PF lista viagens de familiares de Lula ao Panamá
por Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso | Estadão Conteúdo
Foto: Divulgação
Um relatório da Polícia Federal da investigação que tem como alvo o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destaca viagens feitas por
familiares do petista ao Panamá. O país é um dos destinos de
investigados pela Operação Lava Jato para a abertura de empresas
offshores - que foram usadas para movimentação de propina em contas
secretas no exterior. O Relatório de Análise 769, da PF, apresenta dados
de familiares de Lula, seus irmãos José Ferreira da Silva, o Frei
Chico, e Genival Ignácio da Silva, o Vavá, e o sobrinho Taiguara
Rodrigues dos Santos. O documento inclui "os vínculos societários dos
mesmos e seus familiares, bem como, outras informações relevantes".
Entre essas informações, as viagens internacionais dos alvos desde 2007,
com base em dados extraídos do Sistema Nacional de Tráfego
Internacional. Uma das viagens ao Panamá destacadas pela PF é a de Fábio
Luís Lula da Silva, o Lulinha, em novembro de 2014. No mesmo voo
estavam Fernando Bittar, sócio e dono, na escritura, do sítio Santa
Bárbara, em Atibaia (SP), que a força-tarefa diz ser do ex-presidente, e
o primo Taiguara. Fernando Bittar é sócio, com o irmão Khalil Bittar,
de Lulinha na G4 Entretenimento e Tecnologia Digital, Gamecorp e BR4
Participações. O relatório não imputa crimes aos investigados, mas a
Lava Jato suspeita que a família Bittar e até mesmo familiares de Lula
possam ter servido para ocultar bens e patrimônio do petista. A defesa
do ex-presidente nega que Lula seja dono do sítio em Atibaia. Segundo
ele, o imóvel foi comprado em 2010 pelo amigo Jacó Bittar, ex-prefeito
de Campinas pelo PT, e colocado em nome do filho Fernando. Ontem, por
meio da assessoria de imprensa do Instituto Lula, ele atacou o relatório
que analisou viagens internacionais da família. "Esse relatório, e seu
vazamento para a imprensa, é só mais uma amostra do grau de obsessão da
Operação Lava Jato em perseguir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, mesmo sem haver nenhum indício de qualquer crime cometido pelo
ex-presidente ou de qualquer relação destas pretensas investigações
sobre sua família com os desvios da Petrobrás que são a razão de ser da
Operação", diz o instituto. "Não faz nenhum sentido a perda de tempo de
funcionários do Estado e de recursos públicos listando viagens ao
exterior de familiares do ex-presidente que não exercem cargos públicos
nem estão sendo acusados de qualquer crime". Fernando Bittar viajou
para fora do País seis vezes com Lulinha, segundo o documento da PF. O
relatório não aponta o destino final das viagens. O levantamento foi
feito, no entanto, porque alguns dos alvos da Lava Jato usaram o Panamá
para abertura de offshores. Alguns nomes ligados ao PT, como o
ex-ministro José Dirceu e a cunhada do ex-tesoureiro petista João
Vaccari Neto apareceram com elos no país. No caso de Lulinha, a PF
analisou suas viagens entre 23 de setembro de 2007 e 7 de novembro de
2014. O documento, assinado pelo delegado Márcio Anselmo, registra que,
considerando o período e voos, "foi realizada pesquisa visando
identificar as pessoas que, com maior frequência viajaram nos mesmos
voos tomados por Fábio Luís Lula da Silva, desconsiderando-se aqueles
com uma única viagem (trecho) em comum". Ressaltam ainda que "o mero
fato de viajarem nos mesmo voos, por si só não tem condão de estabelecer
vinculo entre tais pessoas, carecendo para tal de uma análise mais
aprofundada, podendo caracterizar mera coincidência". Outro filho de
Lula, Luís Cláudio Lula da Silva, também teve suas viagens
internacionais analisadas. Ele foi ao Panamá em janeiro de 2015. Luís
Cláudio é investigado pelo MPF e pela PF na Operação Zelotes. Por meio
de suas empresas, a LFT Marketing Esportivo e a Touchdown Promoção e
Eventos Esportivos, ele é suspeito de recebimentos de empresas em um
esquema de suposta venda de medidas provisórias no governo. Fernando
Bittar, por meio do criminalista Alberto Zacharias Toron, seu defensor
no inquérito sobre o sítio em Atibaia, afirma desconhecer o conteúdo do
relatório da PF e que não comentaria o assunto. Os irmãos e o sobrinho
de Lula não foram localizados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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