Playboy estudou em colégio de freiras, tinha o apelido de Mamadeira e virou traficante após roubar fuzis da Aeronáutica
Maio
de 2001. Irritados com a onda de roubos de carros na região, moradores
da Rua Mundo Novo, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, levaram uma carta ao
2º BPM (Botafogo) com nomes de todos os ladrões. De posse da lista, a
polícia montou uma operação para pegar os bandidos com a boca na botija.
Na madrugada de 1º de junho, veio o bote: um adolescente de 19 anos foi
preso e dois de 17 foram apreendidos com um revólver calibre 38 e
chaves de dois carros roubados. O mais velho, apontado como chefe do
grupo, começava a sua escalada no mundo do crime. Era Celso Pinheiro
Pimenta, que, 14 anos depois, seria mais conhecido como Playboy, o
bandido mais procurado do Rio. No último dia 8, o traficante foi morto,
aos 33 anos, durante uma operação das polícias Civil e Federal no
Complexo da Pedreira, em Costa Barros.
Quatorze
anos antes de virar chefe do tráfico no subúrbio, Celso ainda era
Mamadeira, jovem soldado da Aeronáutica que saía de casa — uma cobertura
de um prédio pequeno na Rua Soares Cabral, em Laranjeiras — para fazer
bicos como mototaxista em Botafogo. Entre um serviço e outro, o ex-aluno
do Colégio da Providência, administrado por freiras, roubava carros
armado com uma pistola. Filho de um jornaleiro e uma dona de casa,
tirava boas notas em português até a antiga 6ª série, quando perdeu o
gosto pelos estudos e largou a escola.
Não demorou para se
aproximar de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, outro jovem de
classe média que, à época, era chefe de uma quadrilha especializada em
roubar apartamentos de luxo. Até 2005 — quando foi preso novamente
depois de amordaçar seis pessoas e roubar, com mais três comparsas, dois
andares de um prédio na Ilha do Governador — Celso fez parte do bando
mais temido entre as famílias abastadas da cidade.
Um
ano antes do assalto frustrado, outro roubo transformaria Mamadeira em
Playboy e Celso em traficante. Em 3 de maio de 2004, ele integrava o
bando que, de madrugada, entrou no antigo Depósito da Aeronáutica do Rio
de Janeiro (Darj), em Bonsucesso, rendeu e espancou cinco militares e
saiu, numa Kombi roubada, levando 22 fuzis HK-33 para o Morro do Dendê,
na Ilha do Governador. O Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou o
crime foi arquivado em 2006. Dois ex-militares e um desertor foram
investigados. Celso não foi sequer citado.
Segundo investigações
da Polícia Civil, no entanto, a entrega das armas a Fernando Gomes de
Freitas, o Fernandinho Guarabu, até hoje chefe do tráfico do Dendê,
marca a entrada de Playboy — apelido óbvio para o jovem bem-nascido que
passa a viver na favela — no ramo da venda de drogas. Não ficaria muito
tempo, porém, sob o guarda-chuva de Guarabu: dois anos depois, sem ter
uma favela para chamar de sua, Celso deu um golpe na facção, pegou dez
fuzis e atravessou a Linha Vermelha em direção à Maré, onde foi recebido
pela quadrilha chefiada por Edmílson Ferreira dos Santos, o Sassá.
Apesar de ver sua nova facção perder a guerra pelo controle da Vila do
João e da Vila do Pinheiro, ganhou a confiança dos chefes do grupo e, em
2010, foi premiado com a gerência do Complexo da Pedreira, onde chegou a
comandar um exército de traficantes e ladrões de carga com 300 fuzis.
‘Quando essa dor vai passar?’
Considerado
“abusado e sanguinário” por diversos policiais civis que o investigaram
ao longo da vida, Playboy foi acusado dos mais diversos crimes: roubos
de cargas, homicídios de policiais militares e traficantes rivais,
invasões a favelas ocupadas por facções rivais — com direito a
ostentação de fuzis na piscina de uma vila olímpica — e
sequestros-relâmpagos em shoppings na Barra da Tijuca. Para sua mãe,
entretanto, Playboy continuava a ser apenas Celso.
Em
seu perfil no Facebook, a dona de casa de 60 anos, que não deixou de
visitar o filho mesmo após a entrada na vida do crime, mandava recados
para Playboy: “Nossa, se eu pudesse, botava de volta na barriga para
proteger”, postou no último dia 1º de fevereiro, ao comentar uma foto em
que o filho aparece aos 8 meses de idade no colo do pai. A legenda da
imagem segue o mesmo tom: “Meu filho com o pai esse tempo eu o protegia
de tudo e de todos”.
Após a morte do filho, a mulher desabou. “Não
tem condições de receber mensagens. Só chora e chora”, postou a irmã de
Celso sobre a mãe. Na sexta-feira, novo desabafo: “Meu filho, quando
essa dor vai passar?”.
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