‘Liberdade’ mostra que problemas da sociedade da época passada persistem em 2016
Pouco
mais de duzentos anos separam o Brasil colônia retratado em “Liberdade,
liberdade” do país que conhecemos hoje. Conquistamos a independência,
vimos o fim da escravidão, o acesso das mulheres ao voto... Avanços que
não podem ser ignorados. Por outro lado, a sensação é de que, em alguns
aspectos, continuamos parados no tempo. Dois homens se amando ainda é
algo que choca a sociedade. Como naquela época, negros hoje sofrem
preconceito. E no cenário político, a crise de valores atual tem cara de
antigamente. A obra de Mario Teixeira deixa claro que é preciso
evoluir, que a luta por igualdade é justa, e que a intolerância é um
obstáculo para o desenvolvimento.
— Na trama, estamos falando de
temas que aconteceram há 200 anos. E parece que as coisas continuam
iguais. A novela serve para o público refletir sobre o que acontecia lá
atrás e comparar com o hoje — valoriza Bruno Ferrari, que vive Xavier na
história.
Mateus Solano, o vilão Rubião, é ainda mais enfático:
— Estamos falando de um Brasil doente, e a gente ainda vive num Brasil doente.
As semelhanças entre vida real e ficção são destacas pelo autor.
—
“Liberdade” não é baseada na realidade, é produto de um sonho. Mas é
claro que existem ressonâncias com a vida. É inevitável. E o horário
permite falar tudo.
HOMOFOBIA
Na
época em que a novela das 11 é retratada, a relação entre pessoas do
mesmo sexo era considerada crime. Aqueles considerados culpados eram
condenados à pena de morte. Nos dias de hoje, as manchetes de jornais
mostram gays espancados e assassinados, frutos da intolerância e do
ódio.“Era uma realidade truculenta. Apesar de tanto tempo, pessoas ainda
morrem por isso”, lamenta o autor Mario Teixeira.
CRISE POLÍTICA
Já
no início da história, Rubião (Mateus Solano) decide criar um novo
imposto para conseguir recursos para a Coroa portuguesa. Com pouco
dinheiro, mas com poder para mandar e desmandar em Vila Rica, o
intendente decide que o povo é que vai pagar a conta. No Brasil atual e
em plena crise econômica, políticos continuam utilizando o mesmo
artifício, como pretende fazer o presidente em exercício, Michel Temer,
para diminuir nosso déficit orçamentário. “O bacana da novela é você dar
uma chacoalhada em quem está assistindo para o público refletir: ‘Já
era assim lá atrás?’. E ainda é”, fala Mateus Solano sobre os temas.
RACISMO
Mario
Teixeira mostra como os negros eram tratados há dois séculos.
Escravizados, eles sofriam preconceito e não tinham voz na sociedade.
Bertoleza, papel de Sheron Menezzes, retrata bem essa situação. Em 2016,
128 anos após a abolição da escravidão, ainda vemos o racimo ter espaço
no dia a dia. Em dezembro passado, a própria Sheron sofreu ataques via
redes sociais, problema enfrentado por outras personalidades negras.
DELAÇÃO PREMIADA
Com
a operação Lava Jato marcando presença no noticiário diário, o termo
delação premiada caiu na boca do povo. Políticos envolvidos em
escândalos têm feito acordos para diminuir suas penas, e até responder
em liberdade a processos, caso do senador Delcídio Amaral. Na ficção,
Rubião (Mateus Solano) entregou Tiradentes (Thiago Lacerda) como
idealizador da revolução e foi libertado. Ele, que também integrava o
movimento, ainda virou intendente da Coroa portuguesa.
FEMINISMO
Em
“Liberdade”, Joaquina/Rosa (Andreia Horta) rompe com os padrões
impostos pela sociedade e se mostra à frente de seu tempo. Ela arregaça
as mangas e vai à luta. A filha de Tiradentes, inclusive, decide lutar
pela causa de seu pai. Nos dias de hoje, mulheres continuam lutando pela
igualdade de direitos entre os sexos e os movimentos feministas ganham
cada vez mais força.
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