Após Pezão retirar pintura que dava ‘má sorte’, especialistas afirmam que problemas do Rio vão além de quadro na parede
A
tela simboliza o capítulo inicial de uma história de mortes violentas
por disputa de território no Rio: o primeiro governador-geral, Estácio
de Sá, vítima de uma flecha envenenada, após uma batalha no pé do morro
onde hoje fica o Outeiro da Glória.
Esse capítulo do Rio foi retirado do gabinete de Luiz Fernando Pezão. Com um estado agonizante nas mãos, o governador concluiu que a obra estava “carregada”.
A
condenação do quadro veio após uma visita de Jorge Ben Jor, que deu
três batidinhas na moldura e disse: “Está muito carregado, tira”.
Especialistas ouvidos pelo EXTRA discordam. Para economistas,
historiadores e cientistas políticos, o verdadeiro quadro que trouxe o
“mau agouro” para o estado foi uma combinação de falta de planejamento
estratégico, clientelismo e uma sucessão de acontecimentos históricos
que desfavoreceram o Rio, sem que políticas públicas fossem idealizadas
para compensar as perdas.
— Nos anos 20, o Rio foi superado por São Paulo. Dos anos 20 aos anos 60, São Paulo, com seu complexo cafeeiro e a industrialização, continua a ser o estado que mais cresce, mas o Rio acompanhava o ritmo do país — explica o economista Mauro Osorio, um dos autores do livro “Uma agenda para o Rio de Janeiro”: — Em 1960, a capital é transferida para Brasília, mas houve uma demora para perceber o problema. Há uma carência de reflexão, que dificulta a construção de estratégias regionais. O Rio foi perdendo e nada foi posto no lugar.
Após o golpe militar, o vazio criado pela cassação de lideranças políticas virou cenário perfeito para o clientelismo do governador Chagas Freitas. A política do “toma lá dá cá” perdura até hoje com um leve período de melhora durante o governo Cabral, destaca Osório.
— A responsabilidade é diluída entre os governadores do Rio. Governante pensar em horizonte a longo prazo é exceção — diz Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia, apontando um desafio que vai além de trocar um quadro de parede.
‘Foi a primeira morte carioca’
Nascido em Niterói, em 1860, onde hoje um museu carrega seu nome, Antônio Parreiras concluiu o quadro “Alegoria da morte de Estácio de Sá” em 1911, após encomenda de Inocêncio Serzedelo Corrêa, prefeito da então capital federal. Admirador da obra do pintor, o historiador Milton Teixeira não aprovou o descarte da tela.
— Ela retrata a primeira morte genuinamente carioca: por flecha perdida. Mas não podemos exigir que um governador que faliu a saúde, a educação e o estado como um todo entenda de arte. Se não quiserem o quadro, ele seria muito bem tratado na minha casa — garante Milton, que já tem uma obra de Antônio Parreiras na sala: — Não tem um décimo do valor.
Debates artísticos à parte, especialistas são unânimes ao apontar a falta de planejamento de médio e longo prazo como uma das causas para o momento vivido pelo Estado do Rio. Um problema que começou há décadas e persistiu nas gestões mais recentes, de Pezão e Sérgio Cabral, de quem o atual governador foi vice.
— Sobretudo por ser um governo de continuidade, é lamentável que se chegue a esse ponto — resume o cientista político e professor da UFRJ Jairo Nicolau.
— O Estado do Rio sempre se beneficiou com o petróleo, mas houve mudança na legislação e a queda acentuada no preço do barril. Se, anteriormente, o bom momento fosse aproveitado para a redução de despesas, em vez de aumentar gastos, nossa situação seria outra — assegura Jerson Carneiro, professor de Direito Administrativo do IBMEC.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS
Jairo Nicolau, Cientista político e professor da UFRJ:
“A dependência apenas do petróleo é uma maldição para vários países. Aconteceu no Chile, com o cobre. Se aquele produto cai, ou entra em colapso, fica-se na penúria. E só a capital do Rio é maior do que muitos países europeus”.
Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia:
“O Rio perdeu para Brasília rendimentos e tributos de empresas públicas. Depois, o petróleo virou o elemento motriz do estado. A retração da economia do petróleo teve impacto profundo”.
Jerson Carneiro, professor de Direito Administrativo do IBMEC:
“Está estourando no Pezão, mas a culpa é de todos, inclusive dele próprio. O governador, agora, precisará ter criatividade para dialogar com a iniciativa privada e tirar o estado dessa crise”.
Esse capítulo do Rio foi retirado do gabinete de Luiz Fernando Pezão. Com um estado agonizante nas mãos, o governador concluiu que a obra estava “carregada”.
— Nos anos 20, o Rio foi superado por São Paulo. Dos anos 20 aos anos 60, São Paulo, com seu complexo cafeeiro e a industrialização, continua a ser o estado que mais cresce, mas o Rio acompanhava o ritmo do país — explica o economista Mauro Osorio, um dos autores do livro “Uma agenda para o Rio de Janeiro”: — Em 1960, a capital é transferida para Brasília, mas houve uma demora para perceber o problema. Há uma carência de reflexão, que dificulta a construção de estratégias regionais. O Rio foi perdendo e nada foi posto no lugar.
Após o golpe militar, o vazio criado pela cassação de lideranças políticas virou cenário perfeito para o clientelismo do governador Chagas Freitas. A política do “toma lá dá cá” perdura até hoje com um leve período de melhora durante o governo Cabral, destaca Osório.
— A responsabilidade é diluída entre os governadores do Rio. Governante pensar em horizonte a longo prazo é exceção — diz Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia, apontando um desafio que vai além de trocar um quadro de parede.
‘Foi a primeira morte carioca’
Nascido em Niterói, em 1860, onde hoje um museu carrega seu nome, Antônio Parreiras concluiu o quadro “Alegoria da morte de Estácio de Sá” em 1911, após encomenda de Inocêncio Serzedelo Corrêa, prefeito da então capital federal. Admirador da obra do pintor, o historiador Milton Teixeira não aprovou o descarte da tela.
— Ela retrata a primeira morte genuinamente carioca: por flecha perdida. Mas não podemos exigir que um governador que faliu a saúde, a educação e o estado como um todo entenda de arte. Se não quiserem o quadro, ele seria muito bem tratado na minha casa — garante Milton, que já tem uma obra de Antônio Parreiras na sala: — Não tem um décimo do valor.
Debates artísticos à parte, especialistas são unânimes ao apontar a falta de planejamento de médio e longo prazo como uma das causas para o momento vivido pelo Estado do Rio. Um problema que começou há décadas e persistiu nas gestões mais recentes, de Pezão e Sérgio Cabral, de quem o atual governador foi vice.
— Sobretudo por ser um governo de continuidade, é lamentável que se chegue a esse ponto — resume o cientista político e professor da UFRJ Jairo Nicolau.
— O Estado do Rio sempre se beneficiou com o petróleo, mas houve mudança na legislação e a queda acentuada no preço do barril. Se, anteriormente, o bom momento fosse aproveitado para a redução de despesas, em vez de aumentar gastos, nossa situação seria outra — assegura Jerson Carneiro, professor de Direito Administrativo do IBMEC.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS
Jairo Nicolau, Cientista político e professor da UFRJ:
“A dependência apenas do petróleo é uma maldição para vários países. Aconteceu no Chile, com o cobre. Se aquele produto cai, ou entra em colapso, fica-se na penúria. E só a capital do Rio é maior do que muitos países europeus”.
Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia:
“O Rio perdeu para Brasília rendimentos e tributos de empresas públicas. Depois, o petróleo virou o elemento motriz do estado. A retração da economia do petróleo teve impacto profundo”.
Jerson Carneiro, professor de Direito Administrativo do IBMEC:
“Está estourando no Pezão, mas a culpa é de todos, inclusive dele próprio. O governador, agora, precisará ter criatividade para dialogar com a iniciativa privada e tirar o estado dessa crise”.
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