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Grande Mestre Nacional da Ordem DeMolay explica os valores defendidos pelo grupo


por Luana Ribeiro / Alexandre Galvão / Rebeca Menezes
Thiago Rijo
Fotos: Bahia Notícias
Grande Mestre Nacional da Ordem DeMolay, organização paramaçônica para jovens do sexo masculino entre 12 e 21 anos, Thiago Rijo é responsável por quase 60 mil membros em todo país. A instituição, criada em 1919 nos Estados Unidos, foi instalada há 35 anos no Brasil e já possui cerca de 550 capítulos no país, mas ainda é pouco conhecida. Para Rijo, isso é fruto da falta de informações e do lado místico que envolve a própria Maçonaria. “Talvez esse desconhecimento seja uma falha nossa e a gente devesse melhorar a divulgação do que essas instituições defendem. Mas é muito mais o medo do desconhecido”, avaliou. Na entrevista ao Bahia Notícias, o Grande Mestre explica os valores defendidos pelo grupo, fala sobre as perspectivas de crescimento e sobre o que é preciso para ser um DeMolay. “Em síntese, o trabalho da Ordem DeMolay é tentar transformar o caráter do homem quando ele ainda é mais maleável, na sua juventude”, resume.
 

 
O que é a Ordem DeMolay?
A Ordem DeMolay é uma organização criada pela Maçonaria em 1919, nos Estados Unidos, voltada para jovens do sexo masculino, de 12 a 21 anos. Nela, nós tentamos passar para os meninos sete virtudes que nós entendemos que são essenciais para a vida de qualquer um em qualquer lugar do mundo. Os valores são: amor filial, que é amor aos pais; reverência pelas coisas sagradas, que é respeito a todas as religiões; cortesia; companheirismo; fidelidade; pureza; e patriotismo. Com base nessas sete virtudes, nós temos cerimoniais ritualísticos, similares ao da Maçonaria. Com esse trabalho, a gente tenta fazer com que os jovens aprendam um pouco desses valores e levem eles para o resto de suas vidas. Então, em síntese, o trabalho da Ordem DeMolay é tentar transformar o caráter do homem quando ele ainda é mais maleável, na sua juventude.
 
Vocês são um movimento que vem crescendo no Brasil...
Sim. Hoje, nós somos 60 mil membros no Brasil, estamos em todos os estados. A Ordem chegou no país em 1980 e desde então vem crescendo. Atualmente, temos 550 capítulos regulares - que são ligados a nós, que pagam as taxas e têm toda documentação. Na América do Sul, também estamos presentes no Uruguai, Paraguai, Bolívia e Peru.  Também estamos na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos. Agora, está sendo fundado o primeiro capítulo na África e o processo está se expandindo pro mundo. A Ordem DeMolay está em mais de 25 países.
 
E na Bahia?
A Bahia é um dos estados mais fortes na Ordem DeMolay. É o terceiro estado, com 52 capítulos espalhados por Salvador e pelo interior. Então nós vemos a Bahia como um polo, uma locomotiva, e é um dos estados em que a Ordem mais cresce no Brasil. É uma das referências para nós.
 
Dentro desse processo de internacionalização, até que ponto você acredita que os objetivos têm sido cumpridos? Você acha que os jovens têm realmente aderido a esses princípios que os DeMolays pregam?
A gente entende que sim. Nós sempre falamos nas reuniões que não queremos que ele seja um bom DeMolay. Queremos que ele seja um bom cidadão. E é isso que a gente defende. Via de regra, até o momento não se ouviu falar se um escândalo envolvendo um DeMolay. Muitos profissionais bem sucedidos oriundos da Ordem surgiram, apesar dela ser relativamente nova no Brasil, que só tem 35 anos. Nos EUA, onde já existe há quase 100 anos, já tivemos senadores, presidentes da República, ministros da Suprema Corte. Por isso nós acreditamos que um dia chegaremos a esse patamar. Por enquanto, nós esperamos que em breve vamos colher o fruto de bons líderes, que é o que a nossa nação tanto precisa.
 
