MPF já prepara denúncias contra Cunha e Collor
BRASÍLIA
- O Ministério Público Federal deve denunciar ainda este mês o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por corrupção e lavagem
de dinheiro supostamente desviado de um contrato entre a Samsung Heavy
Industries e a Petrobras. Na denúncia, Cunha deverá ser acusado também
de coação de testemunhas. O presidente da Câmara é suspeito de receber
suborno para viabilizar os negócios da Samsung com a Petrobras. Só uma
das propinas teria sido de US$ 5 milhões. Também estão praticamente
prontas na Procuradoria-Geral da República pelo menos mais quatro
denúncias contra políticos com direito a foro privilegiado — uma delas
contra o senador Fernando Collor (PTB-AL). Cunha e Collor negam
envolvimento nas irregularidades apuradas na Operação Lava-Jato.
O
Ministério Público deverá também sugerir o arquivamento do inquérito
aberto contra o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que foi acusado
pelo policial Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, de receber R$ 1
milhão do doleiro Alberto Youssef na campanha de 2010. Ele teria viajado
a Belo Horizonte para entregar o dinheiro ao senador, a quem diz ter
reconhecido tempos depois ao vê-lo na televisão. Youssef não confirmou a
informação de Careca, e as investigações não avançaram.
Já as
acusações contra Cunha estão ancoradas nos depoimentos de Youssef e do
empresário Júlio Camargo, dois dos principais delatores da Operação
Lava-Jato, e em documentos obtidos pelo MPF e pela Polícia Federal desde
a abertura de inquérito sobre o caso no Supremo Tribunal Federal, em 6
de março deste ano.
Em depoimentos, Camargo disse que pagou
propina de US$ 5 milhões a Cunha em troca do apoio dele a um contrato de
aluguel de navios-sonda da Samsung pela Petrobras. Parte do dinheiro
teria sido entregue a Cunha por Camargo. As declarações do delator
confirmam acusações feitas a Cunha por Youssef em pelo menos dois
depoimentos aos procuradores da Lava-Jato.
Num dos depoimentos,
Youssef disse que, a pedido de Camargo, repassou R$ 5 milhões a Cunha
por intermédio do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, operador
do PMDB na Petrobras, especialmente na diretoria internacional. Um dos
pagamentos, no valor de US$ 2 milhões, teria sido feito a Fernando
Baiano, em Hong Kong, por intermédio da RFY ou DGX. Youssef disse ainda
que parte do pagamento foi feita no escritório que ele tinha em São
Paulo.
PRESSÃO NA CÂMARA
Youssef disse
ainda que Cunha usou requerimentos de informação de uma das comissões da
Câmara para pressionar Camargo a retomar o pagamento das propinas. Num
determinado momento, após uma divergência entre Camargo e a Samsung, os
pagamentos de propina foram suspensos. Cunha teria, então, recorrido a
dois deputados, um deles a ex-deputada Solange Almeida, para apresentar
requerimentos de informação contra Camargo e empresas representadas por
ele.
Cunha negou qualquer vínculo com o requerimento supostamente
usado para pressionar Camargo. Mas documentos apreendidos na Câmara
indicam que o requerimento foi elaborado num computador aberto com a
senha do deputado que hoje é presidente da Câmara.
Na primeira
fase da investigação, Camargo, que fez acordo de delação premiada, não
falou sobre a propina e a suposta extorsão de Cunha. Mas, recentemente,
mudou de ideia e entregou detalhes sobre o suposto pagamento de propina a
Cunha e a outros políticos.
A revisão do depoimento de Camargo
deu base à prisão do ex-ministro José Dirceu. Camargo disse que deu R$ 4
milhões em propinas ao ex-ministro. Outros trechos das delações darão
base à denúncia contra Cunha. Investigadores examinam a possibilidade de
denunciar Cunha também por coação de testemunhas. A acusação teria como
base declarações de Youssef e de Camargo de que foram ameaçados depois
de terem sustentado as acusações de suborno contra Cunha.
No caso
de Fernando Collor, os elementos encontrados, na avaliação de
investigadores, também são consistentes. Em documentado enviado ao
Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que não
há razão para devolver os carros de luxo — Lamborghini, Ferrari, Bentley
e Land Rover — apreendidos no mês passado na casa do senador. Janot
também afirmou que o parlamentar recebeu, ao todo, R$ 26 milhões de
propina no período entre 2010 e 2014.
Segundo Janot, o dinheiro
saiu de contratos firmados pela BR Distribuidora, subsidiária da
Petrobras. De acordo com o procurador-geral, foi montado um sofisticado
esquema de lavagem de dinheiro com diversos intermediários para que
Collor pudesse embolsar a propina. Para isso, ele teria usado empresas
das quais é sócio e assessores de seu gabinete no Senado, entre outros.
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