Lula diz que diretores de seu instituto podem ter pedido doações a empresas investigadas pela Lava-Jato
CURITIBA - Em depoimento à Polícia Federal no último dia 4, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula negou ter procurado
qualquer empresa envolvida na Lava-Jato para pedir doações ao Instituto
Lula, mas admitiu que funcionários do instituto, como Paulo Okamotto e
Clara Ant, podem ter pedido dinheiro “a todas” as empresas. O
ex-presidente disse que será candidato à Presidência da República em
2018. Ao ser perguntando se tinha conhecimento que o ex-tesoureiro do PT
João Vaccari Neto recebia valores ilegais, Lula respondeu que não e
afirmou que, desde o Mensalão, “em que as pessoas são condenadas antes
de serem julgadas”. Na opinião de Lula, estão tentando fazer o mesmo com
ele.
— É o que estão tentando fazer comigo agora, só
que o que estão tentando fazer comigo vai fazer com que eu mude de
posição, eu que estou velhinho, estava querendo descansar, vou ser
candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez
desaforo pra mim, vai aguentar desaforo daqui pra frente. Vão ter que
ter coragem de me tornar inelegível — afirmou Lula, já perto de terminar
seu depoimento.
O delegado insitiu em uma pergunta sobre o
Vaccari e disse que se o ex-presidente não tinha conhecimento sobre
crimes atribuídos a Vaccari ele respeitaria, embora não fosse a tese em
que ele acredita. Lula respondeu:
— Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas. Alguém fale: ‘Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano’.
Lula
disse ainda, quando indagado sobre doações de campanha, que “um
Presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha,
se ele quiser ser presidente de fato e de direito ele não discute
dinheiro de campanha”. Lula também foi questionado sobre a suposta compra de um tríplex do Guarujá, que recebeu reformas da OAS,
uma das empreiteiras investigadas pela operação. Ele afirmou que se
trata de uma "sacanagem homérica" inventada pela Polícia Federal e pela
imprensa.
O petista foi levado a depor coercitivamente na 24ª fase
da Operação Lava-Jato. A força-tarefa suspeita que Lula era um dos
beneficiários dos crimes na Petrobras. Leia aqui a íntegra do depoimento.
Indagado pelo delegado se procurou alguma empresa, Lula disse:
—
Não, porque não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que
estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a
ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas.
Mas o
ex-presidente não descartou que assessores seus possam ter mantido
alguma relação com essas empresas. Lula afirmou que não conhece “ninguém
que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro” e que, se
precisa de recursos para fazer um projeto, "tem que pedir". No
depoimento, colhido no Aeroporto de Congonhas, o ex-presidente ficou
irritado, ao ser questionado sobre as doações ao Instituto Lula.
O
delegado da PF pergunta se é comum as empresas procurarem
espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações. Lula responde
que não:
- Não. Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém
espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo,
se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira
as costas e não dá o dinheiro, então dinheiro você tem que pedir, você
tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas
que você vai fazer. Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa
normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja,
não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação,
aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas
equivocadas.
Por mais de uma vez, o ex-presidente respondeu
rispidamente as perguntas dos agentes da Polícia Federal. Um dos
momentos que mais incomodou o ex-presidente foi quando questionado sobre
quem era o responsável dentro do Instituto Lula por fazer o
recolhimento das doações.
Mais adiante, Lula continua a responder a perguntas sobre o instituto.
Lula
interrompeu o interrogatório para ir tomar café e chegou a bater com os
papéis à mesa de acordo com relatos de agentes que participaram do
depoimento. (*enviado especial)
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