Mulheres promovem iniciativas para lutar contra a gordofobia
Questionar
padrões de beleza, lutar contra a gordofobia e valorizar o corpo
feminino, independentemente do tamanho ou forma. Esse é objetivo de
Juliana Romano, Mariana Godoy, Paola Altheia e Simone Daher. As quatro
mulheres, cada uma à sua forma, lançaram iniciativas nas redes sociais
para discutir essas questões e estimular o empoderamento das mulheres. E
têm conquistado, a cada dia, uma legião de novas seguidoras que se
sentem, finalmente, representadas.
Fotógrafa faz ensaio com mulheres acima do peso para questionar padrões
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Um
ensaio fotográfico gerou bastante repercussão - e polêmica - na
internet nas últimas semanas. Nas imagens, mulheres consideradas acima
do peso aparecem em poses sensuais, em diferentes ângulos, com frases
escritas no corpo, como "tire a sua gordofobia do meu caminho que eu
quero passar" e "meu corpo, minhas regras". O ensaio, intitulado "Empoderarte-me", foi feito pela fotógrafa Mariana Godoy, de 22 anos, que vive na cidade de Jundiaí, em São Paulo.
-
Começou como uma brincadeira entre amigas. A sessão foi muito
divertida, uma coisa nova para todas. Apesar disso, ficaram muito à
vontade, pois lidam muito bem com seus corpos. Quando publiquei a
primeira foto do ensaio no Facebook, a reação foi muito positiva. Muitas
mulheres me disseram que se sentiram representadas. Afinal, é difícil
ver ensaios com mulheres gordas. Consegui alcançar o meu objetivo com o
ensaio, que é fazer com que a mulher se aceite e se sinta bonita,
independentemente do peso - afirma, destacando que as fotos foram
tiradas em abril, maio e julho.
Apesar
disso, a fotógrafa conta que também foram publicados comentários
maldosos em relação ao ensaio, mas diz que não dá atenção para eles.
Para ela, existe muito preconceito contra pessoas gordas no Brasil, que
se manifesta em todos os lugares - desde uma entrevista de emprego até
na hora de comprar uma roupa.
- As pessoas acham que têm o direito
de ofender as meninas e de afirmar que nenhuma delas é saudável. Um
internauta chegou a comentar que ficou com "nojo" do ensaio. Não posso
olhar para uma pessoa gorda e dizer que não é saudável, assim como não
dá para afirmar que uma pessoa magra está com boa saúde - afirma.
Mariana
busca agora novas modelos para os próximos ensaios. Agora, quer
fotografar mulheres negras e mais velhas, todas acima do peso. No dia 29
de agosto, o "Empoderarte-me" será exposto em uma feira gastronômica em
Jundiaí.
- As mulheres brasileiras precisam se amar mais. Precisam acreditar que são bonitas para se sentirem empoderadas - diz.
Nutricionista questiona padrões de beleza em blog
O
blog da nutricionista Paola Altheia, de 28 anos, não fala sobre dietas
da moda ou receitas que farão a mulher emagrecer em poucos dias. Em vez
disso, o "Não sou exposição" discute padrões de beleza, representação
midiática, autoestima e saúde. E alerta sobre os danos causados por
esses padrões, pelo culto ao corpo, pela gordofobia e pelo machismo.
-
Acho importante questionar padrões de beleza irrealistas. Somos
diariamente bombardeados com imagens ilusórias e digitalmente retocadas
que levam o nosso cérebro a crer que tudo o que está sendo visto é
verídico. Mais do que celebrar outras formas de beleza além da imagem da
mulher alta, magra, longilínea e caucasiana, acho importante dizer às
mulheres que nosso valor vai além da aparência - defende.
O "Não
sou exposição", criado em 2012, também tem uma página no Facebook, que é
acompanhada por mais de 20 mil internautas. O nome, segundo Paola, foi
escolhido a partir da ideia de que o corpo da mulher "não é um item
exposto em uma galeria".
-
Eu escolhi o título porque sou mulher e sinto um constante escrutínio
sobre o meu corpo e inúmeros discursos me dizendo o que devo comer, o
que devo vestir, como devo me comportar, o que devo desejar. E eu não
quero receitas sobre como ser mulher. Eu sou uma pessoa com diferentes
talentos e potencialidades, meu corpo não existe para ser olhado pelos
outros, não sou domínio público - afirma, destacando que também criou um
projeto homônimo que leva a escolas, faculdades e universidades para
discutir as questões abordadas no blog.
Para
a nutricionista, existe uma ideia equivocada no imaginário popular de
que todos os gordos são doentes e, todos os magros, saudáveis, o que
estimula a gordofobia. Além disso, Paola acredita que muitas pessoas
disfarçam o desprezo por gordos com "preocupação com a saúde", mas que,
na verdade, criticam porque os "gordos incomodam".
- Nossa
sociedade é lipofóbica. Temos pavor de gordura no nosso corpo, no corpo
do outro e nos alimentos. A gordofobia é consequência do culto ao corpo
combinado com visões reducionistas de saúde que problematizam o corpo
gordo sem considerar o contexto em que ele está inserido. O corpo gordo
incomoda porque a sociedade relaciona características morais negativas,
como indisciplina, preguiça e falta de obstinação, com gordura corporal.
A falta de informação colabora para isso - afirma.
Paola também
destaca que a pessoa precisa se amar para se cuidar. Para ela, pessoas
que ouvem constantemente mensagens negativas sobre seu corpo
dificilmente vão aderir a um estilo de vida mais saudável.
