Nome dado a nova fase da operação que prendeu José Dirceu é gíria comum no Rio de Janeiro
Na certidão de nascimento, ele é Roosevelt. Mas, no mundo do samba, o registro tem o carimbo da linguagem popular: é o Pixulé. Na segunda-feira, o cantor e intérprete da escola de samba Império Serrano viu um “aparentado” ganhar as redes sociais. É que a nova fase da Operação Lava Jato foi batizada de Pixuleco. E já estreou prendendo o homem que, por anos, ditou o compasso do governo Lula e do PT: o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
— Quando era criança, pedia um pixulé pras pessoas. Depois, o apelido virou nome artístico. Pixulé, na Síria, quer dizer dinheiro, bufunfa, arame. O Pixulé verdadeiro é formado em Matemática, músico, pai de família e intérprete oficial do Império Serrano — tira onda o artista.
Se, em Madureira, Pixulé é um sucesso, em Brasília e São Paulo, a Operação Pixuleco fez tremer as bases da República. Segundo denúncia de Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, “pixuleco” era a gíria usada por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, para se referir à propina. De acordo com o professor e etimologista Deonísio da Silva, a palavra tem seu berço na cultura banto, da região do Congo e de Angola:
— Pixiloca é quem precisa de estímulo para fazer algo. A gorjeta é o pixuleco. E mostra como as pessoas corrompidas recorrem a linguajar de baixo calão. Pixuleco também é nome chulo para o pênis.
Segundo o professor de História Luiz Antônio Simas, várias palavras africanas se tornaram linguagem cifrada:
— Quando acaba a escravidão, o Código Civil torna a vadiagem crime. Uma série de atos ligados à vadiagem buscavam expressões cifradas.
O escritor e pesquisador Nei Lopes situa a origem de pixuleco no lunfardo, uma gíria portenha, do Prata argentino, que chegou no meio da prostituição. Pelo Diccionario Lunfardo, de José Gobello, pichulear é “obter proveito de algum pequeno negócio ou de trabalho miúdo”:
— O fim da escravidão deixou parte da população no limbo social. Se quem trabalha é escravo, não tenho emprego, vou me virar, usar a criatividade para sobreviver. É a gênese do malandro.
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