Todos os anos, cerca de mil brasileiros são submetidos a amputação do
pênis. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde, a mutilação é
causada pela falta de cuidados que faz com o que o Brasil ocupe um dos
primeiros lugares em câncer de pênis no mundo, perdendo para a Índia e
alguns países do continente africano.
Para tentar mudar esse quadro e chamar atenção da população para
medidas simples que podem evitar a amputação e o câncer, como a limpeza
com água e sabão, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em parceria
com o Instituto Lado a Lado pela Vida, realizará, de 26 a 29 de
setembro, a Campanha Nacional chamada Câncer de Pênis Zero.
A quarta edição da iniciativa conta com textos explicativos no portal
da SBU (www.sbu.org.br), posts de orientação no Facebook
(www.facebook.com/SociedadeBrasileiraUrologia) e ações de atendimento ao
público em cidades do Norte e Nordeste, regiões de maior incidência do
problema. A campanha tem como padrinho o ex-jogador de futebol Zico,
atual técnico do Al-Gharafa (Qatar).
Campanha
De acordo com o urologista e coordenador da campanha na Bahia, Marcelo
Brandão, o câncer de pênis é uma doença social e está basicamente ligada
às condições de saúde e higiene.
“Com água e sabão e os cuidados de limpeza na glande (também
conhecida como cabeça do pênis) e no prepúcio (que é a pele que recobre o
pênis), o câncer e as amputações poderiam ser evitados”, completa o
médico, ressaltando que, entre os circuncidados, como é o caso dos
judeus nascidos em Israel, as taxas da doença chegam a quase zero.
“Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia no
Maranhão, por exemplo, mostrou que, de cada 100 pacientes operados de
fimose, 30% tinham câncer de pênis nos estágios iniciais”, completa o
médico, ressaltando que, no estado, a campanha vai se concentrar na
sensibilização dos profissionais que atuam nos postos de saúde e no
Programa de Saúde da Família para alertar a população sobre os cuidados.
“Em cidades do interior como Maragogipe, Cachoeira e São Felix já
existe um trabalho constante de sensibilização da população, realizado
ao longo de 15 anos. Na capital, estamos fechando uma parceria com o
Hospital Aristides Maltez”, completa.
Parceiros
A falta de higiene e limpeza não afeta apenas a saúde de quem descuida
da saúde íntima, as lesões no pênis também facilitam o desenvolvimento
de doença nos parceiros, facilitando, inclusive, a transmissão do
papiloma vírus humano (HPV), principal responsável pelos cânceres de
colo de útero, vagina, ânus, pênis e orofaringe (boca e garganta).
Nos últimos dez anos, inclusive, o câncer de orofaringe causado pelo
HPV superou aqueles causados pelo tabagismo e pelo álcool, entre os
menores de 50 anos.
“Infelizmente, na maioria dos casos, os homens não apresentam
sintomas, por isso mesmo, não sabem que estão servindo como vetores de
disseminação e contágio”, esclarece o diretor médico do Centro de
Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh) e ginecologista,
Jorge Valente.
O cirurgião de boca e pescoço Ivan Agra lembra que os cânceres de
orofaringe são mais comuns no público masculino. “Para cada mulher com a
doença, existe cerca de quatro homens com o mesmo problema”, salienta o
especialista, lembrando que, apesar da resistência cultural, é
fundamental não abrir mão do preservativo, mesmo durante as
preliminares.
No caso do sexo oral, a dica dos especialistas é apostar nos produtos
com sabor, que poderiam ser usados como aliados para assegurar que
prazer e segurança andem sempre muito próximos.
Sexo
Para assegurar a saúde da boca e garantir o tratamento rápido, Ivan Agra
defende que as pessoas realizem periodicamente o autoexame da boca,
verificando qualquer lesão na área.
“Feridinhas que não cicatrizam, dor para engolir que ultrapassa o
período de três semanas merecem atenção especial e, nesses casos, o
indivíduo deve procurar um médico o mais rápido possível”, pontua.
Marcelo Brandão ressalta que o câncer de pênis é tratável em suas
fases iniciais. “Além da higiene diária, feita sempre após as relações
sexuais e a masturbação, é importante que os homens estejam atentos para
qualquer perda de sensibilidade, coceira, lesões esbranquiçadas e
aumento de gânglios (ínguas)”, explica o médico, salientando que o
câncer de pênis tem um impacto muito significativo na vida das famílias.
“Vivemos um modelo patriarcal na sociedade e, geralmente, quando o
câncer gera a amputação parcial ou total, esse homem tende a desenvolver
outras doenças, como o alcoolismo e a depressão”, complementa o
urologista.
Ele lembra que, mesmo quando a amputação é parcial, o aspecto
psicológico das relações sexuais termina sendo comprometido. “Geralmente
esse homem não consegue executar a penetração e nem atingir o orgasmo”,
esclarece o médico, ressaltando que é retirado cerca de 2 centímetros
do pênis.
O médico chama a atenção que, no caso das relações homem e mulher, é
necessário um mínimo de seis a sete centímetros para proporcionar o
prazer da parceira.
Para Marcelo Brandão, a informação e a educação desde a infância
poderiam mudar o quadro atual. “A prevenção será sempre melhor que o
tratamento”, finaliza Brandão.
Nenhum comentário