PT e movimentos sociais já discutem como agir na oposição
por Ricardo Galhardo | Estadão Conteúdo
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
O PT e os movimentos sociais e sindicais contrários ao impeachment
não admitem publicamente que o afastamento da presidente Dilma Rousseff é
cada dia mais provável, mas já apontam o discurso para um possível
governo Michel Temer (PMDB). "Vai ser pior do que foi o segundo mandato
de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). O povo não vai aceitar
retrocesso em direitos conquistados, como propõe o programa do PMDB",
disse Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP). Um dos
pontos do discurso anti-Temer é o programa "Uma Ponte para o Futuro",
apresentado pelo PMDB no ano passado, que propõe desvinculação de
receitas orçamentárias da educação e saúde, mudanças na Previdência
Social, entre outras medidas que desagradam a base petista. O presidente
do PT, Rui Falcão, disse na quinta-feira, que uma eventual gestão Temer
não trará de volta a estabilidade política. "Eles (movimentos sociais)
vão à rua dizendo que não haverá estabilidade com o impeachment,
estabilidade se faz com paz, com a possibilidade de o povo se organizar
livremente e poder chegar às eleições de 2018 que é a data legítima para
quem quer assumir o poder", afirmou o dirigente petista. Líderes de
movimentos que defendem a manutenção de Dilma, como o Movimento dos Sem
Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e CMP, também
afirmaram nos últimos dias que vão para as ruas caso o peemedebista
assuma o governo. Guilherme Boulos, do MTST, deixou claro, também na
quinta-feira, que "vai ter resistência" nas ruas caso o impeachment seja
aprovado. Gilmar Mauro, do MST, afirmou na sexta-feira passada que
Temer "não terá um dia se sossego" se assumir a Presidência da
República. Na quinta-feira passada, a própria Dilma disse a
correspondentes estrangeiros que o impeachment deixaria "cicatrizes" na
democracia. Além disso, os aliados de Dilma apostam na continuidade das
investigações da Operação Lava Jato contra líderes importantes do PMDB,
no processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer que corre no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na continuidade da crise econômica e
nas divisões internas da oposição como fatores de desestabilização de um
possível governo encabeçado pelo vice-presidente. Por enquanto, o
discurso de desestabilização de um eventual governo Temer é mais uma
peça no discurso de defesa petista. Nem o PT nem os movimentos
contrários ao impeachment admitem publicamente que estejam traçando
cenários diante da possibilidade de afastamento da presidente mas os
acontecimentos dos últimos dias, em especial o anúncio de que o PMDB do
Rio de Janeiro vai desembarcar do governo, provocaram desânimo entre os
defensores de Dilma. Em conversas reservadas líderes petistas admitem
que o impeachment é hoje o desfecho mais provável para a crise
política. Por outro lado, os movimentos que arrastaram multidões às ruas
no dia 13 de março contra o PT admitem um arrefecimento das
manifestações. "Não sei se a gente consegue viabilizar um grande
protesto. Não é uma questão dos movimentos, é do brasileiro. A gente não
sabe se o brasileiro vai se interessar por uma pauta contra o PMDB
pós-impeachment", disse Carla Zambelli, do movimento Nas Ruas.
Nenhum comentário