Justiça aplica Lei Maria da Penha em caso de transexual agredida por ex
Foto: Divulgação / Love Yuna Org
O Tribunal de Justiça do Estado do Acre (TJ-AC) aplicou na última
segunda (25) medidas protetivas previstas pela Lei Maria da Penha em um
caso de violência doméstica contra uma transexual. A decisão feita pela
Justiça acreana é inédita. A microempreendedora Bhrunna Rubby Rodrigues,
de 29 anos, foi agredida com um cabo de vassoura pelo ex-namorado, de
18 anos, após ter o questionado acerca de uma suposta mentira e ter
declarado a separação. Após a agressão, a mulher levou oito pontos na
cabeça e ficou com escoriações por todo o corpo. O pedido de
enquadramento na Lei Maria da Penha foi do advogado Charles Brasil, que é
presidente da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) no Acre. “Entendemos que essa relação entre uma transexual
e seu namorado se configura como violência contra a mulher no âmbito
doméstico e familiar”, explica Brasil. O juiz Daniel Bonfim, da Vara de
Proteção à Mulher, determinou que o ex-namorado se mantenha a uma
distância mínima de 200 metros dela, além de não poder entrar em contato
com a vítima, a família e com as testemunhas do crime. Caso ele
descumpra a decisão, a prisão pode ser decretada. Antes de ser
enquadrado na Maria da Penha, o caso havia sido tratado apenas como
agressão, o que permitiu que o agressor respondesse em liberdade. Para o
advogado de Bhrunna, o inovador do caso é que o juiz considerou a
orientação sexual e a viu como mulher, independente do sexo biológico.
“É a valorização da mulher pela identidade de gênero”, afirmou. O
advogado relatou, ainda, que até agora, a Justiça de apenas outro quatro
estados registraram casos parecidos. “O Acre é o segundo em que a
decisão, que preserva os valores fundamentais da dignidade da pessoa, é
aplicada por um juiz de primeiro grau”, enfatiza. Mesmo ainda se
recuperando dos ferimentos, Bhrunna afirmou ao G1 que ficou satisfeita
com a decisão. “Foi uma conquista que veio de forma dolorida, mas
satisfatória. Ainda temos casos de não sensibilização quanto ao caso e o
responsável acaba colocando como uma simples ocorrência", conta.
Bhrunna Ruby (Foto: Reprodução / Arquivo pessoal)
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