo dia 90 toneladas de lixo

Menino brinca entre a sujeira no Canal do Cunha, na Maré
Menino brinca entre a sujeira no Canal do Cunha, na Maré Foto: Roberto Moreyra / Extra



Alfredo Mergulhão e Elisa Clavery

Todo dia, 90 toneladas de lixo são despejadas na Baía de Guanabara, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O valor equivale a mais do que o lixo produzido diariamente por todos os moradores de Madureira, na Zona Norte do Rio, segundo números de coleta da Comlurb. Mas é no encontro das águas dos rios Sarapuí e Iguaçu, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que o maior volume de sujeira flutuante da Baía de Guanabara ganha corpo. Na modalidade resíduos sólidos, o local é o grande campeão do Jogo Sujo, série do EXTRA que mostra, desde domingo, os recordistas de poluição no palco das competições olímpicas de vela e nado em 2016.
Lixos no Canal do Fundão, que desemboca na Baía de Guanabara
Lixos no Canal do Fundão, que desemboca na Baía de Guanabara Foto: Roberto Moreyra / Extra
Segundo pesquisadores, a foz do rio Iguaçu alcança o alto do pódio depois de cortar outros municípios da Baixada — Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João de Meriti, Mesquita e Nilópolis — e arrastar sacolas e garrafas plásticas, latas, roupas, móveis e eletrodomésticos. Nesses locais, o sistema de coleta de lixo ainda é ineficiente, diz o professor de Biologia Marinha da UFF Abílio Soares Gomes.
— A maior falha, nos últimos anos, foi a falta de investimento em coleta de lixo eficiente. É preciso melhorar o serviço de limpeza pública — diz. — Esse problema não precisa de 15 anos (novo prazo estabelecido pelo estado para limpar a baía) para ser resolvido, mas depende de vontade política e investimento.
As medalhas de prata e bronze para o acúmulo de dejetos vão para, respectivamente, o Canal do Cunha — que se encontra com o do Fundão, chegando à baía, entre a Ilha do Fundão e a Maré — e a enseada de São Gonçalo, principalmente onde desemboca o rio Alcântara. Ali, há o despejo irregular da população das redondezas, e o lixo fica parado por conta do fluxo fraco da maré, que impede a renovação das águas.
Urubu morto e muito lixo são vistos no Canal do Cunha, na Maré
Urubu morto e muito lixo são vistos no Canal do Cunha, na Maré Foto: Roberto Moreyra / Extra
Lixo flutuante jogado no Canal do Fundão, que, antes de desembocar na baía, se encontra com o Canal do Cunha
Lixo flutuante jogado no Canal do Fundão, que, antes de desembocar na baía, se encontra com o Canal do Cunha Foto: Roberto Moreyra / Extra
— Como a circulação de água é menor, o lixo custa a ser levado embora e fica acumulado nessas regiões — explica o professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ Paulo Rosman.
Eletrônicos velhos e muita sujeira no Rio Ilha das Flores, que desemboca na Baía de Guanabara, em São Gonçalo
Eletrônicos velhos e muita sujeira no Rio Ilha das Flores, que desemboca na Baía de Guanabara, em São Gonçalo Foto: Roberto Moreyra / Extra
Ao meio-dia da última quinta-feira, o pescador Tubiraí Pereira, de 43 anos, voltava do mar após 20 horas na busca por peixes, na Praia das Pedrinhas, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.
— Pesquei só oito quilos. No passado, cheguei a pegar 200 numa noite. Em vez de peixe, a gente acha lixo. Já peguei até porco morto —diz.
Na Praia das Pedrinhas, o pescador Tubiraí conta que já não há mais peixe como antigamente
Na Praia das Pedrinhas, o pescador Tubiraí conta que já não há mais peixe como antigamente Foto: Roberto Moreyra / Extra
Presidente da Associação de Pescadores da região, Mário Goudard, de 65 anos, conta que as redes de pesca voltam tão pesadas de lixo que precisam ser limpas antes de voltarem para o barco, sob risco de a embarcação afundar.
— Estamos cansados de audiências públicas, de ouvir falar de projetos, de mais verbas, e nada mudar. O pescador está agonizando com a baía. Muitos têm procurado outro meio de vida — diz.
Sofá velho e brinquedo jogados na Praia de São Bento, Ilha do Governador
Sofá velho e brinquedo jogados na Praia de São Bento, Ilha do Governador Foto: Roberto Moreyra / Extra
A Secretaria estadual do Ambiente (SEA) não especificou a quantidade de lixo sólido despejada em cada local no entorno da Baía de Guanabara, mas informou que, com a contratação da gerenciadora Pro Oceano e da empresa Matos Teixeira Engenharia, “será possível aferir a quantidade de lixo retido e removido, assim como aperfeiçoar os atuais sistemas de contenção de lixo”. O novo plano de limpeza da baía tem como meta remover 95% do lixo flutuante.
Ex-titular da SEA e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj, o deputado Carlos Minc (PT), disse que cada ecobarreira chegava a tirar 11 toneladas de lixo por mês e cada ecobarco já tirou até 20 toneladas no mesmo período.
— A questão central é diminuir o lixo flutuante em sua origem. E isso se faz com educação ambiental e coleta de lixo, sobretudo a seletiva. Já houve uma melhora com o fim dos lixões oficiais, que tiraram o volume de um Maracanã por mês de chorume da Baía de Guanabara. Os lixões que ainda persistem são clandestinos — afirmou Minc.
O Secretário de Meio Ambiente de Duque de Caxias, Luiz Renato Vergara, justificou a primeira colocação no ranking com a perda de recursos do Projeto Iguaçu, “da ordem de R$ 350 milhões”, que seriam gastos na limpeza dos rios, remoção de famílias e sinalização para casos de enchentes.
— Vamos começar em breve uma campanha de educação ambiental para coleta seletiva. O lixo de hoje é a enchente de amanhã — disse o secretário.

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