Baía de Guanabara recebe todo dia 90 toneladas de lixo
Todo
dia, 90 toneladas de lixo são despejadas na Baía de Guanabara, segundo a
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (Abrelpe). O valor equivale a mais do que o lixo produzido
diariamente por todos os moradores de Madureira, na Zona Norte do Rio,
segundo números de coleta da Comlurb. Mas é no encontro das águas dos
rios Sarapuí e Iguaçu, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que o
maior volume de sujeira flutuante da Baía de Guanabara ganha corpo. Na
modalidade resíduos sólidos, o local é o grande campeão do Jogo Sujo,
série do EXTRA que mostra, desde domingo, os recordistas de poluição no
palco das competições olímpicas de vela e nado em 2016.
Segundo
pesquisadores, a foz do rio Iguaçu alcança o alto do pódio depois de
cortar outros municípios da Baixada — Nova Iguaçu, Belford Roxo, São
João de Meriti, Mesquita e Nilópolis — e arrastar sacolas e garrafas
plásticas, latas, roupas, móveis e eletrodomésticos. Nesses locais, o
sistema de coleta de lixo ainda é ineficiente, diz o professor de
Biologia Marinha da UFF Abílio Soares Gomes.
— A maior falha, nos
últimos anos, foi a falta de investimento em coleta de lixo eficiente. É
preciso melhorar o serviço de limpeza pública — diz. — Esse problema
não precisa de 15 anos (novo prazo estabelecido pelo estado para limpar a
baía) para ser resolvido, mas depende de vontade política e
investimento.
As medalhas de prata e bronze para o acúmulo de
dejetos vão para, respectivamente, o Canal do Cunha — que se encontra
com o do Fundão, chegando à baía, entre a Ilha do Fundão e a Maré — e a
enseada de São Gonçalo, principalmente onde desemboca o rio Alcântara.
Ali, há o despejo irregular da população das redondezas, e o lixo fica
parado por conta do fluxo fraco da maré, que impede a renovação das
águas.
—
Como a circulação de água é menor, o lixo custa a ser levado embora e
fica acumulado nessas regiões — explica o professor de Engenharia
Costeira da Coppe/UFRJ Paulo Rosman.
Ao
meio-dia da última quinta-feira, o pescador Tubiraí Pereira, de 43
anos, voltava do mar após 20 horas na busca por peixes, na Praia das
Pedrinhas, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.
—
Pesquei só oito quilos. No passado, cheguei a pegar 200 numa noite. Em
vez de peixe, a gente acha lixo. Já peguei até porco morto —diz.
Presidente
da Associação de Pescadores da região, Mário Goudard, de 65 anos, conta
que as redes de pesca voltam tão pesadas de lixo que precisam ser
limpas antes de voltarem para o barco, sob risco de a embarcação
afundar.
— Estamos cansados de audiências públicas, de ouvir falar
de projetos, de mais verbas, e nada mudar. O pescador está agonizando
com a baía. Muitos têm procurado outro meio de vida — diz.
A
Secretaria estadual do Ambiente (SEA) não especificou a quantidade de
lixo sólido despejada em cada local no entorno da Baía de Guanabara, mas
informou que, com a contratação da gerenciadora Pro Oceano e da empresa
Matos Teixeira Engenharia, “será possível aferir a quantidade de lixo
retido e removido, assim como aperfeiçoar os atuais sistemas de
contenção de lixo”. O novo plano de limpeza da baía tem como meta
remover 95% do lixo flutuante.
Ex-titular da SEA e presidente da
Comissão de Meio Ambiente da Alerj, o deputado Carlos Minc (PT), disse
que cada ecobarreira chegava a tirar 11 toneladas de lixo por mês e cada
ecobarco já tirou até 20 toneladas no mesmo período.
— A questão
central é diminuir o lixo flutuante em sua origem. E isso se faz com
educação ambiental e coleta de lixo, sobretudo a seletiva. Já houve uma
melhora com o fim dos lixões oficiais, que tiraram o volume de um
Maracanã por mês de chorume da Baía de Guanabara. Os lixões que ainda
persistem são clandestinos — afirmou Minc.
O Secretário de Meio
Ambiente de Duque de Caxias, Luiz Renato Vergara, justificou a primeira
colocação no ranking com a perda de recursos do Projeto Iguaçu, “da
ordem de R$ 350 milhões”, que seriam gastos na limpeza dos rios, remoção
de famílias e sinalização para casos de enchentes.
— Vamos
começar em breve uma campanha de educação ambiental para coleta
seletiva. O lixo de hoje é a enchente de amanhã — disse o secretário.
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