Acordo que levou à renúncia teve aval de Temer e PMDB
BRASÍLIA — O acordo que possibilitou a renúncia do deputado afastado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara consistiu na promessa de
lhe dar uma sobrevida com a devolução de seu processo ao Conselho de
Ética. Em uma articulação que contou com o aval do presidente interino,
Michel Temer, e da qual participaram o presidente da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), Osmar Serraglio (PMDB-PR), além de outros
parlamentares do PMDB e de partidos da base, ficou decidido que, em
troca da renúncia, o processo de cassação do mandato seria devolvido, de
ofício, ao conselho.
O acordo foi fechado na noite de
quarta-feira. Logo após anunciar sua renúncia, no início da tarde de
ontem, Cunha se dirigiu à CCJ, onde protocolou um aditamento pedindo que
seu processo seja devolvido ao Conselho de Ética, com o argumento de
que seu julgamento no colegiado ocorreu levando em conta que ele
presidia a Câmara, situação que agora mudou. O ofício será encaminhado
ao relator do processo de Cunha na CCJ, deputado Ronaldo Fonseca
(PROS-DF), que, de acordo com a negociação, daria parecer favorável ao
pedido. Em seguida, Serraglio daria despacho favorável à devolução do
processo.
Após
receber o ofício de Cunha, Serraglio cancelou a sessão da CCJ da
próxima segunda-feira. Com isto, as chances de votação do processo de
cassação de Cunha antes do recesso parlamentar se tornaram praticamente
nulas.
— Cancelei para que não haja nenhuma nulidade — alegou Serraglio.
Por
meio de assessoria, o Palácio do Planalto negou “terminantemente”
qualquer interferência na articulação pela renúncia de Cunha. Na
terça-feira, O GLOBO mostrou que Temer aconselhou Cunha a renunciar ao
cargo.
Para os participantes da articulação, está claro que a
manobra não salvará Cunha da cassação do mandato, mas lhe dará uma
sobrevida para trabalhar sua defesa no Supremo Tribunal Federal e
negociar uma saída para sua mulher, Cláudia Cruz, também ré na
Lava-Jato, e sua filha Danielle Dytz, investigada na operação. Há uma
forte preocupação, tanto no Planalto, quanto entre os parlamentares, com
a possibilidade de Cunha tomar “atitudes desesperadas” para proteger
sua família.
— Sabemos que haverá reação contrária a esta
articulação, mas é preciso calcular o custo-benefício. Ele renunciou,
que é o que todos desejavam, e ganhará um tempo para trabalhar em sua
defesa. Sabe-se lá que reações pode ter um animal que está encurralado.
Acaba sobrando para todo mundo – afirmou ao GLOBO uma fonte a par das
negociações.
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