'Foi caixa 2 mesmo, excelência', diz marqueteira a Sérgio Moro
por Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo | Estadão Conteúdo
Foto: Cíntia Reis / Divulgação
Diante do juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, a
empresária Mônica Moura - mulher e sócia do publicitário João Santana,
marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma - confessou que US$ 4,5
milhões recebidos do operador de propinas Zwi Scornicki em conta no
exterior eram referentes "a uma dívida de campanha que o PT ficou
devendo prá gente na campanha de 2010". Ela afirmou que o então
tesoureiro do PT João Vaccari Neto orientou-a a procurar Zwi. "Primeira
campanha da presidente Dilma. Ficou uma dívida de quase 10 milhões de
reais que não foi paga, demorou, foi protelada, eu cobrei muito, tinha
muitas dívidas de campanha, se tentou resolver de várias formas. Enfim,
depois de muita luta tive uma conversa com o Vaccari que acertava os
pagamentos de campanha. Ele mandou procurar um empresário. Assim eu
cheguei no sr. Zwi. O Vaccari me deu o contato dele, fui a um escritório
dele no Rio. Fui acertar com ele a forma de pagamento." O juiz Moro
questionou a mulher de João Santana se "foi tratado de onde vinha o
dinheiro". "Não, não", ela respondeu. A sra não perguntou a Vaccari ou a
Zwi?, insistiu o juiz. "Não, não. Estava recebendo pelo meu trabalho.
Só perguntei ao Vaccari "como vai ser feito isso". Ele disse "olha, vai
ter que parcelar, vai conversar com ele (Zwi) que já está tudo
acertado." Ela admitiu que não registrou o pagamento parcelado na
Justiça Eleitoral. "Não, foi caixa 2 mesmo excelência. Não foi
declarado."O juiz perguntou à ré por que não confessou logo que foi
presa em fevereiro e depôs na Polícia Federal. "Primeiro, porque eu
passava por uma situação extrema. E o País estava vivendo um momento
muito grave política e institucionalmente. As coisas acontecendo com a
presidente Dilma, todo o processo, eu não quis atrapalhar esse processo,
eu não quis incriminar, não queria contribuir com uma coisa para
piorar. Acabei falando que (recebeu) de campanha no exterior. Eu queria
apenas poupar (Dilma) de piorar a situação. Eu quis apenas não piorar a
situação." O juiz indagou a Mônica se ela não tinha receio de receber
propinas do esquema Petrobras. "Nunca pensei nisso, nunca me passou pela
cabeça. Eu estava recebendo remuneração pelo meu trabalho, usando uma
conta não declarada no exterior. O receio que eu tinha, óbvio, é que
estava usando uma conta não declarada no exterior. Sempre tive muito
receio disso, mas, infelizmente, no meu trabalho, na minha atividade,
isso acontece sempre. Faz parte dos trabalhos da campanha política.
Sempre são pagamentos em caixa 2, uma prática que acontece." Laudo da
Polícia Federal indica que a empresa do casal (Pólis Propaganda) recebeu
R$ 170 milhões do PT, entre 2006 e 2014. "São valores expressivos", ela
reconheceu. "Fazer TV, campanha no Brasil, é muito caro. Isso (R$ 170
milhões) se refere a campanhas", detalhou. Moro perguntou o motivo de
não ter incluído os US$ 4,5 milhões recebidos de Zwi Scornicki na
contabilidade da agência Pólis Propaganda. "Os partidos não aceitam,
sempre tentei para ficar mais tranquila, não tinha que correr riscos,
fazer esse malabarismo de empresário doador de campanha, mas o partido
não aceita porque tem o teto, vai extrapolar o teto limite que tem no
Tribunal Superior Eleitoral. Os partidos não querem declarar o real
valor que recebem das empresas. Em contrapartida nós profissionais
ficamos no meio disso. Portanto, nunca era declarado todo o valor. Não
era uma opção minha, era uma prática, não só do PT, em todos os
partidos", alegou. Moro questionou a mulher de João Santana se ela não
considera "uma trapaça a banalização do caixa 2". "Eu queria receber
esses valores o mais rápido possível, mas o Vaccari já havia me
informado que ia parcelar, não tinha como pagar de uma vez. Eu queria. O
(Vaccari) disse que (Zwi) era um grande empresário, uma pessoa honesta,
decente, que colaborava com o partido e que iria pagar essa dívida
nossa. Mas eu nunca pensei em dinheiro sujo", justificou.
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