Jorge Picciani prevê queda de Dilma em três meses e critica política de Pezão
Numa
sala repleta de servidores e deputados estaduais, Jorge Picciani
(PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), sem meias
palavras, disse para quem quisesse ouvir: “O governo federal vai cair
nos próximos três meses”. A opinião foi dada por Picciani na
quarta-feira, durante a discussão do pacote econômico proposto pelo
governo estadual para congelar os salários dos servidores e elevar a
contribuição previdenciária do funcionalismo (11% para 14%).
A
proposta também começa a ser defendida pelo Palácio do Planalto, para
outras unidades da federação. O pacote estadual, segundo Picciani, é uma
contrapartida para a reavaliação das dívidas dos Estados com a União,
ideia que deverá tramitar na Câmara dos Deputados.
“Nós temos que
aguardar as coisas. Não podemos trabalhar sob hipóteses. Nós tínhamos
uma coisa concreta no projeto aqui (pacote do Executivo retirado
temporariamente da Alerj, pelo próprio governo, para ajustes). Se você
perguntar a minha opinião, o governo federal vai cair nos próximos três
meses. A crise vai aumentar aqui. Essa é uma opinião política. Não fui
eu que dei ela aqui”, disse o presidente da Alerj.
A previsão de
Picciani não foi o único comentário feito por ele a respeito das
políticas federal e estadual. Ao falar sobre o pacote econômico do
governador Luiz Fernando Pezão e de sua divisão em cinco partes,
proposta pelo Executivo, ele foi taxativo.
“Acho que, se mantidos
os vícios (do pacote), é de uma burrice cavalar (dividi-lo em partes).
Ele (Pezão) pode enfrentar cinco derrotas totais. Eu não faria isso, se
fosse governador. Era mais fácil negociar em algo mais amplo”, declarou.
Durante
a conversa, Picciani chamou o governo do Rio de “desbussolado”, termo
criado pelo deputado estadual Eliomar (PSOL). E completou:
“Com a
maior franqueza... Ele (Pezão) só retirou (o pacote) porque o (Edson)
Albertassi (líder do governo na Alerj) percebeu o desastre. O governo é
tão ruim, que ele iria manter (o pacote) e iria apanhar”.
Procurado, Picciani confirmou ter usado o termo “desbussolado”, mas desconversou sobre outros comentários.
Frases:
«
O presidente do TCE me ligou irritado com essa situação (mudança do
calendário dos servidores). O cara (Pezão) fez a reunião conosco e não
comunicou do adiamento. É uma questão que vai agravar a relação com os
outros poderes, mas vai agravar mais com o restante dos funcionários»
Jorge Picciani
Ao falar comentar que Pezão não comunicou a ninguém a mudança do calendário de pagamento dos servidores.
«É
de grande irresponsabilidade esse relatório (o vazamento). Em momento
de crise, a pior coisa que poderia ocorrer para o estado é criar
instabilidade. Questão de incentivo é questão nacional»
Jorge Picciani
Sobre o vazamento do relatório do Tribunal de Contas do Estado que apontou isenções de R$ 138 bilhões.
«
A questão dos fundos. É um equivoco o governador insistir nisso. A
constituição prevê o custeio do judiciário e do legislativo. Quando
temos o fundo, temos independência e agilidade. (...) A coisa (proposta)
tem que ser examinada com mais cuidado. O fundo da Alerj eu não vou
dar. Se der, vou analisar onde vou colocar»
Jorge Picciani
Criticando
a pretensão do Executivo de utilizar as sobras dos fundos da Alerj e do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). A medida está
no pacote econômico do governador.
« O parlamento não vai
participar (do grupo de técnicos para analisar o pacote econômico). Eu
estaria referendando um acordo em nome de 70 deputados. (...) disse que
não participaria e pedi desculpas»
Jorge Picciani
Sobre a
combinação feita entre Pezão, o TJ-RJ e o Ministério Público para
analisarem, juntos, o pacote econômico proposto pelo executivo.
Uma história de muitas polêmicas
Essa
não foi a primeira vez em que o presidente da Alerj disparou contra
aliados. Em fevereiro desse ano, Jorge Picciani criticou, em entrevista
ao jornal “O Globo”, o governo de Luiz Fernando Pezão. Ambos são do
PMDB.
— O governo é muito fraco de uma forma geral. Há um esforço
muito grande do secretário de Fazenda (Julio Bueno), que é um bom
quadro, mas é um governo fraco na sua essência, sem unidade e sem
direção — afirmou ele, na época, em comentário sobre a crise das
finanças do Estado do Rio.
Na mesma entrevista, Jorge Picciani se posicionou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff:
—
Se todo mundo que for mal avaliado for tirado do governo, eu acho que
hoje não fica nenhum governador, saem 4.900 dos cinco mil prefeitos.
No
entanto, o diretório fluminense do PMDB — que, até agora, era o
principal aliado do governo federal — começa a dar sinais de
distanciamento de Dilma. Picciani afirmou ao jornal “Estado de S. Paulo”
que vai defender a unidade em torno do vice-presidente Michel Temer, na
próxima convenção do partido, amanhã.
— Haverá propostas de
afastamento do governo, de independência, mas não estaremos nessa linha,
não vamos avançar por aí. Nossa proposta é fortalecer Temer e a unidade
partidária. As soluções se darão naturalmente dentro do processo
social. As soluções vão amadurecendo, e o que tiver que ocorrer vai
ocorrer — afirmou ele.
O documento que pede a independência do
partido em relação ao governo federal está sendo finalizado pelos
principais líderes peemedebistas, como o presidente do Senado, Renan
Calheiros (AL), e o senador Romero Jucá (RR). Ao mesmo tempo, a cúpula
do partido negocia com o PSDB em busca de soluções para uma eventual
queda da presidente.
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