PMDB rompe com governo e Planalto tenta atrair dissidentes
BRASÍLIA
- Com o processo de impeachment caminhando a todo vapor na Câmara, o
PMDB, maior partido da base aliada, formaliza nesta terça-feira o
desembarque do governo em reunião do Diretório Nacional, mas se divide a
respeito das centenas de cargos ocupados em todos os escalões da
República. Ciente da iminente derrota, o Palácio do Planalto trabalha
para angariar votos entre os dissidentes, em especial os agora seis
ministros do PMDB (Henrique Eduardo Alves, do Turismo, pediu demissão
ontem), e evitar um rompimento unânime que signifique um completo
descolamento do governo e dificulte ainda mais a busca de votos contra o
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Nesta segunda-feira, o dia foi intenso em reuniões de ambos os lados. As
articulações do vice-presidente Michel Temer, que é presidente do PMDB,
foram no sentido de conseguir um desembarque sem resistências na
reunião do Diretório Nacional. Para evitar constrangimentos, a decisão
foi que os contrários ao rompimento imediato, como os ministros, o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e alguns parlamentares,
não comparecerão ao evento de hoje. Nem Temer estará presente. Segundo
pessoas próximas a ele, o objetivo é ele não ficar carimbado de “capitão
do rompimento”.
VOTO POR ACLAMAÇÃO
O
vice-presidente orientou os dirigentes do PMDB a procederem a uma
votação rápida, que apenas aprove o desembarque por aclamação, sem
entrar em especificidades como prazos para que os ministros deixem os
cargos. Isso significa que o partido ficará “rompido” com o governo, mas
mantendo os cargos que o Planalto deixar. Ainda assim, como gesto de
fidelidade a Temer, Henrique Eduardo Alves decidiu ontem pedir demissão
do Ministério do Turismo. A maioria dos ministros, no entanto, não deve
acompanhar Henrique Alves neste momento.
Na prática, o desembarque
é uma separação entre os aliados que resultará numa posição ainda mais
crítica do PMDB na Câmara, em meio ao processo de impeachment. O
diretório não decidirá sobre o afastamento de Dilma do cargo, mas,
objetivamente, deixará os parlamentares liberados para votarem como
quiserem, sem que estejam sujeitos a pressões do Planalto em razão dos
cargos que o partido ocupa.
— Temer não quer criar problemas para
ninguém. Os mais radicais insistem nesse prazo até o dia 12 de abril
para os ministros deixarem os cargos, mas sentimos Temer trabalhando
para que não haja constrangimentos — afirmou um ministro que esteve
ontem com o vice-presidente.
Temer também se encontrou ontem com o
presidente do Senado, Renan Calheiros, e o líder do PMDB na Casa,
Eunício Oliveira, e expôs sua posição. Renan era o mais refratário à
saída do governo.
O vice-presidente recebeu ainda ministros que
resistem em deixar o governo, como o de Minas e Energia, Eduardo Braga, e
o de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera. Ambos ouviram de Temer que
não há mais o que fazer para mudar a posição do PMDB, mas que não há
intenção de criar problemas para quem quiser permanecer no governo. Para
Temer, a partir de amanhã, os ministros que ficarem em seus cargos o
farão por iniciativa própria.
É justamente nesta brecha que o
Planalto aposta para evitar uma debandada geral do partido. O Planalto
quer garantir sua base de apoio no Congresso com urgência e irá
acompanhar os desdobramentos do processo de impeachment para mexer no
tabuleiro ministerial. Ontem, a presidente Dilma afirmou aos ministros
do PMDB que são bem-vindos a permanecer no governo, mesmo com o
desembarque do partido. O Planalto avalia que o PMDB fora do governo não
significa que todos os votos da sigla estarão a favor do impeachment.
LULA ENCONTROU TEMER
O ex-presidente Lula estará na linha de frente destas negociações com os dissidentes do PMDB e de outros partidos da base aliada.
Nesta segunda, Lula desembarcou em Brasília para acompanhar de perto as
movimentações. No domingo, após semanas sendo evitado pelo
vice-presidente, Lula conseguiu um encontro com Temer em São Paulo.
Segundo relatos de peemedebistas, Temer traçou um panorama da situação
interna do PMDB, cujo clima para a reunião do diretório nacional é pelo
rompimento, e disse ao ex-presidente que não há mais condições de
reverter o quadro. Lula perguntou sobre a possibilidade de adiamento da
reunião do Diretório Nacional, mas Temer disse que o resultado
pró-rompimento já estava consolidado e que não seria mais possível
“segurar o partido”.
Uma amostra dessa impossibilidade foi a
decisão de ontem do diretório do PMDB de Minas Gerais de romper com o
governo Dilma, a exemplo do que já fizera o diretório do Rio.
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