Governo e Cunha trocam farpas por ‘mentiras’ sobre barganha política
BRASÍLIA — Logo após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
atacar a presidente Dilma Rousseff e acusá-la de mentir à nação ao
dizer, durante pronunciamento, que não fez barganha sobre o caso dele no
Conselho de Ética, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner,
retrucou o peemedebista ao afirmar que quem mentiu sobre fazer barganha
política foi Cunha.
Mais cedo, Cunha afirmou que Dilma chamou o
deputado André Moura (PSC-SE) para propor que deputados do PT votassem a
favor dele em troca da aprovação da CPMF. Ele disse que antes da
decisão da bancada do PT, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) levou
Moura ao gabinete de Dilma para que a proposta fosse feita.
—
A presidente mentiu à nação no seu pronunciamento. Ontem pela manhã o
deputado André Moura esteve com o ministro Jaques Wagner e ele o levou
ao gabinete da presidente da República. Ela esteve com Moura barganhando
pela CPMF. Me recusei a aceitar. A presidente mentiu, era uma
negociação à minha revelia. Foi claramente colocado por ela — acusou
Cunha.
Jaques Wagner, também em pronunciamento, disse que Cunha mente ao falar sobre barganha em troca de votação
-
O presidente da Câmara mentiu porque ele afirmou que ontem o André
Moura foi levado por mim à presidente da República", afirmou Wagner.
Questionado
sobre o fato de Moura ser um dos seus principais aliados, Cunha disse
que não é responsável pelos atos de seus simpatizantes. Segundo Cunha, a
presidente mentiu a acusá-lo de tentar barganhar. Ele disse que várias
propostas de negociação foram feitas pelo governo.
— Só a minha
negociação é barganha? Acho engraçado. Esse é um governo habituado a
barganhar. Mas comigo (não negociaram), não participo de negociação.
Ontem,
os deputados petitas anunciaram que votariam contra Cunha no Conselho
de Ética da Câmara. Logo depois, Cunha anunciou que aceitava o pedido de
afastamento contra a presidente.
Nesta manhã, a presidente Dilma
se reuniu com ministros e o vice-presidente Michel Temer para discutir o
impeachment, cujo pedido será lido ainda nesta quinta-feira pelo
presidente da Câmara. O encontro com o vice se deu reservadamente e se
estendeu por uma longa parte da manhã. Segundo um interlocutor de Dilma,
Temer se comprometeu em apoiá-la em sua defesa. Ele também teria dito
que defenderá, junto com ela, a legalidade e estabilidade institucional
do país. Temer viajou para São Paulo em seguida.
Dilma também se
encontrou com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e
Jaques Wagner (Casa Civil). Berzoini reúne no Planalto os líderes
aliados na Câmara e no Senado. Dilma não participa.
CMO APROVOU CPMF
Na
terça-feira, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou a inclusão da
CPMF como fonte de receita em 2016 a partir de setembro, com arrecadação
líquida (o que o governo pode utilizar) de R$ 10,15 bilhões, já
descontado o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), que será
reduzido. A arrecadação bruta será de R$ 12,7 bilhões. O destaque para
garantir a CPMF como fonte de receita foi aprovado mesmo com posição
contrária do relator de receitas de 2016, senador Acir Gurgacz (PDT-RO),
que excluiu o chamado imposto do cheque do seu parecer oficial,
analisado na sessão de terça-feira.
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