Vocês têm esse foco na formação de lideranças. Esse seria um objetivo individual ou coletivo dentro da Ordem?
É um objetivo primordial da Ordem DeMolay, que é formar lideranças. Não necessariamente lideranças políticas, mas que atuem em diferentes áreas. Nós temos um lema que é a 'Escola de Líderes'. E isso é feito através de incentivo para que eles sejam bons oradores, que defendam suas ideias. Então a gente entende que isso é um incentivo e acaba rendendo frutos.
 
Você mencionou a questão das cerimônias ritualísticas. O sigilo, em alguns casos, cria até certo burburinho. Qual é a função dele?
A Ordem DeMolay de fato tem algumas reuniões secretas, mas é uma organização que nós chamamos de discreta. Ela não tem nenhum segredo em relação aos seus objetivos, as cerimônias públicas são muito similares às secretas. O objetivo dessas reuniões secretas é principalmente fazer com que se estreite mais essa questão do companheirismo, da fidelidade, da amizade entre os membros. Então, embora haja essas cerimônias secretas, não há nada nelas que possa ter extraído algo de ruim ou algum objetivo secreto. Tanto é que nos EUA, onde a Maçonaria tente a ser mais liberal, os pais assistem às cerimônias DeMolays, algo que a gente ainda está engatinhando no Brasil. Mas quem sabe no futuro não muito distante a gente também possa ofertar isso. Então a questão do segredo não é algo essencial na Ordem. Isso é muito local.
 
Por que somente homens?
Na verdade, a Maçonaria tem diferentes organizações paramaçônicas. A Ordem DeMolay é a maior organização destinada a jovens do sexo masculino. Porém, há outras duas que são destinadas a meninas na mesma faixa etária: as Filhas de Jó e as Meninas Arco-íris. As Arco-íris, inclusive, têm um cerimonial muito parecido com o nosso. As três instituições foram fundadas em datas próximas: 1919, 1920 e 1921. Então existem organizações focadas. E tem a das mulheres adultas, que é a Estrela do Oriente. Todas elas são focadas de acordo com a faixa etária e com o sexo. Mas todas têm os mesmos objetivos e estão em todo o país também.
 
Internamente, pelos treinamentos feitos, você acredita que seria possível ter eventualmente uma organização paramaçônica que agregue homens e mulheres, que não tenha essa questão de separação por gênero?
O que eu noto é que o fundamento dessa separação por gênero é a seguinte: elas têm reuniões secretas. Então se já é complicado você vender a ideia de reuniões secretas de jovens do mesmo sexo, imagine isso com diferentes sexos. O fundamento principal é esse. Mas as organizações interagem. Há congressos em conjunto, em que todos participam, há esse intercâmbio. O que não há é essa fusão das atividades do dia a dia.
 
Apesar da Ordem ter se instalado há 35 anos, ainda paira uma certa ignorância em relação ao que vocês fazem. A que o senhor credita essa desinformação?
Eu acho que é muito da mística da Maçonaria. A gente sabe que não faz muito tempo, religiões eram contrárias à Maçonaria muito por desconhecerem os seus objetivos. Tanto é que nós não advogamos em prol de nenhuma religião. Eu acho que é essa mística em relação à Maçonaria, essa crença que ela é uma religião quando, na verdade, é uma organização filosófica, e também nosso passado muito ligado à Igreja Católica. Então alguns padres ainda têm certa resistência. Mas isso não é generalizado. Tanto que no Rio Grande do Sul os padres participam de algumas reuniões. Talvez esse desconhecimento seja uma falha nossa e a gente devesse melhorar a divulgação do que essas instituições defendem. Mas é muito o medo do desconhecido.
 
E o que é preciso para ser DeMolay?
Além da questão da idade, você precisa ser indicado por um DeMolay ou maçom. Você não precisa ter nenhum grau de parentesco com alguém de dentro da Ordem, basta o convite. Se a pessoa demonstra o interesse, é do nosso interesse também recebê-lo. É feito um escrutínio entre os membros, de aprovação à iniciação desse jovem, mas é um procedimento simples. Nós temos três requisitos: a idade, de 12 anos a 21 incompletos; acreditar em um ente supremo, seja ele qual for, de qualquer religião; e ser indicado por um membro DeMolay. Pode ser um membro com mais de 21 anos. Porque depois dessa idade, nós podemos nos tornar diretores e continuamos DeMolays pro resto da vida. É o Sênior DeMolay, que a gente chama.

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