- Não
há como estimular o ódio e o rechaço ao corpo gordo e em seguida pedir
para que a pessoa seja ativa, coma bem, se movimente. Não acredito em
estímulo negativo. Não há mal nenhum em gostar do nosso corpo, seja ele
magro, gordo, saudável ou doente. Porque o amor próprio promove mudanças
positivas, jamais negativas. Simplesmente não faz sentido acreditar que
estimular o amor pelo corpo fará com que as pessoas se acomodem. Quem
ama, cuida - defende.
Jornalista fala sobre moda e beleza plus size em blog
A
jornalista Juliana Romano, de 26 anos, criou o blog "Entre topetes e
vinis" em 2009. A blogueira conta que começou a página publicando fotos
de seus "looks" e falando os truques para adaptar roupas ao seu
corpo. Segundo ela, com o crescimento do mercado de roupas plus size,
seu guarda-roupas foi ampliado com peças do seu tamanho e começou a dar
mais dicas de moda às leitoras. Além disso, a jornalista costuma
publicar textos que falam sobre preconceito, auto estima e que abordam o
papel da mulher gorda na sociedade.
- Eu acredito que, ao
compartilhar uma nova visão da mulher plus size, a visão da mulher para
cima, com auto estima fortalecida, bem resolvida e feliz, as pessoas
passam a se questionar sobre suas inseguranças. Mostro que a mulher pode
ser o que ela quiser e como ela quiser. Eu também trago uma série de
questionamentos e levo a mulher a refazer seu raciocínio quebrando a
lógica dos padrões. Eu mostro que as mulheres têm opções, e que cabe
somente a elas decidir o que fazer - explica.
Para Juliana, a quantidade de iniciativas contra a gordofobia e em prol da aceitação plus size aumentou nos últimos anos.
-
Finalmente as mulheres estão empoderadas. Elas têm voz, têm trabalho e
dinheiro, cada vez mais têm posição, são autossuficientes e não precisam
mais se submeter à opinião dos outros. Ou seja, é claro que esse
momento traz para a mulher a voz para dizer o que ela quer ou não do seu
próprio corpo. E se ela quiser ser gorda, ninguém tem nada a ver com
isso - defende.
A
jornalista acredita que o grande problema dos gordofóbicos é considerar
qualquer pessoas que esteja acima do peso doente, sem levar em conta os
diferentes graus de obesidade existentes.
- As pessoas não se
informam direito e saem reproduzindo um monte de besteiras por aí.
Existem mil fatores que definem ou não a saúde de uma pessoa. Eu acho
legal estimular atividades físicas e alimentação saudável, mas dá para
comer direito e fazer exercício sem ser magra. Não é porque você cuida
da sua saúde que você precisa automaticamente querer ser magra e ter
quadradinhos - defende.
Juliana
assume que está acima do peso considerado ideal, mas, segundo ela, isso
não afeta a sua saúde, seus relacionamentos, sua vitalidade ou
felicidade. A jornalista conta que já foi magra, mas que está muito mais
satisfeita com seu corpo atualmente.
- Eu já fui magra e era
completamente neurótica e infeliz porque não é natural do meu corpo ser
magro, então eu realmente tinha que me esforçar muito. Ou seja, eu sou
uma pessoa muito mais feliz gorda. Eu passeio bastante, faço exercícios
diários, me alimento super bem, passo o dia pensando em ideias para
inspirar as mulheres e não mais contando calorias. Eu sou muito mais
saudável fisicamente e mentalmente do que quando eu passava cada segundo
da minha vida pensando que eu precisava emagrecer - defende.
Modelo plus size defende que manter o corpo em movimento é fundamental
Gordinha
de biquíni. Pode? Para a técnica de radiologia e modelo plus size
Simone Daher, de 37 anos, a resposta é mais do que positiva. Em janeiro
deste ano, a modelo e um grupo de amigas acima do peso fizeram um
protesto na Praia da Urca, no Rio de Janeiro, contra a gordofobia.
Naquele dia, todas colocaram biquínis e fizeram uma sessão de fotos no
local. Quando voltou para casa, Simone teve a ideia de criar uma página
no Facebook para levantar a auto estima de mulheres fora dos padrões,
intitulada "Pq gordinha de biquíni podeee".
- O intuito é mostrar
para a sociedade que somos seres humanos, independentemente do nosso
peso. Queremos respeito. Não fazemos apologia à gordura, que, em
excesso, faz mal. As mulheres têm, sim, que movimentar o corpo e cuidar
da saúde. O que queremos é levar auto estima para elas, mostrar que
podem ser bonitas mesmo acima dos padrões ideais de beleza - afirma.
Simone
conta que costuma promover encontros entre as seguidoras da página -
que tem mais de 9 mil curtidas - onde são realizadas brincadeiras e
palestras com modelos plus size, que dão dicas para quem quiser seguir
na carreira. Segundo ela, o evento é realizado uma vez por mês, com uma
média de 20 participantes cada.
A técnica de radiologia entrou
para o mundo das passarelas em novembro de 2014, quando participou de um
concurso de beleza voltado para mulheres plus size. Apesar de não ter
vencido, Simone, que tem 1,64 metro e pesa 95 quilos, conta que foi uma
experiência "maravilhosa". No início de agosto, também participou do
"Diva Brasil Plus Size".
Para
Simone, existe uma discriminação muito grande em relação a mulheres
acima do peso no Brasil. Hoje, diz que é muito bem resolvida com o
corpo, e que os problemas de auto estima foram superados.
- Me
olho no espelho e me acho linda. Quando começamos a nos amar e
demonstramos isso para os outros, já te olham com outros olhos. Acho que
o preconceito contra pessoas acima do peso pode diminuir através da
educação - defende.
Eu amo as mulheres, principalmente as mais fofinhas, quem fala mal é porque não conhece a felicidade, e não teve a honra de conhecer suas atribuições, milhões de beijos nos corações de todas...
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